Este foi um domingo de voto antecipado. Ora, depois do dever ter sido exercido, foi tempo de voltar ao confinamento e ao sofá, para um dos grandes clássicos de futebol inglês. O surpreendente Manchester United, primeiro classificado, visitava Anfield Road e o Liverpool, campeão em título e classificado três pontos atrás dos Red Devils.

A tarde prometia, não fosse este um duelo que apaixonou todos os que  gostam de futebol durante décadas.

Tendo sido durante muitos anos uma espécie de gigante adormecido, o Liverpool ganhou nova vida com Jurgen Klopp, que para além da Liga dos Campeões, Supertaça Europeia e Campeonato do Mundo de Clubes (vencido numa final frente ao Flamengo de Joge Jesus), devolveu o título de campeão à cidade do Beatles, 30 anos (!) depois d última vitória na principal competição inglesa.

Já o Manchester United parece ter trocado de lugar com os Reds, desde que Alex Ferguson abandonou o banco de Manchester em maio de 2013. É certo que, de lá para cá, não houve propriamente uma seca de títulos – uma Supertaça com David Moyes, uma Taça de Inglaterra com van Gaal e uma Liga Europa, Taça da Liga e Supertaça com José Mourinho –, mas não é menos verdade que aquela espécie de aura hegemónica que os Red Devils tinham com Alex Ferguson, onde pareciam quase sempre mais próximos de lugar pelo título do que o seu inverso, tem estado, também ela, adormecida.

Ora, nesta época, o Manchester United tem surpreendido, e, caso pontuasse nesta tarde em Liverpool, dobraria a primeira metade do campeonato no primeiro lugar, posição a que tinha chegado há uns dias e que não ocupava precisamente desde que Alex Ferguson abandonou o banco dos Red Devils (sem contar com primeiras jornadas de épocas anteriores).

Tudo preparado, portanto, para uma tarde emocionante de futebol como só a Premier League pode oferecer. Certo? Mais ou menos...

É possível que, para alguém mais conhecedor de todas as nuances táticas que compõem um jogo de futebol, a primeira parte deste Liverpool-Manchester United tenha sido um deleite. Mas para a grande maioria dos adeptos menos informados, é possível que tenha sido um bocejo.

Não que não seja entusiasmante ver Thiago Alcântara a jogar futebol – parece que joga de pantufas e que o seu cérebro funciona a uma velocidade diferente do de toda a gente que com ele partilha o campo – ou apreciar os sprints de Salah e Mané para um lado, e de Rashford e Martial para o outro. Ou ainda, claro, perceber que Bruno Fernandes se tornou na referência de um dos maiores clubes do mundo e que, mesmo quando a bola parece passar pouco por si, não deixa de criar perigo, como naquele livre que rasou o poste de Alisson durante a primeira parte.

Mas factos são factos: a primeira parte deste clássico – um dos maiores do mundo – não trouxe golos nem aquelas jogadas que fazem da Premier League uma das mais apaixonantes competições desportivas do mundo.

Talvez na segunda parte tivéssemos mais sorte, nós, os leigos que gostam de futebol, de golos e que podem ter a sorte de ver o desporto-rei em casa durante uma pandemia que já ceifou mais vidas do que aquelas que gostaríamos e que tem levado à exaustão todos aqueles que dela nos tentam proteger. O futebol, mesmo que sem público, tem sido uma das réstias de normalidade em tempos como os que vivemos. Por isso, já que o temos, é pedir muito que este domingo à tarde de voto antecipado e confinamento obrigatório tenha jogadas incríveis e golos memoráveis?

Mas onde é que nós íamos? Na segunda parte do clássico inglês, que pareceu começar como a primeira terminou, ou seja, a bola é quase sempre do Liverpool, as jogadas de perigo escasseiam, Thiago passeia classe e Bruno Fernandes tenta criar perigo para um Manchester United que, entretanto, já tinha trocado Martial por Cavani.

À medida que o jogo se aproximava do seu final, o duelo Thiago contra Bruno intensificou-se – ainda que só no que às oportunidades de golo diz respeito –, com o português a responder a um cruzamento com um desvio que só não entrou na baliza porque Alisson não deixou, e com o hispano-brasileiro a rematar de fora da área para obrigar De Gea a aplicar-se.

Depois foi Pogba a obrigar o guarda-redes brasileiro do Liverpool a defesa apertada, quando já dentro da área rematou quase à queima-roupa e provocou calafrios aos adeptos dos Reds que estariam a assistir à partida.

Contudo, o marcador não mexeu até final. O jogo terminou sem golos, com o Manchester United a segurar o primeiro lugar e com... José Mourinho a sorrir, visto que com a vitória conquistada anteriormente frente ao Sheffield United voltou a aproximar-se do pelotão da frente da Premier League. Ah, e um tal de Pep Guardiola também é capaz de ter achado graça, já que o seu Manchester City está a 5 pontos dos rivais da mesma cidade mas os Blues contam com menos dois jogos. Este jogo pode ter sido aborrecido, mas a Premier League está ao rubro.

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