Chegaram 40 minutos depois da hora marcada para a aterragem do voo, para grande explosão de alegria, cânticos de “Portugal, Portugal, Portugal”, celebrando a “medalha de ouro” a ritmo, além do já inevitável “campeões, campeões”.
A explosão de alegria e celebração prosseguiu durante largos minutos, com pedidos de ‘selfies’, muita festa, abraços e lágrimas, com a família em peso, muitos amigos e ainda mais adeptos desejosos de verem os novos heróis do desporto nacional.
Uma hora antes do previsto para a aterragem do voo proveniente de Paris, onde Iúri Leitão foi prata no omnium e ouro no madison, com Rui Oliveira, já muitos entusiastas aguardavam no aeroporto.
Vieram de autocarros fretados pela junta de Santa Marta de Portuzelo, freguesia de Viana do Castelo, berço de Leitão, e de Canelas, Vila Nova de Gaia, de onde Oliveira é natural, mas também se viam muitas camisolas de clubes de Ponte de Lima, para lembrar Fernando Pimenta, com duas medalhas olímpicas noutros Jogos Olímpicos mas aquém do que procurava em Paris2024, até apoiantes da nadadora Angélica André.
A espera por uma das últimas ‘remessas’ de atletas da Missão portuguesa foi preparada com pompa e circunstância, entre conversas cruzadas, bandeiras de Portugal acenadas e cânticos ensaiados para mais tarde.
Entre t-shirts de “porquinhos voadores”, em alusão à alcunha de ‘Flying Piggy’ de Iúri Leitão, camisolas de clubes e outras caras conhecidas, como a de outro ciclista de pista, Diogo Narciso, uma faixa enorme destacava-se: “Força Iúri, Santa Marta de Portuzelo está contigo”.
Manuel Ribeiro meteu folga no trabalho que faz na Sambiental, empresa que também ajudou à carreira de Leitão, na fase formativa. “Tinha quase a certeza que ele ia ganhar, apostei mesmo. Merecia”, atira.
O menino Iúri “era muito magrinho”, lembra, recordando também o apoio dos pais e do avô. “Foi aventureiro, porque é muito difícil. É gente humilde”, elogia.
Conterrâneo de Iúri Leitão, Afonso Coelho tem 17 anos e também dá os primeiros passos no ciclismo na Tensai, uma das equipas de formação do campeão olímpico nas origens, que se deslocou em peso ao aeroporto.
“É uma felicidade enorme termos um atleta que cresceu na Tensai, começando lá a carreira, (…) a trazer uma medalha muito importante para Portugal”, diz à Lusa.
Ver os campeões de perto é “uma motivação e inspiração muito grande”, depois da emoção de assistir às finais, tanto para jovens que ali têm ídolos e exemplos como para os mais velhos, como Duarte Ferreira, ciclista amador que vive em Vila Nova de Gaia.
“A minha paixão é o ciclismo, ver Portugal ganhar medalhas com um ciclista diz-me mais. (…) Estava em Santa Marta de Portuzelo e tinha de vir”, conta.
Ter dois campeões olímpicos na sua modalidade de eleição “tem uma dimensão” que nem consegue quantificar. “Não sei se vamos ter caso igual no futuro próximo. Oxalá”, refere.
Os vianenses intercalavam-se na zona de chegadas do aeroporto com gaienses devotos de Rui Oliveira, entre os quais a mãe Lucinda Oliveira, ainda a digerir as emoções de sábado.
“Eu estava lá. No final, dei-lhe um grande abraço e um beijo. Ele disse-me que não estava a acreditar, mas eu lembrei-lhe que já tinha um ouro ao pescoço”, confidenciou, vendo o filho a “chegar devagarinho onde quer”.
Hélder, um dos três irmãos Oliveira com vínculo ao ciclismo, mostrou-se “mais liberto da adrenalina e de coração cheio”, após ter mudado de expectativas com o desenrolar da prova em Saint-Quentin-en-Yvelines.
“Tinha convicção de que eles poderiam ir buscar um diploma, que era o grande objetivo, mas durante a corrida comecei a perceber que, se calhar, poderiam ir às medalhas e até ao ouro. A corrida é muito dinâmica, tudo é muito reativo e nunca sabemos o desfecho, mas, felizmente, chegámos ao ponto mais alto”, contou.
A festa de Rui Oliveira “vai ficar um bocadinho adiada” em função da partida iminente para a Volta à Dinamarca, na qual terá de “assentar emoções” ao serviço da UAE Emirates entre quarta-feira e domingo.
Não tarda, contudo, que possam ter de voltar a território dinamarquês, onde de 16 a 20 de outubro, na cidade de Ballerup, vai decorrer o Campeonato do Mundo de ciclismo de pista.
Em Ponte de Lima, município limítrofe de Viana do Castelo, ficará Fernando Pimenta, prata em Londres2012 e bronze em Tóquio2020, que não escondeu as lágrimas perante o conforto da multidão limiana, após ter ficado aquém do objetivo de se tornar o primeiro português a conquistar três medalhas em Jogos Olímpicos.
A terra não deixará de celebrar o seu limiano, numa receção marcada para hoje à noite, assim como em Santa Marta de Portuzelo a celebração se vai estender até altas horas da madrugada.
Ricardo Tavares Ferreira e Simão Freitas, da agência Lusa.
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