A praia de Ribeira d’Ilhas, Ericeira, foi o palco do primeiro campeonato nacional de surf, em 1977. A 20 e 21 de maio, João Moraes Rocha recebeu o troféu de campeão nacional, facto que o próprio, primeiro surfista consagrado a nível competitivo, registou na “História do Surf em Portugal, As origens (Quimera, 2008)”, livro da sua autoria, considerado uma das bíblias do surf português.

Organizada por um departamento da Federação Portuguesa de Atividades Submarinas (FPAS) e apoiado pela Direcção-Geral de Turismo, com timidez, esta foi a primeira organização de caráter competitivo (masculina e por escalões etários) de um desporto que começava a dar os primeiros passos, num fim de semana marcado por um clássico do futebol português, Benfica-Porto (3-1 para as águias na 29ª e penúltima jornada).

41 anos depois, a mítica praia na Vila da Ericeira, onde o “Mar é mais azul”, recebe, a partir de hoje, 13, a 1ª etapa da Liga MEO Surf. Ao todo, mais de 100 surfistas, um recorde, estão inscritos na etapa de estreia do campeonato nacional de surf, que só agora arranca, após o adiamento, por questões meteorológicas, da etapa da Figueira da Foz.

créditos: @WSL

Curiosamente, no pontapé de saída da edição 2018, o dia reservado à final da competição, domingo, terá um Benfica-Porto a atrair as atenções fora do “Coliseu” marítimo da Reserva Mundial de Surf (2011).

No Allianz Ericeira Pro, Tiago Pires, vencedor no ano passado, terá pela frente o campeão nacional, Vasco Ribeiro. Já Carol Henrique, campeã em título e vencedora na última vez que o campeonato visitou a terra dos “Ouriços”, entra na água ao lado de Mariana Brandão e Mariana Assis.

Com ligação umbilical às competições nacionais de surf, em especial desde que a mesma assumiu um estatuto de profissional, a partir do ano 2002, Ribeira d’Ilhas só em três ocasiões não serviu de estádio ao surf nacional: no ano de estreia, 2002, e em 2008 e 2009.

Tiago Pires, surfista que joga “em casa”, coleciona quatro vitórias nas ondas na praia do concelho de Mafra. Patrícia Lopes lidera este ranking feminino, com três troféus.

A praia de “Saca”, do campeão europeu Vasco Ribeiro e de três campeões mundiais

Mas Ribeira d’Ilhas, Meca do surf português e um dos mais elogiados spots a nível mundial, não se limita a ser um anfiteatro de provas internas. A segunda Reserva de Surf distinguida a nível global, permanecendo a única da Europa até hoje, é, desde finais dos anos 80, palco, por excelência, de diversas provas de cariz internacional.

Ao todo, entre 1989 e 2015, Ribeira d’Ilhas recebeu 20 eventos internacionais. Teve honras de receber o primeiro campeonato internacional ASP/WSL em Portugal, em 1989. Bruno Charneca “Bubas” e Rodriga Herédia foram os únicos portugueses no Buondi Instict Pro (WCT, categoria 1ª), prova ganha pelo australiano Rob Bain. No ano seguinte, o Buondi Pro (categoria 2ª) regressou, João Alexandre “Dapin” foi o único português e Tom Curren, surfista americano que nesse ano conquistou seu terceiro e último título mundial, foi consagrado como vencedor na etapa portuguesa. Uma passagem do circuito por Portugal que teve a particularidade de englobar a prova feminina do WCT (WWT categoria AA). Patrícia Lopes foi a melhor portuguesa, terminando no 9.º posto. Teresa Abraços terminou no 22.º lugar e a australiana Pam Burridge foi a campeã do evento.

Seguiu-se um salto até 1993, regresso do Buondi O’Neill Pro (WQS, 3 estrelas), campeonato que voltou à Ericeira em 1994 (WQS 3*), 1995 (WQS 4*) e 1996 (WQS 5*) com a praia de São Julião a dividir o palco com Ribeira.

Novo interregno e já debaixo da nomenclatura de O’Neill Buondi Pro, em 1999 (WQS 5*), as competições internacionais de surf regressam ao concelho de Mafra e, além da Meca do Surf, passam também pela Praia dos Pescadores. Esta prova assume especial destaque. Foi aqui o primeiro resultado significativo no WQS da carreira de Tiago Pires, então com 19 anos. “Saca”,  terminou no 9.º lugar.

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O’Neil Netc Pro (WQS 4*), em 2000, Ericeira Surf Classic (WQS 6*), O’Neill Pro (WQS *) e Ericeira Pro (WQS 3*), nos anos seguintes, e no campo feminino, o Magnólia Girls Pro 2003 (WQS 6*), que contou com Teresa Abraços, Patrícia Lopes e Joana Rocha, entre outras, serviram de aperitivo para a primeira de duas vitórias históricas de Tiago “Saca” Pires em “casa”, no Buondi Billabong (WQS 6*) e no Buondi Billabong Pro (WQS 5*). A primeira, em 2005, numa final contra Pedro Rodrigues, então cidadão brasileiro, antes de se naturalizar português.

A praia da Ericeira manteve-se na rota do Buondi Billabong Pro 2008 (WQS 5*) por mais dois anos e foi já como Quiksilver Pro Portugal 2010 (WQS 6*), 2009, que Frederico “Kikas” Morais e Vasco Ribeiro aparecem. No ano seguinte a prova sobe à categoria prime - Quiksilver Pro Portugal 2010 (WQS Prime) -, naquela que foi a última passagem do WQS pela Ericeira, arrastando para as ondas portuguesas Julian Wilson, surfista que fazia parte da elite mundial do surf, além de Gabriel Medina, John John Florence e Miguel Pupo, que viriam a entrar, de seguida, nesse círculo restrito aos melhores do mundo.

Em 2014, a Ericeira acolhe o Mundial de juniores, masculino e feminino. Vasco Ribeiro assegurou o título mundial da categoria, na maior vitória da história do surf português. No Allianz ASP World Junior 2014, destacou-se ainda Teresa Bonvalot, a melhor portuguesa, terminando no 5.º posto. A surfista esteve igualmente em destaque no World Junior Championships 2015, competição masculina e feminina, terminando em 3º lugar.