Durante anos, o duelo Mourinho vs. Guardiola apaixonou o futebol mundial. Depois de Messi vs. Cristiano Ronaldo, os confrontos entre o treinador português e o catalão, que começaram na Liga dos Campeões (quando Mou estava no Inter Milão e Pep no Barcelona), continuaram em Espanha (com a transferência do português para o banco do Real Madrid) e estabeleceram-se em Inglaterra, foram tão apaixonantes quanto polarizantes. Tudo porque são dois estilos em confronto, dentro e fora das quatro linhas, ainda que nos últimos anos o ambiente "bélico" entre ambos se tenha dissipado. Talvez porque estejam mais velhos, como lembrou Guardiola na antevisão à partida.
O que é certo é que o catalão até saiu em defesa do português, referindo que o seu valor "não pode ser julgado numa época ou numa época e meia". E Mourinho recordou que os tempos que melhor recorda são aqueles em que era adjunto de van Gaal e treinava Guardiola no Barcelona, do que propriamente os confrontos no banco que se seguiram em épocas posteriores.
De facto, como também lembrou Mourinho na antevisão à partida, o jogo desta tarde que opôs o Tottenham ao Manchester City não era uma luta "Mou vs. Pep", mas sim um confronto entre duas equipas que, na Premier League, têm ficado aquém das expetativas (mesmo contando com um super-Liverpool que fez 73 pontos em 75 possíveis, quando estão disputadas 25 jornadas da competição).
Os Citizens chegaram a Londres no 2.º lugar, é certo, mas já a 22 pontos do Liverpool, muito por culpa das cinco derrotas que já averbaram no campeonato (mais do que em toda a temporada passada, quando se sagraram campeões com uns incríveis 98 pontos). Já o Tottenham encontra-se num desapontante 8.º lugar: depois de um início prometedor do técnico português à frente dos Spurs, a verdade é que o clube londrino soma apenas uma vitória nos últimos cinco jogos a contar para a Premier League e vê o Chelsea, 4.º classificado (último a dar acesso à Liga dos Campeões), a sete pontos de distância.
Para além disso, o Tottenham perdeu recentemente por lesão a sua principal referência, Harry Kane, sendo que o mercado de transferências "apenas" viu chegar a Londres o médio português Gedson Fernandes e o extremo holandês Steven Bergwijn (que, de resto, foi titular no jogo desta tarde). Nada de pontas-de-lança, portanto, o que significa que, no jogo de hoje, foi o brasileiro Lucas Moura que ocupou a posição mais avançada na equipa dos Spurs, que apostaram mais no contra-ataque e em lançamentos em profundidade para as quatro setas que podiam ser disparadas à baliza de Ederson (Lucas Moura, Bergwijn, Dele Alli e Son) tentarem desfeitear a defesa dos Citizens.
Por tudo isto, o jogo foi mais ou menos o expectável daqueles que, tradicionalmente, opõem as equipas treinadas por Pep e Mou: de um lado (Manchester City), uma equipa com mais posse de bola e a criar mais ocasiões de perigo; do outro, uma equipa mais "cínica" e com vontade de criar estragos de forma cirúrgica.
Não foi por isso de espantar que a principal oportunidade da primeira parte tenha sido uma bola ao poste de Kun Aguero aos 26 minutos. Contudo, os momentos mais polémicos tenham sido protagonizados pelo VAR. Primeiro, pela expulsão eventualmente "perdoada" a Sterling, que viu apenas um amarelo.
Depois, pelo penálti assinalado contra os Spurs (sem dúvidas aqui, apesar do muito tempo que demorou a ser assinalado), em que o remate de Gundogan foi defendido por Lloris e onde, na sequência da jogada, Sterling cai na área, deixando dúvidas sobre se deveria ser assinalado novo pontapé de grande penalidade ou se, por outro lado, o avançado inglês deveria ver o segundo amarelo e consequente vermelho por simulação. No meio de tudo isto, Mourinho sorria ironicamente no banco e o jogo foi para intervalo ainda com o nulo no marcador (ainda que Aguero tenha falhado um golo à boca da baliza mesmo antes do árbitro mandar toda a gente para o balneário).
E se o falhanço do avançado argentino no final da primeira parte só não deixou Guardiola de cabelos em pé porque não os tem, que dizer do de Gundogan logo a abrir a segunda? Na sequência de uma jogada confusa em que vários jogadores dos Spurs e dos Citizens chocaram e lutaram pela bola na entrada da área dos londrinos, e com Lloris fora da baliza, o médio alemão (que já tinha falhado uma grande penalidade na primeira parte) não fez melhor do que atirar por cima quando tinha o golo à sua mercê.
O Manchester City dominava a partida (chegou a ter perto de 70% de posse de bola e 14 remates contra... zero do Tottenham) mas a verdade é que o jogo mudou quando, aos 60 minutos, Zinchenko foi expulso por acumulação de amarelos por carregar Winks num contra-ataque rápido dos Spurs. Dois minutos depois, e na sequência de um canto, Bergwijn matou de peito à entrada da área e, à meia volta, rematou de pé direito para abrir o marcador e pontuar com um golo aquela que foi uma estreia de sonho com a camisola do conjunto comandado por José Mourinho.
Já com Cancelo em campo (entrou para substituir Aguero logo depois do golo dos Spurs), o Manchester City continuou a carregar, mesmo com menos um jogador, mas foi o Tottenham a voltar a marcar. Ndombele (que também entrou, juntamente com Lamela, para os lugares de Dele Alli e Bergwijn) assistiu Son e o sul-coreano, à entrada da área, ampliou para 2-0 o resultado de um jogo em que os Spurs fizeram dois golos nos dois primeiros remates que visaram a baliza dos Citizens.
O segundo golo "matou" o jogo e até ao apito final dos Spurs limitaram-se a gerir os acontecimentos e a garantir uma vitória que os coloca no 5.º lugar, a quatro pontos do Chelsea.
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