Não estranhe se durante este Campeonato do Mundo, não encontrar ecrãs gigantes pelas praças ou alamedas das cidades de Lisboa e do Porto, ao contrário do que foi regra tanto em Mundiais como em Campeonatos da Europa anteriores.

A concentração de adeptos vestidos com as cores da seleção parece ser um cenário improvável neste Campeonato do Mundo, já que, segundo o que foi revelado pelas autarquias ao SAPO24, ambas as cidades não planeiam criar fan zones para o acompanhamento da competição.

Questionadas se a decisão acompanha o boicote anunciado por várias cidades europeias contra a organização do torneio no Qatar, entre as quais Paris, as autarquias escusaram entrar em pormenores, com autarquia da capital a dizer apenas que "avaliados os cenários, foi decisão da CML não criar nenhum espaço oficial da CML para acompanhamento do Mundial do Qatar".

Há uma semana, a associação Frente Cívica avançou com um pedido às câmaras municipais de Lisboa e do Porto para que “boicotem” o Mundial2022, em protesto contra “a corrupção e as violações de direitos humanos” no Qatar. Neste comunicado apelava-se especificamente à não instalação de fan zones “ou quaisquer áreas para visualização coletiva dos jogos” do Mundial2022.

A Frente Cívica defendeu que o boicote iria alinhar as duas principais cidades do país “com as melhores práticas de condenação da violação dos direitos fundamentais que nos constituem enquanto sociedade”.

Segundo estimativa de organizações internacionais, a construção das infraestruturas do Mundial2022 causaram a morte de mais de 6.500 trabalhadores migrantes, cujos direitos foram alvo de “violação sistemática”. Já na semana passada, o embaixador do Mundial, Khalid Salman, classificou a homossexualidade como “um distúrbio mental”, reiterando que qualquer adepto que viaje para o país terá de “aceitar” as regras do Qatar.

“Consideramos imoral e ilegítimo que haja recursos públicos a festejar esta barbárie civilizacional”, defendeu a associação, que lembrou ainda os “escândalos de corrupção associados à atribuição da organização” do Mundial 2022 ao Qatar que, segundo uma investigação jornalística do jornal britânico Sunday Times e o testemunho de uma antiga funcionária da candidatura catari, terá envolvido a troca de vários milhões de euros por 'apoios'.

O torneio tem sido condenado por várias personalidades e foi alvo de várias ações de protesto, uma das quais dentro do próprio torneio, com a Dinamarca a apresentar-se com um equipamento principal diferente do habitual e um alternativo preto. O objetivo da ação foi homenagear aqueles que morreram ou ficaram feridos na construção de estádios, rede de metro, estradas e hotéis em Doha.

O Campeonato do Mundo masculino de futebol vai decorrer entre 20 de novembro e 18 de dezembro, com a seleção portuguesa apurada e inserida no Grupo H, com Uruguai, Gana e Coreia do Sul.

*Artigo  atualizado às 16h34 com mais declarações da CML