A 17 de outubro, nem o mais arrojado dos profetas preveria o contexto em que este Clássico no Estádio do Dragão seria disputado.

À quarta jornada do campeonato, quando FC Porto e Sporting defrontaram-se em Alvalade, os leões partilhavam a precoce liderança com o Benfica e o Porto seguia logo atrás fruto de uma surpreendente derrota com o Marítimo em casa. O jogo acabou num empate a dois golos, com os dragões a controlar e os leões a surpreender com um tento tardio.

Volvidos quatro meses, a turma de Rúben Amorim manteve-se no topo da liga e a de Conceição ao seu encalço, mas com uma dilatada diferença de 10 pontos entre si. Pelo meio, as duas equipas voltaram a defrontar-se, nas meias-finais da Taça da Liga, com a sorte do jogo a sorrir para o Sporting, vencendo por 2-1 em Leiria.

Com 14 jornadas para disputar, este jogo, não decidindo nada, podia dar sinais bem distintos para aquilo que é o remanescente por disputar: se o Sporting vencesse, saíria da Invicta com uma vantagem ainda maior e um élan para conquistar o troféu que há quase duas décadas lhe escapa; caso fosse o FC Porto a triunfar, a desvantagem encurtada para sete pontos e o reforço anímico abririam os horizontes para os dragões se encaminharem numa recuperação semelhante à que protagonizaram no ano passado, quando a vitória ao Benfica no Dragão acabou numa reconquista do campeonato já em julho.

Os dois embates entre as duas equipas deram matéria suficiente para os treinadores se estudarem entre si, e tanto Rubén Amorim como Sérgio Conceição quiseram demonstrá-lo na antevisão a esta partida.

O mote foi dado pelo técnico dos dragões. “Olhamos para o Sporting e percebemos que é fácil de desmontar, mas temos de ser competentes para o saber fazer”, sublinhou Conceição. Amorim, por sua vez, assentiu. “Já temos algumas nuances diferentes, mas é fácil, qualquer pessoa olha para o Sporting e sabe como se vai apresentar, de uma forma geral”, concedeu o treinador leonino. 

O treinador do Sporting, porém, não deixou de demonstrar que conhece bem a turma portista, adivinhando praticamente todo o onze do Porto na sua antevisão, como as fichas de jogo viriam a demonstrá-lo: Sérgio Conceição apostou no mesmo 4-4-2 que dominou a Juventus em casa, ao passo que o Sporting entrou com a mesma equipa que bateu o Portimonense — novamente marcada pela ausência de Paulinho, lesionado.

Se ambos os técnicos fizeram questão de avisar o outro de que estavam preparados, o jogo —que antes teve um minuto de silêncio pela morte de Alfredo Quintana — comprovou-o desde bem cedo. Os dragões demonstraram ao que vinham e ensaiaram um “blitz” como o que aplicaram à Vecchia Signora, com a equipa a projectar-se de imediato após o apito inicial, limpando a defesa leonina.

Conceição disse que era fácil desmontar a equipa do Sporting e o FC Porto fez jus às suas palavras. Procurando os leões construir jogo pelo chão a partir da defesa, os dragões conseguiram anular o jogo verde-e-branco quase por completo ao pressionar logo no primeiro terço, forçando sucessivos erros.

O sufoco portista obrigou o Sporting a bater longo e os leões, sem uma referência ofensiva possante, perderam a bola sistematicamente para os dragões. A equipa ressentiu-se da ausência de Paulinho para um jogo destes, já que Tiago Tomás foi incapaz perante os centrais portistas e os alas também foram bem controlados. Também no meio campo, apesar de ter em Palhinha o seu esteio, os leões foram engolidos pelo Porto, que acabou por ter mais bola e, consequentemente, mais oportunidades.

Já Amorim, manteve fé na sua fórmula e esta impediu a sua equipa de ir para o intervalo em desvantagem. Com a solidez defensiva a que nos habituou este ano, o Sporting também logrou impedir os dragões de criar (muitos) calafrios, quer pelo controlo da profundidade a apanhar Marega ou Taremi em fora de jogo, quer pela solidez de Coates, Inácio e Feddal.

O resultado, previsivelmente, foi uma primeira parte chata e faltosa, mas que até podia ter sorrido para o FC Porto. Depois de 15 minutos iniciais sofríveis, os primeiros gritos de desespero e  suspiros de alívio ouviram-se um pouco pelo país quando Manafá, seguindo em lei da vantagem após falta sobre Otávio, rematou cruzado do lado direito para defesa apertada de Adan. Uma réplica surgiu pouco depois, após uma perda de bola em zona proibida do Sporting, com Taremi a visar a baliza e a bola a sair pouco por cima depois de desviar em Inácio.

Com um nulo no marcador, faltava a tal “competência” que Conceição considerava ser necessária para levar de vencida. Na segunda parte, todavia, também não surgiu. O treinador do FC Porto fez a equação certa para dominar os leões, mas esqueceu-se de uma incógnita: a noite péssima de Taremi.

Não tendo sido os segundos 45 minutos muito mais entusiasmantes que os primeiros, os dragões podiam ter aberto o marcador não fosse a incapacidade demonstrada pelo avançado iraniano, atualmente o segundo melhor marcador do campeonato. Primeiro, uma bola de morte de Corona, cruzada rasteira e tensa, tabelou nas suas pernas e foi para fora quando estava isolado na área; mais tarde, num lance semelhante em que Manafá tira Feddal da jogada, o avançado portista até conseguiu rematar, mas por cima.

Do lado do Sporting, a mesma incapacidade em tecer um jogo ofensivo consistente, deixando-se dominar no próprio meio-campo. Contudo, o jogo abriu para os leões com a entrada de Matheus Nunes por Nuno Santos, assumiu funções na ala. Foi nos seus pés que esteve a melhor — e praticamente única — chance de golo para a equipa de Alvalade, quando correu pelo corredor direito fora, fletiu a passada e atirou por cima com muito perigo, quase vestindo a pele de herói que envergou no jogo contra o Benfica.

As equipas refrescaram-se à medida que o Clássico caminhava para o fim, mas sem diferença no marcador. À semelhança do que têm sido os jogos entre os grandes esta época (e não só), foi mais uma partida mais batalhada que jogada. Os dois alunos estudaram muito, mas a nota acaba apenas por ser suficiente: um Sporting que não ensaiou um remate enquadrado em todo o jogo, um FC Porto incapaz de traduzir domínio em golos.

O Sporting, que nos últimos quatro anos perdeu sempre no Dragão, mantém a distância para o FC Porto e continua na senda dos bons resultados contra os seus rivais diretos. Já os Dragões, que podem cair para o terceiro lugar caso o Sporting de Braga vença, somam quatro empates em cinco jogos para o campeonato e vão precisar de descuidos do topo para ainda acreditarem na revalidação do título.

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