A conversa com José Vala, treinador do Caldas Sport Clube não podia ser noutro local. Nada mais, nada menos que no Campo da Mata, estádio onde o clube centenário (1916-2016) joga desde 1927, segundo rezam as crónicas.

No relvado do mini-Jamor, como lhe chamam, mora o sonho desta equipa totalmente amadora. Os jogadores são estudantes universitários, professores, operários, “patrões”, trabalham com os pais, em bombas de combustível, supermercados ou no hospital. José Vala, ele mesmo professor de educação física no Carregado (a 50 quilómetros das Caldas da Rainha), onde poucos, até à data, o reconheciam, discorre sobre o que vai na alma e no pensamento do grupo que lidera. “Andamos sempre à procura deste tipo emoções...uma subida de divisão ou uma caminhada na Taça”, diz.

A equipa, repetimos, totalmente amadora e a disputar a série D Campeonato de Portugal, está a dois jogos de distância de pisar o Jamor (final da Taça de Portugal) e, por inerência, de uma eventual e inédita presença na Liga Europa 2018-2019.

Vala não faz do tema uma questão de vida ou de morte, porque como diz, “nada disto valerá a pena” se não concretizarem o objetivo principal que é a “manutenção”. Mas reconhece que o “Caldas”, conhecidos como os “águas mornas” está a “escrever uma história bonita...encantada”.

Um email do presidente a todo o plantel sensibilizou-o “embora não tivesse recebido”, desvenda entre sorrisos.

Para o jogo de 28 de fevereiro, 1ª mão da meia-final da Taça de Portugal, na deslocação à Vila das Aves, tal como nas Caldas da Rainha, José Vala terá que recorrer ao artigo 102 e pedir autorização ao diretor da escola para se sentar no banco de suplentes. Os jogadores, muitos, vão tirar o dia de férias. A cidade também: irá ao norte em peso, com 17 autocarros pintados de preto e branco. Depois, na Mata, bom, “Ninguém passa na Mata”, canta, enquanto desvenda o grito de guerra no balneário.

José Vala tem vivido muito mais que 15 minutos de fama. Discreto, sorridente e muito racional transmite a parte racional aos jogadores. O lado mais emocional fica a cargo do capitão de equipa, admite, definindo-se como alguém que tem proximidade com os jogadores.

Com um passado ligado ao Caldas Sport Clube, recorda Jaime Graça, primeiro treinador nos seniores que lhe ensinou a “pôr a bola a rolar para trás”, Francisco Barão, que definiu como “um líder”, Gila e Luís Brás. E recorda uma expulsão, em pelo campo da Mata, cujo árbitro desse dia foi João Ferreira, que está hoje fora do ativo e que deu à equipa uma formação de VAR (videoárbitro).

Carlos Carvalhal é o seu modelo de treinador. E diz que era bem capaz de se habituar a ser profissional de futebol. Sonha, mas não fica sem sono por causa disso.