Para trás ficaram as primeiras semanas do estado de emergência devido à covid-19, após a suspensão das competições e da atividade desportiva, e um sentimento de pânico a cada vez que o marido e o filho mais velho entravam em casa.

“Inicialmente, entrei um pouco em pânico, também preocupada com os meus pais em Cuba e o meu irmão nos Estados Unidos. O meu marido [e treinador] continuou a trabalhar [numa empresa alimentar], o meu filho mais velho também…”, explicou a judoca à agência Lusa.

O contacto com o exterior foi o motivo para a ansiedade sentida, com a judoca em isolamento em casa com o filho mais novo, Rafael, e a necessidade de manter uma atividade física, que não impediu que aumentasse de peso, ‘pecado capital’ no judo.

“Muitas vezes, usei o corredor em corridas e tinha de fechar os cães. Fazia rotina de esteira, de abdominais, agachamentos, flexões, ou usava a máquina de remo para fortalecimento e ‘cardio'”, na tentativa de manter os níveis físicos, contou.

Foram mais de dois meses em confinamento até regressar, na segunda-feira, ao centro de estágios de Rio Maior, à sala partilhada com o jiu jitsu e o kickboxing e paredes meias — numa divisória de cortina – com o taekwondo.

Os outros desportos de combate ainda não ‘voltaram’ e Yahima aproveitou para iniciar a semana e a fase dois da modalidade a treinar, primeiro com o filho mais velho, André, e, no dia seguinte, com o júnior Duarte Dinis, uns quilogramas mais leve.

“Na primeira vez, pensei ‘que alegria sinto outra vez'”, revelou a judoca, que esteve nos Jogos Olímpicos Londres2012 e é, desde 2007, presença regular na seleção portuguesa.

O protocolo continua a ser rigoroso, os balneários estão vedados, Yahima Ramirez sai já de casa com o equipamento de treino e usa apenas um lavatório onde lava os braços e as mãos à entrada e à saída da sessão.

“Tenho a vantagem de existir um aparelho para tríceps, elásticos, bonecos para projeção. Temos vários equipamentos que não tinha ao dispor em casa”, indicou à Lusa, numa rotina que volta a ser diária em todos os finais de tarde na cidade ribatejana.

O adiamento dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 até é encarado de forma positiva, como uma nova oportunidade de apuramento, numa fase em que pôde recuperar de uma lesão rotular, e quando tem a judoca Patrícia Sampaio mais bem posicionada no ‘ranking’ olímpico.

“Para mim é uma oportunidade, para ganhar tempo na qualificação. Tento ver isto como um prolongamento, para me preparar melhor fisicamente”, acrescentou a judoca da categoria de -78 kg.

Do treino praticamente individual, com muitas restrições, ao regresso às seleções deverá passar mais um mês, mas é com otimismo que encara a possibilidade de um primeiro estágio e da ‘vida em equipa’, sempre com atenção à curva da doença que ‘travou´ o desporto mundial.

Da seleção, a treinadora Ana Hormigo sublinhou que o judo, tal como outras modalidades, tem encarado esta ‘nova realidade’ por etapas, com a preocupação de manter a prática do exercício, o que tem sido cumprido pela equipa.

“Inicialmente, ponderámos se mantínhamos o grupo”, admitiu a selecionadora feminina, num processo de contacto frequente com os treinadores nos clubes e com as judocas.

Ana Hormigo explicou o processo desde o treino individual à possibilidade de trabalho no exterior, e de treino com um parceiro, numa modalidade em que é fundamental o contacto físico, ainda limitado devido à pandemia.

“O mais importante era manter a condição física, aeróbia. Os atletas têm capacidade de se adaptarem a uma nova realidade e elas superaram”, disse a treinadora à Lusa, admitindo que a espera pelo adiamento dos Jogos Olímpicos foi o mais difícil e que só aí se baixou a ansiedade.

A perspetiva de um regresso é encarada com otimismo, depois de a federação já perspetivar juntar as seleções no final de junho ou julho.

“Estamos na fase em que passamos do individual para pequenos grupos e, depois, para um maior número de atletas. Começar com um grupo mais restrito”, anteviu a selecionadora.

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