Em entrevista à agência Lusa, Francisco Neto, reconhece que a conquista do apuramento inédito para o Europeu, que se disputa na Holanda, de 16 de julho e 6 de agosto, é algo que “ainda está a ser desfrutado” e fala do futuro do futebol feminino, mostrando-se otimista.

“A menina a jogar futebol é cada vez mais normal em Portugal. Isso fará com que o número de praticantes e a qualidade aumentem”, disse, destacando o trabalho dos clubes e das associações de futebol, o plano estratégico da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), bem como o facto de “cada vez mais os pais terem orgulho em que as suas filhas joguem”.

O técnico admitiu que, “internamente”, a conquista de um lugar entre os melhores da Europa “sempre foi um objetivo”, embora houvesse sempre “consciência das dificuldades”.

Agora confessa-se “mais do que ansioso” para entrar em ação na Holanda “entusiasmado”, seguindo-se meses de preparação, com a promessa de que Portugal terá no Euro2017 “as melhores para fazer o melhor”.

“Temos de ser honestos. Não é 50/50 em todos os jogos mas toda a gente poderá fazer a sua surpresa, toda a gente tem as suas armas e nós já conseguimos provar que conseguimos contra equipas acima de nós no ‘ranking'”, descreveu.

O selecionador aponta a Inglaterra e a Espanha como “declaradamente candidatas” à passagem da fase de grupos, mas também adivinha “grandes dificuldades” com a Escócia e promete “fazer tudo para complicar as contas”.

“Tendo em consideração as equipas [do Grupo D], não temos obrigação de nos assumirmos como candidatos ou favoritos, mas temos a nossa ambição. Sabemos o que queremos, sabemos o que precisamos de fazer para equilibrar os jogos. Gostávamos muito de regressar só depois de 6 de agosto, mas sabemos que o percurso para nós neste momento não é visto assim”, apontou.

A Espanha será o primeiro adversário de Portugal, num encontro marcado para 19 de julho, em Doentinchem. Segue-se a Escócia (21.ª da hierarquia), a 23, em Roterdão, e, quatro dias depois, em Tilburgo, a Inglaterra, quinta equipa do mundo.

“Tendo em consideração a diferença que existe entre a nossa equipa e as equipas de ‘top’ europeu, sabemos que vai ser um campeonato muito competitivo, mas também sabemos que em todos os campeonatos da Europa há sempre um ‘outsider’ e iremos fazer tudo para conseguir ser essa surpresa”, acrescentou.

Francisco Neto aponta como características da equipa lusa, cuja média de idades ronda os 23 anos, “a inteligência, a boa tomada de decisão e muita entrega e paixão pelo jogo”.

Questionado sobre o que significa a expressão que usou ao longo da caminhada para o apuramento e que lhe serviu de síntese quando comentou o feito “histórico”, explicou à Lusa o que é “jogar à Portugal”.

“É ter uma identidade própria. É sermos inteligentes, procurarmos tomar boas decisões, sermos disponíveis para o jogo, sermos solidárias e com uma grande dinâmica tanto a atacar como a defender”, descreveu.

Natural de Mortágua, onde acompanhava o pai e o irmão, treinador e jogador no emblema local, quer no banco a ver o jogo, quer no balneário a ouvir a palestra, Francisco Neto foi o segundo melhor no Curso de Treinadores de IV Nível da UEFA (2013), à frente de Nuno Espírito Santo, Sérgio Conceição ou Paulo Fonseca, nomes ligados a clubes e ao futebol masculino, um percurso que o selecionador não descarta, mas não aponta como prioridade, frisando estar focado no presente e no projeto da FPF.

“A minha ambição é poder trabalhar onde realmente gosto. A FPF, neste momento, reúne essas condições. Gosto muito de trabalhar com o futebol feminino. Tenho condições fantásticas para desenvolver a minha paixão e, enquanto assim for, não penso em sair para o masculino. Quero ir desfrutando dos momentos. O futuro logo se verá”, concluiu, numa entrevista realizada nas instalações da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, onde Francisco Neto estudou.