A Federação Portuguesa de Vela vai hoje a votos – entre as 17h00 e as 20h00 - para o quadriénio 2024-2028. A aposta na formação e alargamento da base de praticantes, pouco mais de quatro mil velejadores federados, unem as duas candidaturas e os dois candidatos, Mário Quina, presidente em exercício e António Barros, “dissidente” da direção anterior.

Mário Quina, tinha intenção de fazer “só um mandato (2021-2023)” e chegou a assumir publicamente o apoio uma outra candidatura. Esta, no entanto, “não avançou, fui pressionado para me recandidatar e avancei” explica ao SAPO24, sem referir o nome do pretenso candidato.

Mário Quina Vela
Mário Quina Vela

“Este é um projeto de continuidade que teve início em 2021, com pessoas que são conhecidas, contra um projeto que não se conhece, com pessoas que não deram provas de nada até agora”, refere.

O candidato que encabeça a Lista A – “Devolver à Vela o que a Vela nos deu" - destaca uma bandeira: “temos de eliminar o passivo da federação, mais de 300 mil euros. Já conseguimos reduzir cerca de 150 mil euros e espero nos próximos dois anos arrumar a dívida”, promete.

Projeto de alto rendimento e componente olímpica à parte, Mário Quina e equipa, entendem que a vela precisa de “continuar a alargar” a base de praticantes. “Temos cerca de 4200 federados e cerca de 15 a 20 mil praticantes”, assinala, discrepância de números que se deve, segundo Quina, ao processo “burocrático” de inscrição, justifica.

“A Federação tem um problema de financiamento”

No seguimento, a Lista A quer executar um programa para equiparar os dois números. Um desejo de equivalência a que não são alheias as “implicações, nomeadamente com a relação com os nossos supervisores (IPDJ)”, referindo-se aos apoios recebidos em função do número de federados existentes que cada uma das federações tem direito.

“Não podemos viver só de financiamento público”, pelo que com o propósito de procurar “investidores privados”, Mário Quina recorda a criação da “Marca Vela”, território de comunicação criado para esse fim”, sublinha.

“É muito importante resolver o problema do financiamento público e do financiamento privado. A Federação tem um problema de financiamento. A quase totalidade do que existe é um financiamento público através do IPDJ e parte pelo Comité Olímpico de Portugal”, acrescenta.

No Alto Rendimento, e na parte olímpica, diz ainda que a direção a que presidiu tomou uma medida que impactou e impactará com os resultados desportivos. “Anteriormente a Federação Portuguesa de Vela apoiava pessoas, individualmente. Se o velejador resolvesse sair ou mudar de vida, todo o investimento feito na pessoa desaparece. E, portanto, começámos a apoiar as classes o que e permitiu, realmente, alterar o paradigma. E todo o investimento não se perde”, salvaguarda.

Por fim, no programa apresentado, e que recorda as 20 linhas programáticas assinaladas em 2021, três anos depois não esquece um ponto que considera fulcral. “Temos feito vários cursos, mas é fundamental continuar a investir muito na formação, quer nos árbitros, quer os treinadores”, finaliza.

“Proximidade”

António Barros fez parte da anterior direção liderada pelo agora candidato, e adversário, Mário Quina. “Apresentámos o projeto a 22 de agosto, depois do Mário Quina ter dito em Assembleia Geral, em maio, que não se recandidatava”, contextualizou.

Apesar de ter feito parte da anterior direção, o rosto maior da Lista B - “Por uma Federação para Todos” - promete “fazer algo diferente”.

António Barros Vela
António Barros Vela

Entre as 31 medidas apresentadas, destaca, desde logo, uma. “No atual contexto da vela, precisamos claramente de aumentar a base, ter mais velejadores, já que nos últimos anos que temos vindo a decrescer na entrada de velejadores. Queremos tentar fazer uma inversão”, prometeu.

Salienta que a “proximidade” é um dos “principais motes” do programa que apresenta. “Queremos estar mais próximos do dia-a-dia dos clubes”, em contrapondo à orientação das anteriores direções.

“A federação tem estado, nomeadamente no último mandato, muito direcionada para o projeto olímpico, que teve os seus resultados. Achamos que nesta fase precisamos de investir mais na parte de crescimento”, anotou António Barros.

Uma volta a Portugal Continental e Ilhas bastou para identificar as lacunas com as quais clubes e a modalidade vive. “A vela atravessa uma fase em que existe uma enorme carência de treinadores”, identificou. “Se nós não conseguirmos fazer essa inversão, muito dificilmente conseguiremos crescer no número de velejadores na base”, rematou.

“Muitos dos clubes, não é por falta de condições, instalações ou até de equipamentos (barcos para a formação) que estão bem apetrechados”, mas sim é a falta de “treinadores” que constitui “o maior entrave em muitos clubes”.

Para contrariar, António Barros irá “tentar aumentar o tempo médio que um treinador se mantém na vela. Se aumentarmos o tempo médio que um treinador se mantém na vela, vamos conseguir ter mais treinadores disponíveis”, explicou.

“Valorizar da carreira de treinador”

No seguimento, pretendem “valorizar da carreira de treinador”. E para tal, ao abrigo de investimento federativo e sem custos para os demais, vão criar “clínicas de formação ao longo do ano, no continente, Açores e Madeira”, para as quais quer envolver “grandes treinadores portugueses, como o Gustavo Lima ou Álvaro Marinho, que estão fora de Portugal”, anotou.

“Com mais treinadores, os clubes aumentam a sua base de praticantes. Imensos clubes não metem mais miúdos, porque não têm treinadores”, alerta.

Vira a mira para os velejadores e para um drama comum a muitas outras modalidades. “Quando terminam a época de formação, culmina, normalmente, com a entrada na faculdade, há um abandono imenso”.

Para “atenuar esta curva de abandono” quer instituir “um plano estratégico de reintegração de velejadores”. Como? “Imaginemos um velejador dos Açores que vai estudar para o Porto. Queremos que os clubes sinalizem quem são os velejadores interessados em continuar na vela, a federação faz a ponte com os clubes e acompanha-os até estarem integrados”, exemplifica.

Para o fim deixa uma nota que defende ser urgente. “A federação precisa de uma reorganização. Tem hoje mais profissionais administrativos do que técnicos a trabalhar. Queremos fazer um plano de reestruturação, informatizar, uma reforma digital, retirar burocracia e queremos chegar ao final do mandato com uma federação mais ágil e com muito mais pessoas no departamento técnico e menos no departamento administrativo”, perspetiva.

Para concluir, olha para a candidatura adversária e atira. “Focou-se ao longo deste mandato principalmente no Projeto Olímpico que, para nós, tem o seu lugar, queremos que continue a existir e a trazer resultados, mas não queremos que a Federação esteja só tão focada no Projeto Olímpico e esteja focada também nas áreas de formação e aumentar a base e essa é uma das questões que mais nos distingue da outra lista”, remata.