“Esta é a minha sexta temporada na Nazaré e o meu objetivo, claro, é continuar a surfar. Acho que os recordes são para ser batidos. Assim como o Garrett [McNamara] teve esse recorde por oito anos, agora é a minha vez e é uma honra. Vou continuar a treinar e quem sabe, um dia, se eu puder bater o meu próprio recorde, será maravilhoso. Mas estou a curtir muito este momento como recordista”, afirma à Lusa o surfista brasileiro.
Sobre a relação com o norte-americano Garrett McNamara, seu antecessor enquanto recordista mundial de ondas grandes, Rodrigo Koxa, 39 anos, realça que o homem que colocou o ‘Canhão da Nazaré’ nas bocas do mundo era o seu ídolo de infância e que mantêm há vários anos uma grande amizade.
“O Garrett sempre foi um ídolo, eu sempre fui muito fã do Garrett. Morei em casa dele no Havai, em 2000, e sempre tivemos uma relação muito forte. Ele, aqui [na Nazaré], ensinou-me muita coisa, deu os passos para a gente ter hoje uma equipa capacitada. Acho que o surf tem isso, essa irmandade”, sublinha.
Qual a reação de McNamara quando Koxa lhe “roubou” o recorde do mundo? “Ele fez um ‘post’ [publicação nas redes sociais] muito ‘maneiro’, dizendo que eu merecia aquilo, que batalhei muito por aquilo e que ele estava muito orgulhoso por saber que era eu. É incrível você ver esse carinho do seu ídolo. Eu venci, estava superfeliz, e lembro-me que acordei de manhã e falei para a minha mulher: olha o que o Garrett escreveu sobre mim!”, descreve.
A caminho dos 40 anos, o brasileiro considera que “para surfar ondas gigantes a experiência conta muito”, já que “a vivência faz a diferença”, bem como a constante evolução tecnológica ao nível dos materiais usados neste desporto desafiante, que tem melhorado substancialmente a segurança dos praticantes.
“Cada ano estamos mais confiantes e sentimo-nos mais capazes. A tecnologia também é importante nos treinos, cada vez temos mais informações. Por isso, com 39 anos, hoje, cada vez me sinto mais um garoto, treino com bons profissionais e sinto-me cada vez mais capaz de entrar no mar grande”, refere Koxa.
O brasileiro recebeu já um convite da World Surf League para competir no Nazaré Challenge, etapa do Circuito Mundial de Ondas Grandes, cujo período de espera arrancou em 01 de outubro e se estende até 31 de março de 2019, o que o deixou “muito orgulhoso”.
Convidado a descrever as emoções que viveu na onda que lhe valeu o recorde do mundo, apanhada em 08 de novembro de 2017, o desportista abre o coração e agradece à equipa que o acompanhou nesse momento inesquecível, entre os quais estava o piloto de ‘jet ski’ português Sérgio Cosme.
“Ficámos mais de duas horas, num dia gigante, à espera de uma onda para mim e quando veio a onda, em frente ao farol, ele olhou e falou: Koxa, é bomba! Queres ir? É bomba! Eu lembro-me de olhar e aquilo era um prédio, era uma montanha de água e eu respirei fundo, passou um filme rápido na minha cabeça e eu falei: ‘vai’. E naquele momento tive que sair da minha zona de conforto. Foi largar a corda e viver o que a vida inteira eu fiz”, descreve.
E prossegue: “Eu comecei a descer a onda e lembro-me que era uma muralha de água, comecei a descer a onda, com buraco, era meio-dia e de repente vira uma sombra. Tinha um monstro atrás de mim a querer ‘pegar-me’. E eu a descer aquele buraco, aquela sombra invade e eu ouço o barulho atrás de mim. A gente que ‘pega’ onda gigante quer estar perto, quer estar crítico, mas quando está no lugar crítico, você quer fugir dali. Então é uma ambivalência: você quer estar ali, mas quando você está ali, você quer sair dali”.
Koxa realça que foi “maravilhoso”, porque a energia da onda, por si só, fez com que o surfista conseguisse sair da zona mais crítica e finalizar com sucesso a missão a que se propôs.
“Naquele momento eu senti que tinha surfado a maior onda da minha vida”, conclui. Agora, quer mais e maiores.
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