“Mais logo, ‘a gente’ vê-se em Sobrado”, dizia uma adepta ao ‘dragão’ Samuel Caldeira, enquanto decorria a cerimónia do pódio que consagrou João Rodrigues como o grande vencedor da prova, após um contrarrelógio entre Vila Nova de Gaia e o Porto que atravessou o Douro com os candidatos separados por apenas 41 centésimos.
A partir das 13:00, já se viam pelos Aliados várias camisolas dos ‘dragões’, seja da equipa de futebol seja da equipa de ciclismo, fruto também de dois camiões para venda da indumentária, mas também bandeiras e cachecóis.
De resto, do lado de Vila Nova de Gaia, sobretudo junto ao rio Douro, eram também vários os adeptos dos ‘dragões’ espalhados pela estrada, ainda que fossem torcendo pelos vários corredores que enfrentavam os 19,5 quilómetros do exercício.
Com 16 anos, Alexandre Almeida veio de Aveiro para ver a chegada e apoiar a W52-FC Porto, equipado a rigor e como “amante de ciclismo”, por “gostar de ver”, à semelhança de Renata Maia, de 24 anos.
Veio de Lousada, onde viu passar a etapa que terminou em Felgueiras, e a seguidora de ciclismo acertou na aposta em João Rodrigues. “É normal, o Porto atrai muita gente, até turistas. Num dia destes, toda a gente se chega mais para esta zona”, atirou.
Os ‘dragões’ celebraram com milhares de pessoas do pódio para a rua, no habitual ‘salão de festas’ da equipa de futebol, e aproveitaram a oportunidade para celebrar com uma equipa que venceu ainda quatro etapas, a classificação por equipas e colocou o espanhol Gustavo Veloso no terceiro lugar.
Há 30 anos, na última vez que a prova terminou nos Aliados, foi também um jovem corredor a vencer a corrida, também num contrarrelógio, que então saiu de Matosinhos até à baixa do Porto.
Era ele Joaquim Gomes, com 23 anos, e a caminho do primeiro de três triunfos, na altura frente ao brasileiro Cássio Freitas. Agora, é diretor da organização da prova mas não se esquece dessa “emoção enorme”.
“Foi a última Volta com 21 dias e tínhamos elevadas temperaturas. (…) Não cheguei com muita vantagem, talvez 20 e tal segundos, e o contrarrelógio tinha uma quilometragem grande. Quando cheguei à marginal, sabia que vinha a ganhar tempo”, lembra.
Depois, chegou a subida em Mouzinho da Silveira, o terreno “que mais gostava”, em paralelo, e a receção em frente à Câmara do Porto, também com milhares de pessoas, à semelhança do que João Rodrigues, um ano mais velho que Joaquim Gomes na altura, teve à sua espera.
“Não esperava a receção, os milhares e milhares de pessoas em Mouzinho da Silveira, em frente à estação de São Bento, e depois até à meta. Foi inesquecível. Os meus companheiros à espera, toda a gente ali, é inesquecível”, reforça.
Antes de consumada a festa, os cunhados Hélder Gomes e Vítor Oliveira passeavam pelos Aliados o ‘fair play’ que se pode encontrar dentro da rivalidade, uma vez que o primeiro estava equipado ‘à Porto’ e o segundo trazia uma camisola do Sporting.
“Venho pelo desporto, é a primeira vez que vejo. Não ligo muito a ciclismo, mas é fixe”, atira Vítor, de 39 anos.
À semelhança do cunhado, fez uma curta viagem de Espinho, onde vivem, e foi surpreendido com tanta gente nos Aliados.
“Eu fui ver à Torre e também estive na Guarda. Festas nos Aliados? A isso já estou habituado”, brinca Hélder, de 42 anos.
Já depois de cortar a meta, Hugo Nunes (Rádio Popular-Boavista) atravessava a ‘multidão’ instalada na praça, a aperceber-se da “muita gente, das etapas com mais gente”.
“Isto está espetacular aqui no Porto. É muito motivador. Senti muito apoio, muitas pessoas a chamarem pelo meu nome e pelo Boavista”, referiu.
Também após cortar a meta, e enquanto esperava pela chegada de João Rodrigues, que viria a sagrar-se vencedor, Edgar Pinto, um dos corredores dos ‘dragões’, classificou à Lusa como “arrepiante” o ambiente nos Aliados, uma sensação que o próprio campeão viveu.
“Quero dedicar a todos os adeptos portistas, apareçam em Sobrado para fazer a festa”, atirou João Rodrigues, pouco depois de saber que tinha ganho e pouco depois de descer, às ‘cavalitas’ de Caldeira, parte dos Aliados.
Depois, já no pódio e após levantar o troféu da Volta, juntou-se ao resto da equipa e aos adeptos para gritar “Porto, Porto, Porto” e celebrar, numa festa nos Aliados que lembrou os títulos no futebol e vai continuar noite dentro em Sobrado, terra original da equipa de ciclismo que hoje deu a primeira alegria ao ‘salão de festas’ dos ‘dragões’.
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