Tendo sido o único dos três arguidos a querer prestar declarações esta manhã, uma vez que Paulo Gonçalves e José Augusto Silva decidiram não o fazer, Júlio Loureiro esteve a responder às questões do coletivo de juízas e do Ministério Público (MP) durante cerca de duas horas, nas quais negou ter passado informações ao ex-assessor jurídico do Benfica relativas a processos a troco de bilhetes, convites ou merchandising do clube da Luz.

“Isso é pura fantasia”, afirmou o funcionário judicial, que garantiu ainda não saber “de nada” sobre acessos informáticos ao sistema Citius, refutando “toda” a acusação do MP.

Júlio Loureiro assumiu conhecer Paulo Gonçalves “há já muitos anos do mundo do futebol”, mas que passou a “conhecer melhor” em 2015, num “jogo na Madeira em que estava como observador da equipa de arbitragem, função que passou a exercer depois de 2000, após 12 anos como árbitro de futebol.

Sobre o antigo assessor jurídico ‘encarnado’, o arguido descreveu-o como “das pessoas mais simpáticas e cortês” que conhece, revelando que chegou a oferecer caixas de vinho a Paulo Gonçalves. “Ofereço vinho verde às pessoas que considero amigas”, adiantou.

Apesar de ter reconhecido que recebeu bilhetes para jogos do Benfica no Estádio da Luz, Júlio Loureiro vincou que eram para a sua filha, porque já tinha bilhetes para si próprio pela condição de observador. “Tinha e mesmo como jubilado continuo a ter”, sublinhou, sem deixar de notar que “todos os clubes disponibilizam convites a magistrados, políticos, a polícias”.

“Nunca recebi benefícios. Absolutamente nada”, reiterou o funcionário judicial, que foi confrontado durante a primeira metade da sessão com diversas escutas. Umas foram explicadas, outras foram consideradas “descontextualizadas” pelo arguido e em relação a algumas recusou responder.

Contudo, Júlio Loureiro admitiu ter pedido ajuda ao ex-assessor jurídico da SAD do Benfica em relação ao desbloqueamento de um empréstimo bancário para a sua mulher. Questionado pelo MP sobre esta matéria e o porquê de o ter considerado, entretanto, “uma asneira”, o funcionário judicial justificou o arrependimento não pelas consequências que surgiram com o processo, mas sim porque “extrapolou” a relação de confiança que tinha com Paulo Gonçalves.

O julgamento prossegue agora de tarde, com a audição dos assistentes neste processo.

O funcionário judicial Júlio Loureiro está acusado de um crime de corrupção passiva, enquanto o funcionário judicial José Augusto Silva responde por um crime de corrupção passiva, seis de violação do segredo de justiça, 21 de violação de segredo por funcionário, nove de acesso indevido, nove de violação do dever de sigilo, 28 de acesso ilegítimo e um de peculato.

Paulo Gonçalves, antigo assessor jurídico da SAD do Benfica, está acusado de seis crimes de violação do segredo de justiça, 21 de violação de segredo por funcionário, nove de acesso indevido, nove de violação do dever de sigilo, em coautoria, além de um crime de corrupção ativa, dois de acesso indevido e dois de violação do dever de sigilo.