"Os serviços de Inteligência identificaram um plano por parte de um grupo de adeptos organizados do Gimnasia y Esgrima La Plata [clube onde Maradona era técnico] de roubar o coração de Maradona", conta à Lusa Nelson Castro.

De acordo com o jornalista, "o coração de Maradona está agora preservado num frasco de formol e sob vigilância policial”, adiantando que “Maradona foi enterrado sem o coração porque era necessário analisá-lo para a autópsia”.

No dia 02 de dezembro de 2020, uma semana depois da morte de Maradona e com o país ainda em comoção, o coração de Maradona foi levado para o Departamento de Anatomia Patológica da Superintendência Científica da Polícia da Província de Buenos Aires, da cidade de La Plata.

"Obviamente que o coração de Maradona tem muita simbologia para os fanáticos, mas é delirante um plano para roubá-lo", diz Nelson Castro, que, como jornalista desportivo, foi um dos primeiros a entrevistar o então adolescente Maradona em 1974, quando, com 14 anos, começava nas camadas jovens do clube Argentinos Juniors.

Agora, na altura em que se celebra o primeiro aniversário da morte do ídolo argentino (25 de novembro), o premiado jornalista e médico neurologista lançou o livro "A Saúde de Diego, a verdadeira história", no qual analisa a trajetória de Maradona, através do ponto de vista médico, a partir de documentos e testemunhos de médicos que privaram com Maradona.

No livro, Nelson Castro explica como o crescimento de um grande futebolista aconteceu em paralelo com uma autodestruição de um jogador viciado em tudo, até em sexo.

"Maradona era viciado em tudo. Foi viciado em cocaína, em álcool, em comida, em tabaco, em maconha [cannabis] e em sexo. Ele tinha uma compulsão incontrolável pelo sexo e sem proteção. Tinha uma potência sexual impressionante e sempre sem nenhum cuidado. Essa compulsão é um elemento típico do vício. Não temos um conhecimento cabal de quantos filhos ele realmente teve", afirma Castro.

Até agora, sabe-se que Maradona teve cinco filhos com quatro mulheres diferentes, dos quais três foram reconhecidos pelo próprio e dois pela Justiça. Ainda há outros três pessoas a tentar serem reconhecidos como filhos do ex-futebolista.

"Maradona tinha uma genética privilegiada. Não apenas o talento e a habilidade, mas também a resistência física. Porém, essa genética era contrastante: nela também convivia esse código de vícios que o perseguiu durante toda a sua vida", disse o escritor.

Para Nelson Castro, "havia um duelo entre o futebol e as drogas dentro de Maradona” e que “o futebol funcionava como um elemento de contenção para o vício pelas drogas”.

“Embora ele se drogasse, o vício foi contido enquanto ele estava no ativo. Quando ele deixou o futebol, essa contenção acabou. O vício foi mais forte do que a paixão pelo futebol", aponta.

Maradona deixou o futebol em 1997, aos 37 anos, e o primeiro sinal de uma saúde frágil aconteceu em janeiro de 2000, na cidade de Punta del Este, no Uruguai, quando o excesso de comida, de álcool e de cocaína deixou Maradona em coma, depois de sofrer uma cardiomiopatia dilatada.

No dia 2 de novembro de 2020, três dias depois de completar 60 anos, Maradona foi internado com um quadro de anemia e desidratação. Ainda internado, foi operado de um hematoma subdural. No dia 11 de novembro, saiu do internamento para continuar a receber cuidados domiciliários.

"Uma das coisas que revelamos no livro é que, nesse último internamento, Maradona ficou sempre em cuidados intensivos. Isso demonstra que era um paciente delicado. Porém, os médicos e as filhas decidiram levá-lo para uma casa inadequada, onde os cuidados eram improvisados. Essa decisão constituiu um erro de critério médico que acabou por ser fatal para Maradona", avalia Castro.

Duas semanas depois, em 25 de novembro, Maradona morria de um "edema agudo de pulmão secundário a uma insuficiência cardíaca crónica aguda".

"Se continuasse internado, teria tido mais uma hipótese, porque teriam advertido, 48 ou 24 horas antes, que ele estava num quadro de descompensação cardíaca. Existia a hipótese de ter sido tratado àquilo que o levou à morte", conclui o médico Nelson Castro.