No segundo dia das Football Talks, David Elleray apresentou no Estoril o futuro da arbitragem, anos em que a tecnologia e as decisões trabalharão lado a lado por um futebol mais justo. No terceiro e último dia da conferência organizada pela Federação Portuguesa de Futebol, a palavra foi dada ao presidente do Comité de Árbitros da FIFA, Pierluigi Collina.

O antigo juiz italiano sublinhou o atual papel do árbitro dizendo que é este “quem toma a decisão” e destacando o seu contributo. “Os árbitros prestam um serviço ao futebol, tornam-no mais justo. Este serviço tem de ser adequado ao standart do futebol atual. Hoje em dia, os objetivos da arbitragem são os de colocar o nível dos árbitros o mais elevado possível e, como consequência, diminuir ao máximo o número de erros durante o jogo”.

Mas há algo de que não se pode fugir: a tecnologia. Os meios tecnológicos rodeiam-nos cada vez mais, e o futebol não foge desta realidade, nem pode. “Não conseguimos competir contra a tecnologia que está em todo o lado. Vivemos com ela e por isso uso tem que ser importante”, disse Collina.

O exemplo dado não podia ser mais elucidativo. “Em 2012, no Euro [realizado na Polónia e Ucrânia], houve algumas críticas sobre os árbitros, porque causa da bola”. Em causa está num golo que não foi atribuído, e que nas repetições posteriores se verificou que deveria ter sido validado porque a bola tinha ultrapassado a linha de golo por 2,2 centímetros. “Uma decisão sobre 2,2 centímetros não é para o olho humano, é para a tecnologia”, disse o italiano.

Mas a tecnologia não apaga nem diminui o esforço e a dedicação humana que tem de existir por parte do árbitro. Para isso, diz Collina, os árbitros têm de trabalhar a sua preparação física, estudar as leis do jogo, mas não só; também é necessário ter conhecimento da componente tática das equipas.

E neste ponto, aquele que é considerado um dos melhores árbitros a ter ajuizado no século XXI, deu uma novidade: a criação de uma plataforma online para evitar que os árbitros estejam constantemente a viajar para poder participar em formações, “se eles não podem vir à sede vamos [nós] até eles”.

Tudo se baseia num website onde é possível que outros profissionais da arbitragem possam dar conta de um incidente que tenha acontecido. Através desta plataforma online é possível “mandar um clip e algo a explicar se a decisão foi correta ou errada”.

Os erros são humanos, mas não tão frequentes como se pensa. Collina tem uma explicação para estes dois pontos: “Muitas vezes o cansaço pode levar os árbitros a tomar decisões erradas. Quando estás cansado é mais fácil que se cometa um equívoco. Por isso, o treino ajuda a estarmos lúcidos”. “Um erro de um assistente pode arruinar o trabalho de um árbitro”, realçou o italiano.

“Só fui assistente uma vez na minha vida o que eu posso ensinar? Temos que trabalhar pessoas com essa especialização, criar cursos específicos”, disse antes de partir para uma comparação que terá deixado todos, no mínimo espantados.

“A percentagem de precisão de um assistente é de 95%, na última edição da Liga dos Campeões o futebolista com mais eficácia de passe foi Toni Kroos com 92,8%”, disse Collina.

O antigo árbitro disse que estes números, para a arbitragem, são “um grande feito” e concluiu: “penso que dito isto vão olhar para os árbitros de uma forma melhor”.

A conferência da Federação Portuguesa de Futebol, Football Talks 2017, terminou hoje, 24 de março no Centro de Congressos do Estoril. Reveja o acompanhamento do SAPO 24 aqui.