Jorge Jesus já rescindiu com o Benfica. O clube encarnado enviou um comunicado à CMVM a oficializar a decisão.
"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa, nos termos e para o efeito do disposto no artigo 248.º-A do Código dos Valores Mobiliários, que chegou a acordo com o treinador Jorge Fernando Pinheiro de Jesus para a rescisão do contrato de trabalho desportivo com efeitos imediatos", lê-se na nota.
Jesus já tinha adiantado que estava de saída ao jornal brasileiro O Dia, que contactou diretamente o treinador. "Coloquei o meu cargo à disposição. Estou de saída", afirmou ao jornal, acrescentando que a rescisão de contrato será por acordo mútuo. O técnico tinha contrato até de junho de 2022.
O técnico abandona assim os encarnados em véspera de clássico com o FC Porto no Estádio do Dragão, com a partida marcada para 30 de dezembro e o seu sucesso já foi escolhido.
"Mais se informa que o treinador Nélson Alexandre da Silva Veríssimo assume, até ao final da presente temporada, as funções de treinador da equipa principal de futebol", adianta também o comunicado à CMVM.
Numa informação dada em primeiro lugar pela SIC Notícias, Jorge Jesus já não orientou a equipa no treino de hoje, sendo substituído por Nélson Veríssimo. De acordo com vários órgãos de comunicação social, Veríssimo, que estava à frente da equipa B, também já não vai dirigir o encontro do líder da II Liga frente ao Feirense.
Jesus abandona assim a Luz com o clube a quatro pontos da liderança do campeonato — dividida entre Sporting e FC Porto —, e apurado tanto para os oitavos de final da Liga dos Campeões como para a "final four" da Taça da Liga. O Benfica já não se encontra na Taça de Portugal, tendo sido derrotado no passado dia 23 de dezembro pelo FC Porto, por 3-0.
Os acontecimentos das últimas semanas precipitaram a saída do treinador de 67 anos. Primeiro, com o contínuo assédio do Flamengo para tentar o seu regresso, forçando o Benfica a emitir um comunicado a refutar "cabalmente a existência de qualquer acordo" de Jesus com os brasileiros. Depois, com os sucessivos desaires, principalmente as derrotas por 3-1 com o Sporting CP para o campeonato e com o FC Porto para a Taça de Portugal.
Este último jogo terá sido o gatilho que espoletou a demissão do treinador. De acordo com os diários desportivos, a derrota com os dragões aumentou o mau estar na equipa, a ponto em que Jorge Jesus terá colocado o jogador Pizzi — um dos capitães —a trabalhar à parte, o que levou a recusa dos jogadores a prosseguir o treino. Já esta manhã, o treino terá terminado apenas cinco minutos após o começo, sintoma de que Jesus estaria de saída.
Um regresso amaldiçoado
Jorge Jesus, de 67 anos, regressou ao clube da Luz para substituir o técnico interino Nélson Veríssimo, que assumiu o comando da formação benfiquista após a demissão de Bruno Lage, sendo confirmado a 17 de julho de 2020 e oficialmente apresentado a 3 de agosto.
O regresso deu-se cinco anos depois de uma saída acrimoniosa para o Sporting, tendo sido técnico principal do Benfica entre 2009/10 e 2014/15, período em que conquistou 10 títulos, nomeadamente três campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e cinco edições da Taça da Liga. Nas seis épocas em que comandou o Benfica, tornou-se no treinador com mais jogos (325) e mais vitórias (229) na história do clube.
Jesus começou a carreira no Amora, em 1989/90, e, depois, passou por Felgueiras, União da Madeira, Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal, Vitória de Guimarães, Moreirense, União de Leiria, Belenenses e Sporting de Braga, antes de chegar à Luz.
Depois de se tornar o mais titulado treinador dos ‘encarnados’, que também levou a duas finais da Liga Europa, perdidas para Chelsea (2012/13) e Sevilha (2013/14), rumou ao Sporting, tendo passado ainda pelo Al-Hilal antes de chegar ao Flamengo, no qual arrecadou seis troféus em pouco mais de um ano, entre os quais o campeonato brasileiro e a Taça Libertadores.
No entanto, apesar da euforia inicial do regresso — que o técnico terá forçado, apanhando os responsáveis do Flamengo de surpresa — e de anunciar que voltou "para ganhar" e para "unir a nação benfiquista", prometendo também que o clube ia jogar "não o dobro, mas o triplo", o seu retorno não singrou.
Além de não ser consensual junto de alguns adeptos encarnados — que não perdoam nem a sua ida para o Sporting nem as circunstâncias em que tal aconteceu —, Jorge Jesus abandona o clube sem conquistar qualquer título nesta segunda passagem — algo que não acontecia há oito anos para os encarnados.
Apesar de algumas fases de bons resultados — principalmente o apuramento este ano para a Liga dos Campeões e a vitória sobre o FC Barcelona por 3-0 na mesma competição —, o comando de Jesus desta segunda vez ficou marcado por vários desaires. São disso exemplos a eliminação precoce face ao PAOK na terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões na época transata, assim como a derrota na final da Taça de Portugal do ano passado contra o SC Braga e na Supertaça contra o FC Porto.
Além disso, Jesus também viu-se a braços com um surto de covid-19 que debilitou fortemente a equipa na época passada, infetando-o a si também.
Jesus abandona também as águias com apenas uma vitória contra os rivais diretos, tendo ganho por 4-3 na Luz na época passada, quando o Sporting já era campeão. De resto, somou duas derrotas com os leões, e duas derrotas e dois empates com o FC Porto.
Veríssimo de volta à cadeira — e contra um adversário de má memória
Esta é a segunda fez que Nélson Veríssimo assume a posição de treinador principal no Benfica. Na época de 2018/19 subiu ao cargo de adjunto da equipa principal, acompanhando o técnico Bruno Lage, numa época em que o Benfica conquistou o campeonato.
Na parte final da época 2019/20, Nelson Veríssimo assumiu os destinos da equipa principal, de forma interina, após a saída de Bruno Lage. Acabou por deixar o clube no final da época, chegando Jorge Jesus para assumir os destinos do Benfica. O último jogo que fez nesta primeira passagem foi justamente com o FC Porto que agora terá de enfrentar, perdendo a final da Taça de Portugal por 2-1 no Estádio Cidade de Coimbra.
Veríssimo, de 44 anos, esteve no cargo de adjunto da equipa B do Benfica desde 2012 até à época 2018/19, coadjuvando vários treinadores, casos de Luís Norton de Matos, Hélder Cristóvão e Bruno Lage.
Após alguns meses de interregno na atividade profissional após dar o lugar a Jorge Jesus, Veríssimo regressou ao clube das águias para assumir o comando técnico da equipa B do clube, sucedendo a Renato Paiva.
O técnico deixa o Benfica B no primeiro lugar da II Liga, com 33 pontos, tendo conseguido 10 vitórias, três empates e duas derrotas.
[Notícia corrigida às 16:39 — A vitória do Benfica sobre o Sporting foi no Estádio da Luz e não no Estádio de Alvalade, como alguns utilizadores apontaram]
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