Quando entrou em campo no Estádio do Dragão, o 11 do SL Benfica escalado por Bruno Lage tinha, em média, menos 4 anos que o do FC Porto escolhido por Sérgio Conceição. Miúdos contra graúdos? Só na aritmética. Como disse o técnico dos portistas no final, “não há juventude, há jogadores profissionais de futebol” e “competência”.
Mas a verdade é que o jogo começou por ser pintado em tons de azul. Já depois de um cruzamento de Marega que atravessou a pequena área sem que Adrián conseguisse emendar, logo aos 4 minutos, o espanhol inaugurou o marcador, 14 minutos depois.
Na sequência de um livre marcado pelo próprio Adrián, a bola bate na barreira e na recarga o mesmo jogador remata em arco e faz o golo. Foi o primeiro golo no campeonato para o avançado espanhol, que relegou Soares e Fernando Andrade para o banco e tem sido titular desde que marcou em Roma o golo que deu aos Dragões a esperança de ainda seguir em frente na Liga dos Campeões.
O lance suscitou dúvidas devido ao posicionamento de Pepe (poderia estar em fora de jogo posicional porque na altura do remate está à frente do guarda-redes do SL Benfica, apesar de não tocar na bola), mas Jorge Sousa validou o golo e o estádio festejou pela segunda vez. Ainda não percebemos se o VAR retira ou duplica as emoções do jogo, visto que qualquer decisão é festejada – ou contestada – em duplicado.
Mas o “Lagismo” iria aparecer. Este SL Benfica, de resto, não é “só” miúdos. É verdade que jogou com uma dupla de centrais de 21 anos (Rúben Dias e Ferro) e que os 19 anos de João Félix também lá estão, apesar de se notarem pouco. Mas a equipa liderada pelo Professor Lage é também uma espécie de clube de proscritos ou mal-amados na Luz: Samaris, Seferovic, Gabriel e Corchia foram todos utilizados no Clássico e se há uns meses perguntássemos a adeptos benfiquistas se acreditariam numa vitória no Dragão com uma equipa assim composta as respostas poderiam não ser as que teríamos hoje. Além disso, a Jonas-dependência também parece ter terminado: com Bruno Lage o SL Benfica marcou 35 golos em 9 jogos, contra 31 golos em 15 jogos com Rui Vitória.
Depois do golo do FC Porto o SL Benfica tentou ir atrás do resultado, criou perigo por Pizzi aos 22’, que rematou já dentro da área e obrigou Casillas a aplicar-se com os pés, e acabou mesmo por marcar. Minutos depois o guardião espanhol teve de sair da baliza, jogou para o seu meio-campo e Adrián e Manafá não conseguiram controlar da melhor forma, permitindo a Seferovic recuperar a bola. O suíço não se fez rogado e galgou alguns metros até assistir João Félix, que na cara de Casillas não desperdiçou e fez o empate.
Foi o 9.º golo no campeonato para o miúdo de 19 anos, ele que já tinha marcado em Alvalade e também na Luz, frente ao Sporting CP.
Numa primeira parte marcada pelo equilíbrio, a humorista (e portista) Joana Marques, que comentou o jogo no liveblog do SAPO24, dizia que “o Porto deu uma parte de avanço porque está a jogar com crianças e quer deixá-las brincar”.
Pois bem, o “recreio” continuou mesmo depois do intervalo, com o segundo golo do SL Benfica a chegar logo aos 51 minutos. Rafa recebe um ressalto fruto de um cruzamento falhado de Grimaldo, dá para Pizzi dentro da área, que segura a bola de costas para a baliza, devolve ao extremo e este remata já dentro da área para consumar a reviravolta no marcador.
Foi a 14.ª assistência no campeonato para Pizzi, que tem influência num terço dos golos do Benfica na competição (66 golos marcados pelas águias, sendo que 8 foram marcados por Pizzi e 14 assistidos pelo mesmo).
Estava consumada a reviravolta e o campeonato tinha novo líder, num fim de semana recheado de clássicos um pouco por toda a Europa: neste sábado, para além do FC Porto-SL Benfica, tivemos direito a Real Madrid-Barcelona, Lázio-Roma, Arsenal-Tottenham e amanhã há Everton-Liverpool e Nápoles-Juventus.
Mas voltemos à cidade Invicta para dizer que Clássico que é Clássico, tem sururu (uma das minhas palavras favoritas na gíria futebolística). Os protagonistas mais visíveis: Gabriel, Otávio, Pepe, Ruben Dias e Brahimi. O resultado: Gabriel é expulso com dois amarelos seguidos: um pela falta sobre Otávio que deu origem ao sururu, outro pelo sururu em si (e prometo que não escrevo sururu mais nenhuma vez ao longo da crónica).
A jogar com menos um, o SL Benfica fechou-se lá atrás e o FC Porto carregou, tendo criado perigo por Felipe, com um remate de fora da área para defesa difícil de Vlachodimos e uma bola à barra na sequência de um canto, por Otávio, através de cabeceamento por cima da barra após cruzamento de Herrera, e por Marega, que já dentro da pequena área rematou para defesa do guardião grego.
Mas a noite era dos miúdos (e dos proscritos) de Lage. Os Offspring (alô, tudo bem? Os anos 90 ligaram) têm uma música chamada “The Kid’s Aren’t Alright” (“Os Miúdos Não Estão Bem”, traduzindo literalmente), que supostamente fala sobre o regresso do seu vocalista ao bairro da sua infância e adolescência, onde constata que os seus amigos da altura tiveram destinos difíceis. Pois bem, ao contrário da música, estes miúdos (e proscritos) estão bem e recomendam-se. "Estão a fazer de mim treinador", como referiu Bruno Lage na flash interview. E são os novos líderes do campeonato.
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
No dia em que fez o seu 100.º jogo pelo FC Porto, Pepe deu um “cheirinho” desnecessário a João Félix à meia hora, quando o jogo estava parado. Nove minutos depois uma entrada de pé em riste do jovem avançado sobre o defesa – que, apesar tudo, não o atingiu – deu origem a nova altercação entre os dois, com Pepe a reagir e a enfrentar Félix. Pode ser que daqui a uns tempos se reencontrem na Seleção e possam fazer as pazes.
Fica na retina o cheiro a bom futebol
É estranho dar destaque a uma jogada defensiva num segmento que fala de “bom futebol”? Acho que não. Aos 72 minutos Manafá subiu pela direita e quase-assistiu Herrera na zona de penálti. “Quase-assistiu” porque estava lá Samaris, que com um corte incrível tirou o pão da boca ao mexicano e impediu aquele que poderia ser o golo do empate dos Dragões.
Pizzi, a vantagem de ser o melhor assistente da liga
No final da primeira parte já tinha ameaçado: isolou Seferovic mas o suíço rematou à figura de Casillas, numa jogada que merecia mais a jogada entre o rei das assistências (14 passes para golo) e o rei dos marcadores (15 golos) do campeonato. No início da segunda, aconteceu mesmo: Pizzi recebeu na área de Rafa e devolveu-lhe a bola para que este marcasse. Assistência primorosa para o golo da vitória benfiquista, que colocou os encarnados como novos líderes do campeonato.
Nem com dois pulmões chegava a essa bola
Aos 16 minutos Brahimi arrancou. Só esta frase deveria ser suficiente para saber que alguém não o conseguiria alcançar. Mas expliquemos: o argelino pegou na bola ainda antes do meio-campo e passou por Rafa e Samaris, até ser derrubado po Rúben Dias à entrada da área. A jogada deu amarelo para o central do SL Benfica e também origem ao golo do FC Porto, que aconteceria na sequência do livre.
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