Qual é o melhor torneio de futebol do Mundo? Sim, o Mundial de Futebol… então vá, o segundo melhor? Liga dos Campeões, sim, sim têm razão… então e quem fecha o top-3? O Campeonato da Europa ou a Libertadores? Estão a falar a sério?
Bem, tínhamos pensado que o Mundial de Clubes ocupava um lugar alto na hierarquia dos melhores campeonatos/torneios a nível mundial, mas perante o cenário atual é normal que os adeptos do Desporto Rei não se interessem em absoluto pelo Mundial de Clubes.
MAS O QUE É O MUNDIAL DE CLUBES DA FIFA?
O nome parece extremamente atractivo e o seu conceito, na origem, também. Sempre é o momento em que os melhores dos melhores se reúnem no mesmo espaço e disputam o título de Campeões do Mundo a nível de clube. Só que não é bem os melhores dos melhores, é mais os Campeões dos Campeões que merecem o “convite dourado”, o que limita logo o número de equipas e jogos.
Por isso, o que podia ser um extraordinário encontro entre os mais distintos e diferentes “sabores”, misturando o mundano com o exótico, entrelaçando as cores dos grandes clubes mundiais num super evento, é uma mão e meia cheia de clubes, que conquistaram as respetivas competições continentais/regionais, recebendo a oportunidade por gladiar-se pelo título de Campeão do Mundo.
Acaba por ser um pouco marketing enganoso, porque o Mundial de Clubes é em nada similar ao de seleções, que recebe mais de 32 equipas durante um mês de jogos, criando não só estórias, mas também lendas e uma memória eterna.
O Mundial de Clubes só tem sete participantes… e quem são eles? Os vencedores da Libertadores 2017 (Grémio), da Liga dos Campeões da Oceânia (Auckland City), da Liga dos Campeões da CONCACAF (Pachuca), da Liga dos Campeões Africana (Casablanca), da Liga dos Campeões Asiática (Urawa Red Diamonds) e o da “verdadeira” Liga dos Campeões (Real Madrid). Ah, e esquecemo-nos de mais uma formação: o Al-Jazira, campeão do Campeonato Nacional dos Emirados Árabes Unidos.
Ou seja, o país que recebe a competição, garante pelo menos o seu campeão nacional na competição de acordo com o atual formato.
Mas então o Campeonato do Mundo de Clubes tem importância e impacto para o Mundo do desporto? Ou é uma competição que só vale a pena seguir quando há um tomba gigantes?
A competição é em si satisfatória quando falamos dos jogos entre equipas que não metam o campeão europeu, com um futebol algo vibrante, animado e com interesse para quem quer descobrir novos nomes ou perceber se aquela “estrela” que já ouviram falar se realmente é assim tão bom - em 2017, escolheríamos Arthur do Grémio, mas o médio vai falhar a competição por lesão.
Porque é que dizemos que o campeão europeu de certa forma “estraga” tudo? Podíamos vincar o facto a diferença de poderio, qualidade e “carteira” de um Real Madrid para um Grémio ou Urawa Reds, mas não é (principalmente) por esse fator.
O problema é a forma como os clubes europeus entram em campo neste Mundial de Clubes, com muito poucos a ter uma postura “agressiva”, interessada e dinâmica, apresentando uma clara motivação que cada jogo é um encontro difícil e que exige a máxima atenção.
A EUROPA “REDESCOBRE” O CAMINHO PARA OS TÍTULOS
Podíamos facilmente recuar até ao ano de 1960 e começar de lá para cá a analisar caso a caso, descobrindo aqueles que se “portaram” menos bem em torneios mundiais, todavia, para não aniquilar com a vossa atenção, vamos abordar o histórico da competição a partir de 2000 (uma pequena nota, o Mundial de Clubes já foi apelidado de Taça Intercontinental, mas os modelos competitivos são amplamente diferentes, com a Intercontinental jogada em apenas um só encontro).
Nesse preciso ano de 2000, o Real Madrid participou em dois torneios internacionais de Clubes e… perdeu ambos. Primeiro jogou o último Mundial de Clubes no início de 2000, terminando em 4º, atrás do Necaxa, Vasco da Gama e, do campeão, Corinthians.
Depois viajou até Tóquio para defrontar o Boca Juniors em novembro do mesmo ano e correu, mais uma vez, bastante mal. Martín Palermo (recordam-se?) marcou dois golos logo a abrir o encontro que sentenciou o jogo. Os madrilenos não conseguiram melhor que um golo de Roberto Carlos mas de nada valeu à equipa onde militavam nomes como Casillas, Figo, Raúl ou Hierro.
