Tendo como pano de fundo o Estádio de Honra do Centro Desportivo Nacional do Jamor, em Oeiras, sete dias separaram duas finais da Taça de Portugal de futebol.

Depois de na passada semana as equipas masculinas do Sporting e do Desportivo das Aves terem disputado a “prova rainha”, ontem, 27, dia do último jogo da época, o segundo troféu mais importante do calendário desportivo aguardava, serenamente, na Tribuna de Honra, que fosse elevado aos céus pelas mãos da equipa vencedora.

Numa celebração do futebol que aconteceu no feminino, um clube, Sporting Clube de Portugal, repetiu a viagem até ao Jamor. Assim como se repetiu a romaria dos seus fiéis adeptos que marcaram presença no tradicional palco da mítica festa do futebol nacional.

Do outro lado da barricada, outro conjunto com Sporting no nome, mas ao qual se acrescenta Clube de Braga. “Guerreiras do Minho” igualmente acompanhadas dos seus seguidores, embora em menor número. Os minhotos repetiram, tal como as leoas, pelo segundo ano consecutivo, a presença no Jamor para levantar o “Caneco”.

Tal como na semana passada, as matas do Jamor pintaram-se de verde e branco, de um lado (parque 10, norte), e encarnado e branco, do outro (parque 2, sul).

créditos: Miguel Morgado | MadreMedia

Se há uma semana mais de 30 mil adeptos desaguaram no vale do Rio Jamor e subiram às bancadas do Estádio Nacional, ontem o número fixou-se em 11.714, espalhados pelas imediações do palco do futebol.

Uma festa na mata de todo os sonhos

Na minifesta da Taça não faltaram os tradicionais comes e bebes, as roulottes, os piqueniques e as excursões de autocarros, em especial de quem ali se apresentou para apoiar o Braga (cerca de 20 autocarros). Do lado dos leões, o automóvel foi o meio de locomoção de eleição.

Famílias inteiras, homens, muitos homens, mulheres, imensas, rapazes e raparigas e crianças, gente de todas as idades, com as camisolas e os cachecóis com as cores alusivas aos clubes do coração, numa festa que é desde sempre de cariz popular e que ontem foi acima de tudo familiar — como poucas vezes acontece no mundo do futebol “deles”.

O jogo foi jogado em campo por “elas”, mas nas bancadas não foi só visto por “elas”, verificando-se um empate na “Guerra dos Sexos” dos adeptos presentes.

créditos: Miguel Morgado | MadreMedia

Andreia Marques, adepta dos leões e “sócia” da claque Brigada 2004, jogadora do Futebol Benfica, o popular “Fofó”, é uma repetente no Jamor nesta romaria atrás do clube do coração. Esteve na final feminina do ano passado, repetiu a ida este ano, exatamente uma semana depois de ter ido “apoiar o Sporting com o Aves”. Ontem fê-lo na companhia das colegas de equipa Andreia Silva e Rita Carvalho, que torcem pelo eterno rival dos leões e foram ao Jamor “para ver a festa do futebol”, confidenciaram.

António Araújo, 70 anos, natural Guimarães, vive em Famalicão e é adepto Braga. Com um cachecol da seleção nacional ao pescoço, antecipando as emoções do Mundial da Rússia, viajou de autocarro desde a capital do Minho. Uma viagem longa, mas que não cansa a quem gosta “tanto do futebol masculino como do feminino”. Diz que “elas correm mais que os jogadores”, uma afirmação que tem rótulo de conhecedor em causa própria ou não tivesse sido ele mesmo treinador do futebol feminino no Núcleo Desportivo Serzedelo (Guimarães) e responsável pela ida “de algumas jogadoras à seleção dirigida pelo António Simões”, recorda.

créditos: Miguel Morgado | MadreMedia

Esmeralda, Carlos e o filho Henrique vivem em Ourique. Saíram do Alentejo, de carro, para ver a formação arsenalista jogar como “sempre fazem cada vez que o Braga joga por perto”, sentencia Carlos.

Gonçalo e Ricardo são amigos e moram em Lisboa. A cor verde denuncia a sua grande paixão. Gonçalo assume que “costuma” ver os jogos das leoas “em Alvalade”. Já Ricardo estreia-se no visionamento, confidencia. Ambos foram ver a final masculina uma semana antes.

120 minutos depois do apito final, o Sporting conquistava a 2ª Taça de Portugal, uma conquista que acontece de forma consecutiva na segunda viagem até ao Jamor.

A festa das bancadas teve direito à celebração à islandesa com o “Spor...ting” acompanhado de um “bate palmas”, numa partida na qual a guarda-redes Patrícia Morais foi eleita a “melhor jogadora”, em que o presidente leonino, Bruno de Carvalho, presente na Tribuna de Honra, demonstrou carinho para com as suas atletas, que subiram à tribuna e em que o seu homólogo, António Salvador, imitou Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, na expressão de afetos às jogadoras minhotas.