A caminhada da Carlos Carvalhal na Premier League começou frente ao Watford e Tottenham e, apesar da boa disposição nas conferências de imprensa, não houve espaço para uma grande abertura por parte do treinador português. Desde então, a cada conferência de imprensa e a cada flash interview, Carlos, como prefere ser tratado pelos jornalistas, tem feito as delícias de quem o ouve.
Tudo começou frente ao Liverpool. Com a surpreendente vitória sobre a equipa de Klopp, vieram as primeiras afirmações de Carvalhal a provocar boa disposição. Segundo o próprio, o que disse aos seus jogadores na preparação para o encontro foi que “Este onze do Liverpool é fortíssimo. Eles são um autêntico Ferrari, mas no trânsito de Londres, às quatro da tarde, o Ferrari é um carro igual aos outros".
Ao Liverpool seguiu-se, para a Premier League, o Arsenal. Não só nas palavras mas também nos atos, Carlos Carvalhal está a fazer coisas nunca vistas. No final desse mesmo jogo com o Arsenal, foi ele mesmo pedir a camisola a Petr Čech, explicando aos jornalistas que a mesma era para o seu filho que pela primeira vez em toda a sua carreira de treinador, lhe pediu uma camisola de um jogador. Mais: a meio da conferência de imprensa após o jogo com os Gunners, Carvalhal, ao bom estilo português, após um jornalista tropeçar, exclama “Penálti!”, quebrando o tom mais sério da situação.
Por fim, o Burnley. Já antes do encontro Carlos Carvalhal espalhava charme e boa educação. Pasteis de nata foi o que o treinador resolveu distribuir pelos presentes na sala de imprensa e só isso bastava para no outro dia ter a imprensa do seu lado e falar da sua excelente caminhada até ao momento.
Depois dos iguarias e depois do encontro em si, vieram as expressões, também elas portuguesas. A expressão “Metemos a carne toda no assador” (traduzida livremente para inglês) percorreu Inglaterra e Portugal e deixou uma vez mais passar uma imagem de pura descontração e, mais que isso, o prazer que está a ser para Carvalhal estar na posição em que está. O treinador do Swansea parece, mais do que nunca, à vontade no seu papel de treinador de uma equipa da Premier League.
Adicionalmente, Carvalhal está a abraçar o facto de ser português e está a explorar o que o difere dos outros. O treinador do Swansea não foi, ainda assim, o primeiro a fazê-lo. No passado, já José Mourinho, na altura ao serviço do Chelsea, o tinha feito. Disse o treinador, após críticas do exterior, “The dogs bark and the caravan goes by”, que é como quem diz, ‘Os cães ladram e a caravana passa’.
Expressões futebolísticas inglesas
Façamos o exercício no sentido oposto e coloquemo-nos na pele dos ingleses. Tentemos perceber o que quatro expressões inglesas, traduzidas à letra, significariam para nós, portugueses.
'Acertar no trabalhado em madeira' (em inglês 'Hit the woodwork’)
Sendo que o ‘trabalhado em madeira’ é uma referência às partes de uma casa que podem ser feitas de madeira, como as janelas, portas, etc. A expressão é utilizada quando a bola acerta no poste.
'Ficaram presos desde o apito inicial' (em inglês 'They got stuck in right from kick-off’')
Ao contrário do que se possa pensar, ficaram presos, neste caso, é positivo. “They got stuck in right from kick-off and truly deserved to win”, como que a dizer que os jogadores ficaram presos ao jogo desde o início, com níveis de concentração elevados e mereceram ganhá-lo.
'Tempo da lesão' (em inglês 'Injury time')
À primeira vista parece não fazer sentido. Ainda assim, ao ler a expressão em inglês, percebe-se de imediato que estamos a falar do tempo de desconto. Neste caso, com referência para o tempo perdido durante a partida devido a lesões dos jogadores.
‘Noz-moscada’ (em inglês 'Nutmeg')
Esta expressão requer uma explicação mais detalhada. A tradução direta de noz-moscada é ‘nutmeg’. Mas porque razão utilizariam os ingleses a expressão no futebol? A explicação não é a única, mas é a que parece fazer mais sentido. Durante as exportações entre as Américas e a Inglaterra, a noz-moscada era um bem tão precioso que muitos dos exportadores faziam réplicas em madeira a imitar a mesma, conseguindo assim enganar os importadores ingleses. Aproveitando a ‘maldade’ feita por quem iludia e a ‘humilhação’ de quem acabava enganado, a transferência foi feita para o futebol, mais precisamente para a situação do jogo em que um jogador consegue fazer a bola passar por baixo das pernas do adversário. Não só a técnica é igualmente preciosa como a noz-moscada, como incorpora a ‘maldade’ e ‘humilhação’ da transação explicada acima. A técnica, em português, é conhecida como túnel.
Sugestões para treinadores portugueses
Uma vez que parece estar a pegar moda, deixo quatro sugestões que os treinadores portugueses poderão utilizar para se desenrascarem.
Imaginemos que um treinador, ao jogar contra uma equipa mais forte, perde por número muito elevados. Poderá sempre dizer: ‘Too much sand for my truck’ ou, em português, ‘Muita areia para o meu camião’.
Ao ver a sua equipa contratar um jogador que poderia até nem ser a prioridade para reforçar a equipa, já que esta necessitaria de preencher outras lacunas, o treinador poderá sempre dizer: ‘If someone gives you a horse, you don’t look at it’s teeth’ ou, em português, ‘A cavalo dado não se olha os dentes’.
Após ser despedido, um treinador pode sempre dizer: ‘When the sea hits the rocks, it’s the mussel that gets screwed’ ou, em português, ‘Quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão’.
Por último, quando questionado/criticado por pressionar os árbitros e as suas decisões: ‘He who doesn’t cry, doesn’t get to be breastfeed’ ou, em português, ‘Quem não chora não mama’.
A Premier League só volta para a semana que vem e, até lá, ainda nos voltamos a encontrar. Para já, poderá disfrutar de futebol inglês por via da competição mais antiga do mundo, a FA Cup. Com jogos a realizar de hoje, sexta-feira, a segunda-feira, o principal atrativo poderá bem ser a visita de Carvalhal ao seu antigo clube, o Sheffield Wednesday. O jogo terá início às 12h30 de sábado, dia 17.
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