A morte de Carlos Alberto Silva chegou-me por telefone na passada sexta-feira, pouco depois de a notícia se começar a propagar pelo mundo a fora. Senti um baque, engoli em seco, e a minha cabeça viajou a um passado recente: três anos antes em Belo Horizonte.

Era aí que estava em 2013, na capital do Estado de Minas Gerais para entrevistar Carlos Alberto Silva. Não vivi conscientemente o seu tempo áureo no FC Porto - nessa altura, com cinco ou seis anos de idade, o futebol da televisão pouco me interessava, concentrava-me nos duelos a valer no recreio da escola primária - mas sabia da sua relevância, e preparei-me para o entrevistar com recurso a arquivos e a histórias contadas de outros tempos.

Recebeu-me com um sorriso e tratou-me como se fosse visita de casa, daquelas que vão mas voltam sempre. Não porque nos conhecêssemos, mas simplesmente porque era português. Falar de Portugal para ele, era falar de momentos felizes. Depressa deixou claro que naquela casa se respirava Porto, e as memórias pregadas na parede do seu escritório comprovaram-no.

Em lugar de destaque, a um canto na sua secretária estava um dragão, que recebeu por ter sido considerado treinador do ano pelas suas conquistas por cá. Era mais do que um troféu para ele, era um conselheiro como chegou a confessar-me. Quando a vida lhe dava que pensar, era ali que se refugiava e conversava com o seu dragão que o chamava à razão quando esta não estava do seu lado.

Desfiou memórias atrás de memórias nesta nossa conversa. Falou da paixão dos portistas, e do famoso Lourenço trompetista que o emocionava por tocar em todos os jogos a música 'Meu Brasil brasileiro' , falou do inverno portuense e daquele “frio que fazia as pedras chorarem”.

Prometeu nesse dia voltar a Portugal, porque era grato e porque tinha saudades. Não chegou a voltar. Achava que teria tempo para o fazer mas a vida não lhe deu tempo para isso. Ele partiu, mas ficou o seu legado, porque, como disse Pinto da Costa: “Carlos Alberto Silva ganhou por mérito próprio um lugar na história do FC Porto”.

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