Quando os Boston Celtics, somente a mais titulada equipa da história da NBA, anunciaram a contratação de um treinador principal de 36 anos de idade e sem qualquer experiência na liga, muitos analistas torceram o nariz. Sim, Brad Stevens tinha boas referências no basquetebol universitário e liderou os Butler Bulldogs (166 vitórias e 49 derrotas com Stevens no comando) a duas finais da NCAA, mas... tinha 36 anos de vida e zero de NBA. Na altura, o general manager dos Celtics, Danny Ainge, ofereceu-lhe um contrato de seis temporadas e afirmou que dentro de dez ou vinte anos estaríamos a falar de um dos melhores treinadores de sempre. Hoje percebemos o porquê e batemos palmas a Ainge. Clap, clap, clap.

Gregg Popovich, quase 30 anos mais velho e com cinco anéis de campeão ao serviço dos San Antonio Spurs, assume sem rodeios que vê vídeos das equipas de Stevens, desde os tempos da universidade de Butler, para copiar jogadas. E, num gesto pouco comum em Pop, desfaz-se em elogios: "O Brad é uma pessoa especial, dentro e fora de campo. É muito inteligente. E a inteligência é uma coisa boa, mas se não vier acompanhada de incisividade, discernimento e maturidade emocional, não serve para nada. Ele tem isso tudo. E já é um grande treinador", disse o lendário técnico do conjunto texano, no início desta temporada.

Numa liga agora dominada pelos jogadores e, em especial, pelo talento das superestrelas, há uma mão cheia de treinadores que ainda conseguem fazer a diferença. Stevens é um deles. Com uma postura tranquila auto-imposta - diz que é menos efectivo quando está zangado -, o técnico garante que não deixa de ser exigente pelo facto de não andar sistematicamente aos berros. Prefere encorajar os atletas, com estímulos sempre pela positiva, mesmo quando está a fazer uma crítica.

No entanto, o respeito que tem conquistado na liga está relacionado, sobretudo, com o seu conhecimento do jogo, seja pelos complexos esquemas defensivos (os Celtics foram a melhor equipa da NBA, esta época, na eficiência defensiva) ou pelas jogadas que inventa nos descontos de tempo. Mas também por estar à frente do seu tempo, como o provou quando disse que já não prepara a sua equipa tendo em conta cinco posições (point guard, shooting guard, small forward, power forward e center).

A realidade actual da NBA, em que a versatilidade dos jogadores é a característica mais procurada pelos responsáveis das equipas, leva Brad Stevens a afirmar que, no seu entendimento, deve haver apenas três posições: ball-handler, wing e big, numa rotulação independente da morfologia dos atletas e relacionada com as funções de cada posição. Com essa premissa, Stevens criou um sistema ofensivo "player friendly" e consegue imprimir uma rotação mais profunda do banco de suplentes, que pode ir até ao 12.º jogador, sem que se perca intensidade.

Independentemente da qualidade dos ovos, a omolete é sempre gourmet.

Mas a lista de qualidades de Brad Stevens não fica por aqui. É um dos melhores treinadores a potenciar as capacidades dos seus atletas. Que o digam Isaiah Thomas (parecia perdido na NBA e, em Boston, transformou-se em All-Star e já se falava em MVP), Avery Bradley (de candidato a DPOY - Defensor do Ano - nos Celtics a desilusão em Detroit e trocado para os Clippers), Evan Turner (depois de dois anos a ser treinado por Stevens ofereceram-lhe um contrato de 75 milhões de dólares) ou Jae Crowder (brilhou em Boston e, depois, desiludiu em Cleveland). Para não falar dos que ainda lá andam, como Kyrie Irving (agora até defende) e os miúdos-que-parecem-veteranos Jaylen Brown, Jayson Tatum e Terry Rozier.

Há argumentos válidos para "candidaturas" de seis ou sete nomes para o prémio de Treinador do Ano. Mike D'Antoni e Dwane Casey conseguiram os melhores registos da fase regular nas respectivas conferências, Terry Stotts e Brett Brown conquistaram a vantagem casa com equipas que muitos consideravam que nem aos playoffs iam, Quin Snyder transformou os Utah Jazz numa equipa temida, Gregg Popovich e Steve Kerr têm que ser sempre tidos em consideração. Brad Stevens é a minha escolha. Depois de ter perdido Gordon Hayward para toda a época no quinto minuto do primeiro jogo da época, depois de ter perdido Kyrie Irving, Marcus Smart e Daniel Theis na reta final da fase regular, depois de ter ficado privado durante largos períodos da temporada dos contributos de Al Horford, Marcus Morris e Jaylen Brown, a "omolete Stevens" foi sempre uma das melhores.

"Confiamos no Brad. Ele há-de resolver", disse o extremo Jaylen Brown, este ano, durante mais uma onda de lesões que afetou os Celtics. É difícil não confiar. Imagine-se o que poderá fazer numa temporada sem "ovos partidos". Com o domínio total de todas as variantes do jogo de basquetebol, mas apenas cinco anos de experiência a este nível, Stevens está a colocar-se em posição para dominar a NBA com a sua genialidade nas próximas décadas e, como antecipava Danny Ainge, tem tudo para vir a ser o futuro melhor treinador da história da NBA.

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