Bayern de Munique suou no ano seguinte frente à mesma formação argentina, conquistando a vitória em tempo de prolongamento. Os argentinos voltariam a levantar a competição em 2003 ante o super AC Milan de Carlo Ancelotti, nas grandes penalidades. O FC Porto foi o último grande vencedor da Taça Intercontinental, com uma vitória nos penalties contra o Once Caldas, extinguindo-se com esse troféu no ano seguinte.
E desta forma em 2005 voltou o Mundial de Clubes, com o Brasil a reerguer o troféu… Liverpool foi a vítima do São Paulo e o mesmo se passaria no ano seguinte, quando o Internacional “tramou” o Barcelona de Deco, Iniesta e do “astro” Ronaldinho.
Esta instabilidade dos clubes europeus acabou a partir de 2007, que conquistariam nove das últimas dez edições, com o Barcelona a dominar a lista dos vencedor (3), seguido do Real Madrid (2), com Manchester United, Bayern de Munique e mais uns quantos a ocupar o 3º lugar (1).
Outro dado curioso, é que Cristiano Ronaldo pode ultrapassar Lionel Messi como o vencedor máximo de Mundiais de Clubes, já que ambos somam três troféus cada… se o Real Madrid reerguer o título de forma consecutiva (algo que não acontece desde 1993 quando o incrível São Paulo de Müller e Leonardo derrotou o AC Milan por 3-2), Ronaldo estabelece assim mais um recorde.
Em jeito de conclusão desta “parte” histórica, os clubes europeus só “normalizaram” a sua situação nos últimos 10 anos, não fugindo ao habitual “susto” de quase perderem a competição para equipas menos conhecidas (o Real Madrid teve de ir ao “fundo do poço” para derrotar o Kashima Antlers em 2016).
Agora é esperar para saber se a América do Sul reergue-se ao ponto de “bater ao pé” aos seus “primos” europeus, ou se está na Ásia o futuro candidato a levantar o título do Mundial de Clubes.
Voltando rapidamente a um tom mais “sério”, seria bom que se desse uma mudança nos modelos competitivos do Mundial de Clubes de forma a não só ter mais “inscritos”, como a motivar o público a aceitar a competição como algo de extraordinário e que pode estar acima das (várias) Ligas dos Campeões que por aí existem.
AS EQUIPAS E OS SEUS CAMINHOS
Como já referimos, para além do colosso Real Madrid, 6 equipas jogam o Mundial de Clubes. Urawa Reds (Japão), Pachuca (México), Wydad Casablanca (Egipto), Grêmio (Brasil), Auckland City (Nova Zelândia) e Al-Jazira (EAU) chegam com favoritismos diferentes mas a mesma ambição: surpreender o Real. Para isso é preciso chegar à meia-final com os espanhóis.
Al-Jazira e Auckland City lutam dia 6 por um lugar nos quartos-final, estreando a competição. O vencedor jogará com os japoneses do Urawa pela possibilidade de defrontar Ronaldo e companhia. No outro jogo dos “quartos”, Wydad e Pachuca decidem quem defronta o Grêmio na segunda meia-final.
Para além do claro favorito Real, o Grêmio apresenta-se como o concorrente mais forte. Os brasileiros (vencedores da Copa Libertadores) poderão causar problemas ao Real mas, para isso, terão que vencer a sua meia-final. A heterogeneidade do futebol já referida poderá causar problemas aos favoritos e trazer surpresas numa competição tão curta.
Os caminhos que trouxeram esta elite até aqui são o mais distintos possível com um pormenor em comum: todos são campeões.
O caminho de Real Madrid é bem conhecido: 4-1 na final frente à Juventus.
O Grêmio venceu o Lanús na final da Libertadores (agregado de 3-1) para voltar a colocar uma equipa brasileira no Mundial (3 anos depois).
Os japoneses do Urawa venceram a “sua” Liga dos Campeões num agregado de 2-1 com os sauditas do Al-Hilad.
Por seu turno, o Pachuca mantém a tradição de haver mexicanos nesta competição. Venceram na final os também mexicanos dos Tigres por 2-1.
Em África, o Wydad venceu (também por 2-1) os egípcios do Al-Ahly para garantirem o lugar no Mundial de Clubes. Por fim, o Auckland City que venceu os também neozelandeses do Wellington Team (5-0) e já vai em 7 presenças consecutivas no Mundial.
Se é verdade que todos os presentes dominaram o seu continente (tirando o anfitrião Al-Jazira), é também verdade que todos querem o mesmo: ser “donos” do Mundo.
