“Os objetivos desportivos foram plenamente atingidos e, em algumas circunstâncias, até ultrapassados. É um facto que os resultados alcançados são os melhores de uma representação nacional”, elogiou o dirigente, no balanço ao desempenho dos 92 atletas da Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos.

Em conferência de imprensa, José Manuel Constantino recordou o contrato programa com o Estado que previa que, a troco de 18,5 milhões de euros (ME) para a preparação, fossem atingidas um mínimo de duas posições de pódio, quando Portugal conquistou quatro.

Do mesmo modo, foi fixada a meta de 12 diplomas, classificações até à oitava posição, quando foram alcançadas 15, “incluindo as de pódio”, e foram estabelecidos 26 desportistas nos 16 primeiros quando a marca obtida chegou aos 36.

Foi estabelecido ainda o aumento da pontuação de resultados obtidos nas classificações nos oito primeiros “em mais de 40 pontos e foram conseguidos 55”.

O dirigente destacou ainda a obtenção de três recordes nacionais e cinco pessoais, as 17 melhores marcas da comitiva em Jogos Olímpicos e as 26 melhores classificações no maior acontecimento desportivo mundial.

“Esperamos que este esforço dos nossos atletas, das federações, das modalidades, do COP possa ter ganhos do ponto de vista da concentração de apoios, recursos e medidas que ajudem ao desenvolvimento do desporto nacional. E que possam ser um sinal para a sociedade portuguesa de que temos, no contexto do sistema desportivo internacional, valor e competitividade que jamais tinha sido alcançada”, assinalou.

Depois do que considerou ter sido a missão mais bem-sucedida de sempre, Constantino deseja que Portugal se torne “ainda mais forte e competitivo e não regresse à situação anterior”.

O presidente do COP não quis avaliar rendimentos individuais, porém assegura que “não há desilusões do ponto de vista da entrega”.

“Aos que não foi possível superarem-se, não foi por ausência de esforço, dedicação, por não terem sido resilientes. São circunstâncias da vida para os desportistas como as há para todos nós”, sublinhou.

O dirigente olímpico asseverou que os êxitos alcançados no Japão “transmitem à sociedade portuguesa uma imagem muito positiva”, considerando que os compatriotas se sentem “mais felizes” com os mesmos.

“[Os feitos] Melhoram a nossa autoestima e a capacidade de nos valorizarmos e apreciarmos a nossa capacidade e talento. São sinais muito positivos em tempo difícil”, completou.

Agora é o momento de que atletas, treinadores e federações “fazerem um balanço” e, se necessário, promoverem “correções e definição das linhas” de atuação para o futuro, já a pensar em Paris2024.

Resultados “são boa almofada” para negociar contrato de Paris2024

“As negociações ainda não se iniciaram, da parte do presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) houve manifestação de vontade para iniciar [as conversações] após os Jogos. Os resultados são uma boa almofada para essa conversação. Se acaso ficassem aquém do que foi contratualizado, naturalmente que a nossa interlocução estava fragilizada e diminuída”, admitiu, em conferência de imprensa de balanço da participação lusa.

Após quatro medalhas conquistadas, entre elas o ouro de Pedro Pichardo no triplo salto, Portugal teve a melhor participação de sempre, o que dá outra capacidade de argumentação ao COP.

“Com que legitimidade se solicitaria reforço de apoios num quadro em que não tínhamos sido capazes de cumprir o que tínhamos comprometido com o Governo? Tendo sido possível cumprir o contratualizado e ultrapassar o que estava contratualizado, o próprio Governo reconhecerá com facilidade que qualquer aumento à preparação olímpica se pode traduzir numa maior qualidade dos resultados alcançados”, explicou o dirigente.

Além do fator negocial, os bons resultados “animam a que se faça mais, se tenha esperança, de que Portugal seja desportivamente mais competitivo”, introduzindo “fatores de confiança” que podem levar a que sejam aproveitados para “estabilizar e na medida do possível aumentar” a quantidade de bons registos.

Com um balanço “positivo” da participação, agora é necessário “que se dê mais atenção ao desporto”, para que no futuro Portugal possa “exponenciar as capacidades e talentos que possa ter no quadro competitivo internacional”.

Os maiores desafios são consolidar estes resultados e procurar que a nossa participação em Paris2024 possa ser ainda mais forte”, resumiu.

Ainda assim, e aguardando “os relatórios técnicos das federações, nos quais se analisarão os resultados alcançados e não alcançados”, para os próximos Jogos “não há muito tempo, três anos passam a correr”.

Do conjunto de metas fixadas, “algumas não foram atingidas na plenitude, mas muito próximo das estabelecidas”.

Neste campo destacam-se as 19 modalidades presentes na Missão quando só foram conseguidas 17 — recordou as “surpresas” da ausência do futebol, do karaté, do pentatlo moderno e da esgrima, entre outras — e o objetivo de que a participação feminina atingisse os 40% do total.

“Temos de fazer um esforço de consolidação das modalidades que tradicionalmente se apuram para os Jogos, mas também esforço para aquelas que não se apurando têm condições para com mais trabalho, entrega, foco diferente, poderem apurar atletas seus para a participação nos Jogos Olímpicos. No início do ciclo, estimámos a possibilidade de 19 modalidades. Não esperávamos que o futebol não se apurasse. Que o karaté não se apurasse. Não esperávamos que o golfe não se apurasse. O tiro”, analisou.

Nesse seio está um esforço de maior equidade, com Portugal muito próximo dos objetivos traçados de 40% de mulheres para homens (nos 39,1%), com Constantino a pedir que mais programas de “mobilização associativa” possam ter “efeitos positivos na base”.

“Se excluirmos o andebol [14 convocados masculinos] da contabilidade, a nossa participação está nos 46%. Muito próximo de um regime de paridade. Ainda há obstáculos no acesso à prática desportiva para mulheres. Têm de ter atenção muito particular para promover um aumento de participação feminina na prática desportiva. Não só por equidade, mas por razões de natureza social. Não há razões que justifiquem que seja um paradigma maioritariamente masculino”, comentou.

De resto, Portugal esteve presente em duas das quatro modalidades estreantes, no surf e no skate, com diplomas para Yolanda Sequeira, na primeira, e Gustavo Ribeiro, na segunda, “resultados excelentes” e “muito animadores”.

“É muito animador, desde logo para eles, mas também para Portugal, porque revela capacidade competitiva em modalidades que passam a fazer parte [do programa], e Portugal tem de aplicar-se bem e aproveitar estas oportunidades”, vincou.