Nuno Ribeiro, que falou há 10 dias pela primeira vez no julgamento da operação ‘Prova Limpa’, com 26 arguidos, incluindo ex-ciclistas, e que decorre num pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, continua hoje a prestar declarações.
Na sessão de 18 de novembro, o arguido afirmou que havia doping durante todo o ano na equipa de ciclismo, financiado e incentivado pelo patrão Adriano Quintanilha, “mestre da manipulação, que queria ganhar a todo o custo”.
O antigo diretor desportivo, que, a seu pedido, fala na ausência dos restantes arguidos, alegando pressões e ameaças, concretizou na manhã de hoje que “todos [os ciclistas da equipa] se dopavam”, pois, só assim, conseguiriam vencer, situação que era do conhecimento de “toda” a estrutura da equipa de ciclismo, incluindo dos dirigentes.
Nuno Ribeiro contou que Pinto da Costa acompanhou a equipa em algumas provas, sobretudo nas mais importantes, como a Volta a Portugal, afirmando que o antigo presidente do FC Porto “não sabia do esquema de doping” que existia no seio da equipa.
O vencedor da Volta a Portugal de 2003 reiterou que era o arguido Adriano Teixeira de Sousa, conhecido como Adriano Quintanilha e patrão da equipa, quem financiava o doping na equipa, dando dinheiro aos ciclistas para que adquirissem os produtos ilícitos.
Nuno Ribeiro disse que os atletas confiavam em si e que falavam com ele sobre doping, nomeadamente se deviam tomar um determinado produto ou outro, e que se limitou a dar a sua opinião, voltando a negar que tenha instigado a toma dessas substâncias pelos ciclistas.
Perante a resposta, o advogado de Adriano Quintanilha perguntou ao arguido se este tinha formação médica, ao que Nuno Ribeiro respondeu negativamente.
O arguido revelou que, como diretor desportivo, ganhava 2.500 euros mensais, sublinhando que “nunca” transportou envelopes com dinheiro entregues por Adriano Quintanilha, o que acontecia, por exemplo, com ciclistas.
Ribeiro revelou na sessão de 18 de novembro que Quintanilha já o abordou três vezes para que “assumisse a culpa toda”, em troca de 2.000 euros por mês durante dois anos, o que nunca aceitou, acrescentando ter saído do último encontro “cheio de medo”, pois Quintanilha “ameaçava, insultava e humilhava todos”.
Hoje, o advogado do antigo patrão da equipa perguntou ao arguido a razão pela qual aceitou encontrar-se uma segunda vez com o seu constituinte, num hotel, uma vez que se sentiu com medo e ameaçado, após a primeira reunião, que aconteceu num armazém.
“[porque Adriano Quintanilha] Veio falar tranquilo”, respondeu Nuno Ribeiro.
O julgamento prossegue à tarde com o fim das declarações do antigo diretor desportivo.
O presidente do coletivo de juízes pediu a presença dos restantes arguidos da parte da tarde, para que o tribunal lhes comunique o que Nuno Ribeiro disse em julgamento.
Os 26 arguidos respondem por tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 por administração de substância e métodos proibidos.
Entre estes estão Adriano Teixeira de Sousa, conhecido como Adriano Quintanilha, a Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo — o clube na origem da equipa -, o então diretor desportivo Nuno Ribeiro e o seu ‘adjunto’ José Rodrigues.
João Rodrigues, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, Samuel Caldeira, Daniel Mestre, José Neves, Ricardo Vilela, Joni Brandão, José Gonçalves e Jorge Magalhães são os ex-ciclistas da W52-FC Porto julgados por tráfico de substâncias e métodos proibidos, assim como Daniel Freitas, que representou a equipa de 2016 a 2018.
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