AS ESTRELAS
Como seria de esperar, as maiores estrelas do torneio chegam de Madrid. O Real é uma das melhores equipas do mundo e os seus executantes são de elite. De Ronaldo a Sérgio Ramos passando por Isco e Modric, o Real apresenta as maiores e melhores individualidades do torneio. É, graças a isso, que os espanhóis são os grandes favoritos. Mas nem só de Real se faz o Mundial. As restantes seis equipas têm, também elas, os seus argumentos e as suas estrelas.
Os anfitriões do Al-Jazira depositam as suas esperanças no brasileiro Romarinho e em Ali Mabkhout.
Ambos jogadores rápidos e vistosos capazes de animar qualquer jogo e resolver qualquer lance seja de bola parada ou em arrancadas virtuosas. A dupla de avançados procurará causar surpresa em casa.
A grande ausência será Lassana Diarra, aparentemente de saída dos Emirados. A sua experiência é crucial no meio-campo da equipa e a sua falta será certamente sentida.
Os kiwis de Auckland City são uma cara conhecida do Mundial. Este ano já sem o português João Moreira (sem clube), os neozelandeses têm na frente de ataque a sua maior força. A dupla De Vries e Tate combinam um poder de finalização impressionante.
O primeiro é um neozelandês conhecido por resolver jogos e o segundo é um argentino virtuoso com um faro de golo apurado. A juntar a estes dois há ainda Zubikarai. Guardião espanhol (ex-Tondela) com muita experiência.
Do Japão chegam os Urawa Reds. Uma equipa desconhecida da maioria que fará disso a sua maior arma. Destacam-se nos japoneses o brasileiro Rafael Silva, os nipónicos Shinzo Koroki, Tomoaki Makino, Wataru Endo. Os dois últimos compõem a dupla no eixo da defesa à frente de Nishikawa. Juntos dão uma solidez defensiva gigante aos japoneses. No plantel do Urawa podemos ainda encontrar Maurício Antônio, ex-Marítimo, uma excelente alternativa para o centro da defesa.
O Pachuca vem do México com ambições e estrelas. A grande força dos mexicanos reside no meio-campo com a presença de um japonês bem conhecido: Keisuke Honda. Sim, esse mesmo que chegou a jogar pelo AC Milan.
Ao seu lado joga Erick Gutierrez, um jovem mexicano de 22 anos com um potencial enorme e que pode, num palco Mundial, mostrar-se aos colossos europeus. A atuar pelo Pachuca poderemos ver ainda dois velhos conhecidos do nosso campeonato: Urretaviscaya e Franco Jara. Dois jogadores ex-Benfica a atuar pelos mexicanos.
De Marrocos chegam Noussir e Aoulad, as estrelas do Casablanca. O primeiro é um lateral direito completo que dá profundidade à equipa. O segundo é um goleador belga (com nacionalidade marroquina) que promete golos e uma pressão forte à saída de bola adversária. Quem sabe não virá deles a grande surpresa do torneio.
Por fim, mas não menos importante, o Grêmio. O tricolor de Porto Alegre chega ao Mundial com a esperança de levar o título para o Brasil. A lesão de Arthur é um grande contratempo para os brasileiros, mas o médio não é a arma única.
Na baliza mora Marcelo Grohe, guardião experiente e seguro que transmite imensa tranquilidade à sua defesa. E na frente à Luan, um jovem de 21 anos, brilhante a jogar atrás do ponta-de-lança. Luan tem o futebol brasileiro nos pés e dele parte o maior perigo deste Grêmio.
E, desta forma sucinta, apresentamos um guia do Mundial de Clubes 2017 com uma atenção especial para o Grémio, Pachuca e Real Madrid, os três potenciais candidatos ao cetro. A questão agora vai para a importância ou não do troféu e, em caso negativo, o que irá fazer a FIFA no futuro para remodelar aquele que pode ser um troféu fraturante para o Desporto-Rei.
O Mundial de Clubes começa este dia 6 de dezembro com um duelo exótico entre neozelandeses e emiradenses, que merece, pelo menos, uma atenção daqueles que gostam do lado mais “estranho” e diferente do futebol.
Francisco Isaac é editor no Fair Play... desde o Mundo da bola Oval aos confins da Segunda Liga, a criação de artigos passa por descobrir os pormenores e detalhes que colocam o desporto em maiúsculas.
Rui Mesquita é editor no Fair Play para assuntos do futebol nacional e NBA.
O Fair Play é um projeto digital que se dedica à análise, opinião e acompanhamento de diversas ligas de futebol e de várias modalidades desportivas. Fundado em 1 de Agosto de 2016, o Fair Play é mais que um web site desportivo. É um espaço colaborativo, promotor da discussão em torno da actualidade desportiva.
Comentários