Há 11 anos, o Mundial de xadrez jogou-se em Chennai, na Índia, e Gukesh Dommaraju já dava nas vistas nos torneios realizados aos finais de semana. Hoje, cumpriu com o seu destino e sagrou-se o mais jovem campeão da história da modalidade.
“Quando via o ‘match’ de 2013, dizia para mim que seria muito bom estar no lugar de Anand. Queria ser aquele que trazia o título de novo para mim. Até agora, esse sonho foi a coisa mais emocionante da minha vida”, afirmou o novo campeão, filho de um otorrinolaringologista e de uma microbióloga.
Apesar da idade, 18 anos, e de ser apenas pretendente, face ao campeão Ding Liren, Dommmaraju G, como é habitualmente tratado, era favorito, chegando a Singapura com ranking bem melhor que o chinês. Mas foi preciso jogarem-se as 14 partidas agendadas, com uma clara maioria de empates, com três vitórias para o candidato e duas para o campeão derrotado.
A emoção da vitória era clara, com as lágrimas a escorrerem, enquanto arrumava as peças, e o caso não era para menos, já que supera vários recordes históricos, a começar pelo de mais jovem campeão de sempre, uma distinção que cabia a Garry Kasparov, o russo que atingiu o topo aos 22 anos e ostentava esse título desde 1985.
Adepto de um xadrez muito ofensivo, sempre para ganhar, esteja a jogar com brancas ou negras, Gukesh Dommaraju tem vindo a superar vários marcos, desde que começou a praticar, na sua Chennai natal.
Em 2015, venceu o Campeonato Asiático de Xadrez Escolar de sub-9 e o Campeonato Mundial Juvenil de sub-12, e em 2017 já era Mestre Internacional, último passo antes de se tornar Grande Mestre.
Em 2018, arrecadou cinco medalhas de ouro no Campeonato Asiático de Xadrez Juvenil de sub-12, vencendo nas categorias rápida e blitz individual, rápida e blitz por equipas e clássico individual.
No ano seguinte, com 12 anos, sete meses e 17 dias, tornou-se o segundo mais jovem Grande Mestre da história do xadrez – o russo Sergey Karjakin mantém-se como detentor do recorde, por apenas 17 dias.
Há dois anos, a carreira fulgurante prosseguiu, com a medalha de ouro individual na Olimpíada do xadrez, levando a Índia a ficar com o bronze por equipas.
Em setembro do mesmo ano, ultrapassou a marca de 2.700 pontos, sendo o terceiro mais jovem da história a conseguir a marca, atrás apenas do chinês Wei Yi e do iraniano Alire Firouzja.
Ainda em 2022, mas em outubro, tornou-se o mais jovem xadrezista a vencer Magnus Carlsen, número um do mundo, desde que o norueguês se tornou campeão mundial.
Continuou a quebrar recordes em 2023 e passou a ser o mais jovem xadrezista a quebrar a barreira dos 2.800 pontos.
Este ano, tornou-se o terceiro atleta mais jovem a disputar o Torneio dos Candidatos, que decide quem será o desafiante ao título de campeão mundial de xadrez, atrás apenas do lendário norte-americano Bobby Fischer e de Carlsen.
Para chegar à final, foi ‘vergando’ ao seu poder os mais talentosos adversários, para ser o mais jovem a vencer um torneio de candidatos, e ainda disputou a Olimpíada de Xadrez, que ganhou de novo, levando a Índia à medalha de ouro por equipas, com 3.056 pontos, a maior pontuação da história do torneio.
O encontro com a história estava marcado para hoje, com o triunfo sobre Ding Liren, o campeão que sucedeu a Carlsen, depois de o norueguês ter decidido, em 2022, que não ia defender o cetro, cansado do formato da competição, que considera demasiadamente extenso.
Para todos os analistas, o ‘reinado’ de Gukesh G promete ser longo, certamente à procura dos recordes que ainda pode acumular, como campeão do mundo.
Comentários