Há dois anos, Pedro Kol conquistou o único título que lhe faltava, o de campeão mundial, e abandonou os ringues, para se dedicar de corpo e alma à Academia Kolmachine. A reforma precoce do colecionador de títulos português — nas paredes da sua academia, eles lá estão, assinalados sob a forma de estrelas – foi interrompida pela ousadia de Alessandro Moretti, o campeão italiano de kickboxing.

“Não fui à procura deste combate. Fui desafiado pelo campeão italiano e, se não defender o título, perco-o. Sinto-me bem, tenho estado sempre a treinar, apesar de não estar em competição. É o que mais gosto de fazer e pensei ‘por que não?'”, explicou à agência Lusa.

Ciente de que “um guerreiro nunca vira as costas à luta”, Kol hesitou, mas, depois de auscultar quem o rodeia, decidiu subir novamente ao ringue, em 29 de abril, em Roma, para defender o seu título.

“Perguntei a opinião a algumas pessoas. Talvez a duas ou três pessoas que estão mais ligadas à modalidade e que me conhecem bem, como os treinadores da academia. Porque, por exemplo, posso perguntar à minha mãe que, se calhar, não quer outra vez estar com o nervoso, mas eu preciso de uma opinião técnica, se estou bem fisicamente, se estou bem tecnicamente, se faz sentido a oportunidade. Mas não estava à espera de ter tanto apoio como tive”, revelou.

Apesar de garantir que não revalidar o título europeu não é uma hipótese, o kickboxer de 34 anos reconhece que não está imune aos receios próprios de quem não compete há longos meses.

“Há sempre algumas dúvidas. Será que esta paragem me prejudicou? Será que vou conseguir estar ao mais alto nível? Será que devia voltar quando fechei com chave de ouro? Toda a gente tem dúvidas. Mas só se vive uma vez. Temos que aproveitar. Temos de seguir o nosso instinto. Sempre que o segui correu bem”, salientou.

Apaixonado pelas artes marciais desde pequeno — começou no taekwondo aos oito anos e aos 16 tornou-se kickboxer no Sporting -, o “Esparguete Assassino” assumiu à Lusa que, nos dois anos de paragem, sentiu saudades da competição.

“Fica sempre o bichinho. O difícil é saber, depois, qual é a melhor altura para parar”, completou, escusando-se, contudo, a dizer se planeia continuar por mais algum tempo nos ringues: “Um passo de cada vez. Agora estou concentrado em 29 de abril, neste combate, depois logo se vê. Não vale a pena estar a pensar mais à frente.”

O aqui e agora de Pedro Kol são os treinos e a correção das pequenas falhas, que, apesar da coleção de títulos, ainda conseguiu encontrar na sua técnica.

“Há sempre coisas a corrigir e, em termos defensivos, se calhar, quando apanhava um adversário muito defensivo — como é o caso do italiano — recuava muito. Apesar de ter uma boa defesa, podia mostrar inferioridade. Aqui sei que não estou a jogar em casa, sei que não posso facilitar nada, tem de estar tudo a meu favor e, para além de pontuar, tenho de mostrar uma postura forte do início até ao fim”, disse, referindo-se ao combate que vai acontecer em Roma, diante de uma plateia de 1.500 pessoas, e que pode ser acompanhado na página de Facebook da Academia Kolmachine, a partir das 22:30

A motivá-lo ainda mais nesta demanda está o facto de, em caso de vitória, poder doar o ‘prize money’ à Missão Camboja, um projeto que nasceu depois de ter acompanhado a namorada numa campanha de voluntariado e de ter estado uma semana no país a dar treinos a miúdos num orfanato.

“Foi uma Missão que criei há um ano para ajudar um orfanato no Camboja. Este regresso… não o fiz por dinheiro, acho que sempre combati pelas razões certas, pelo amor à modalidade. Pensei que poderia ser um 2 em 1: combatia e ainda podia ajudar”, frisou, indicando que o valor do prémio vai permitir alimentar 20 crianças de um orfanato, durante seis meses.

No sábado, quando subir ao ringue, Kol terá bem presente a mensagem que quer transmitir a todos: “Um campeão é eterno. Pode sempre voltar. Acho que se uma pessoa tiver o foco certo, se acreditar, não há idades, não há altura certa. É aproveitar o momento.”