Praticamente todas as semanas temos falado das possibilidades, das vantagens e desvantagens de terminar a época jogando ou não o que falta disputar da Premier League. A 3 de abril  escrevemos aqui:

“Afinal porque é que a Premier League insiste em terminar a liga a qualquer custo, nem que seja na China? [Na altura, surgiu a possibilidade de se disputarem os jogos que faltam na China, num formato compacto jogando-se de três em três dias] Essa é a única resposta fácil no meio desta situação. A razão é, obviamente, financeira. Já existe um plano em marcha para os grupos de transmissão televisiva receberem 750 milhões de libras de volta, caso os jogos e a transmissão dos mesmos não ocorram. Um valor essencial para o funcionamento e estabilidade da Premier League e um montante decisivo para o plano de investimento da liga no pós crise.”

Agora, finalmente, parece ter chegado a hora da cobrança como vamos ver mais abaixo.

Na agenda da última reunião ‘Project Restart’, na passada segunda-feira, 11 de Maio, esteve mais uma vez a possibilidade de se jogar num número reduzido de estádios e, mais uma vez, a maioria dos clubes opuseram-se à ideia, substanciando-se no facto de que a verdade desportiva estará colocada em causa caso seja essa a solução.

Também na discussão de segunda-feira esteve em cima da mesa a situação com os grupos de transmissão televisiva, como o próprio director executivo da Premier League. “Hoje fomos capazes de informar os clubes sobre a situação com os grupos de transmissão televisiva que é, obviamente confidencial", disse Richard Masters depois da reunião.

Mas como hoje em dia o confidencial apenas o é por tempo reduzido, segundo a BBC, a informação transmitida por Masters foi a de que já existe um valor requerido pelas transmissoras e esse número é independente do reinício, ou não, da época 2019-20. Richard Masters informou os clubes que 340 milhões de libras (aproximadamente 381 milhões de euros) terão de ser devolvidos pela Premier League, a dividir pelos clubes, devido às condições nas quais a liga será, obrigatoriamente, reiniciada.

Assim sendo, a razão pela qual os grupos de transmissão televisiva anunciaram que irão pedir o reembolso de 340 milhões de libras é devido ao facto dos jogos, mesmo que se termine a liga disputando o que falta, não irão ser jogados nas condições acordadas. Não terão espectadores, reduzindo em grande parte a atmosfera dos jogos nas transmissões, e muito provavelmente não serão jogados nos estádios para os quais estavam agendados, nem nos dias e às horas inicialmente previstas.

Serão os 340 milhões uma razão para avançar ou recuar no terminar da liga?

Desta forma, e caso o pagamento dos 340 milhões de libras venha a tornar-se uma realidade, os clubes e a Premier League ficam semi-livres, na minha opinião, da única e derradeira barreira a cancelar a liga de imediato.

Como mencionado acima, já aqui dissemos por diversas vezes as vantagens e desvantagens do cancelamento, ou não, da liga e uma das poucas desvantagens — tirando o resolver quem desce, quem sobe e o campeão - é sem dúvida a ameaça dos grupos televisivos quererem parte do dinheiro de volta. O valor inicialmente avançado, ainda em março, foi de 760 milhões de libras (aprox. 852 milhões de euros) caso a liga fosse cancelada.

Este valor mantém-se no caso da liga não terminar, mas caso não haja mais negociações quanto ao pagamento de 340 milhões de libras, e seja mesmo reclamado, então aí não vejo o que impedirá a Premier League de colocar um ponto final na época e pagar o restante, perfazendo os 760 milhões.

Claro que esta opinião requer uma justificação, pois ainda é uma diferença de 420 milhões. Não estando por dentro das finanças dos clubes, ainda assim sabemos que, para o ciclo de 2019-2022, a Premier League irá receber um total de 9.2 mil milhões de libras (10.3 mil milhões de euros). Uma pequena informação que altera substancialmente a visão sobre os 760 milhões de libras a pagar de volta.

E tal como disse Richard Master na passada segunda-feira após a reunião: “Aconteça o que acontecer, vai existir uma perda considerável de receita para os clubes. Isso é inevitável.” 

Viável ou não, caberá à Premier League pesar os custos financeiros, o que poderá, ou não, ajudar os clubes a cumprir com os riscos associados ao regresso prematuro do seu campeonato.

Recordando os contras da liga avançar, como alguns emblemas estão a fazer, ficamos então com a lista de potenciais problemas a ter de solucionar caso o futebol inglês decida mesmo avançar para o término da época, jogando os 92 jogos que faltam disputar.

  • Ajuntamento de pessoas em redor dos estádios;
  • Celebração e aglomeração de pessoas quando o Liverpool se tornar, oficialmente, campeão;
  • Possíveis processos por negligência por parte dos jogadores, caso fiquem doentes;
  • O número exorbitante de testes para jogadores e staff em treinos e jogos;
  • Verdade desportiva - entre estádios neutros e restantes jogos do Liverpool quando este for campeão e, potencialmente, decidir não colocar os seus principais jogadores em campo.

Richard Masters fez também questão de dizer que registou a posição dos clubes em jogarem nos seus próprios estádios e que irá agora passar a mensagem às entidades governamentais.

O que pensam os protagonistas principais?

Pela primeira vez desde o início da pandemia, um atleta veio a público mostrar um claro descontentamento sobre os planos de retorno da liga. Acredita-se contudo que Danny Rose não estará sozinho nestes protestos e que muitos serão os jogadores que pensam da mesma forma.

Em direto no Instagram, Danny Rose disse que o Governo quer trazer o futebol de volta porque irá levantar o moral da nação. Mas Rose diz não querer saber do moral da nação. A vida das pessoas estão em risco e não se devia falar sobre o regresso do futebol até os números (de mortes diárias e casos de infecção) estejam muito mais baixos. Rose, emprestado pelo Tottenham ao Newcastle, irá ser testado hoje, sexta-feira dia 15, e tal como os seus companheiros, é esperado no centro de treinos do clube na próxima segunda-feira dia 17 de Abril. O atleta tem feito algumas doações ao Serviço Nacional de Saúde britânico, entre refeições e doações em dinheiro e, mais recentemente, doou dez mil libras (aprox. 11 mil euros) a duas organizações de apoio a vítimas de violência doméstica.   

Além de Danny Rose, também Sergio Agüero, Jack Wilshere e Manuel Lanzini, mas com mais moderação, tornaram públicas as suas dúvidas sobre recomeçar a jogar tão cedo. Acredita-se que este possa ser apenas o início de uma revolta que poderá comprometer, de vez, os planos da Premier League de voltar a 12 de Junho, após o governo ter anunciado que a partir de 1 de Junho os desportos organizados poderão, caso estejam reunidas as condições, de regressar ao ativo.

Abaixo deixamos as reuniões e eventos futuros agendados:

  • 18 de Maio: a próxima reunião ‘Project Restart’ e os atletas regressam aos treinos com um protocolo de distanciamento social;
  • 25 de Maio: data limite para entrega, à UEFA, do planeamento final para regresso à competição;
  • 1 de Junho: data inicial, de acordo com o governo inglês, para o regresso dos desportos organizados de elite, à porta fechada;
  • 12 de Junho: data prevista para o regresso da Premier League à competição.

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