Quando entraram na sala de conferências, após escreverem mais uma página da história do ténis português, os dois amigos de infância, que se conhecem desde os sub-10, pareciam ainda estar em choque com aquilo que tinha acabado de acontecer, há pouco mais de uma hora, no ‘court’ central do Clube de Ténis do Estoril.
“Quer eu, quer o Francisco estamos a absorver o momento, mas claro que [é] o culminar de uma grande semana e poder agora relaxar um bocadinho – quer dizer, não muito tempo porque para a semana temos mais competição. Sem dúvida que é o pináculo do ténis português poder ganhar aqui. É difícil dizer mais, significa muito para nós os dois poder ganhar aqui no Estoril, à frente do público”, reconheceu Borges.
Habitualmente desenvoltos no discurso, os dois jovens, nascidos em 1997, tiveram dificuldades para encontrar palavras que pudessem transmitir aquilo que estavam a sentir, mas o maiato admitiu que o feito inédito foi “ainda mais especial” por este ano as bancadas do Clube de Ténis do Estoril estarem lotadas de adeptos, ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando a pandemia de covid-19 ‘fechou’ as portas aos amantes da modalidade.
“No ano passado, não tivemos o prazer de ter, mas que este ano felizmente pudemos ter. E num domingo, Dia da Mãe, muita coisa que calhou para o nosso lado. É um grande dia que vamos recordar para sempre”, asseverou.
Num dia inesquecível para ambos, Borges nem olhou para o amigo durante o hino nacional, porque “estava muito emocionado”.
“Foi um momento ‘pesado’ nesse aspeto, lá está foi um bocadinho a assentar o momento, a perceber o que acabou de acontecer. Estamos ali no Estoril, estamos ali os dois e estamos a levantar o troféu”, disse o número dois nacional de singulares, que não conteve as lágrimas quando Katia Guerreiro entoou a ‘A Portuguesa’.
A sintonia dos dois transparece no campo e fora dele, pelo que Cabral também evitou o olhar do amigo e repetiu a escolha de palavras para descrever o momento posterior ao triunfo por 6-2 e 6-3 frente ao argentino Máximo González e ao sueco André Göransson na final de hoje.
“Estava estupefacto com o que estava a acontecer. Cantarem-nos o hino nacional, troféu na mão, olhar à volta e ver o estádio cheio, a minha família, os meus amigos. Foi tudo um bocadinho ‘pesado’, é a palavra certa”, reiterou.
Já sobre a visita de Marcelo Rebelo de Sousa ao balneário, contou que a conversa foi “muito informal”. “O Presidente é uma pessoa mil estrelas, de muito fácil acessibilidade e conversa. Ele deu-nos os parabéns pelo que fizemos e deu-nos palavras encorajadoras para o nosso futuro, enquanto dupla para nós e enquanto jogador individual para o Nuno”, detalhou.
Nascido em 1997, Cabral nem percebeu o elogio que o Presidente da República fez à melhor dupla nacional, ao compará-los com os australianos Todd Woodbridge e Mark Woodforde, que dominaram a vertente de pares durante a década de 1990, conquistando 61 títulos, 11 dos quais do ‘Grand Slam’, e a medalha de ouro em Atlanta1996.
“Nem sei quem eram, porque não era nascido sequer”, disse Cabral, antes de ser elucidado pelos jornalistas - e tentar repetir o nome do duo conhecido como ‘Woodies’ – para, logo de seguida, disparar: “Se eram bons, podemos considerar um grande elogio e esperamos estar à altura, porque realmente não sei quem são”.
Ainda a assimilar a conquista do troféu, Borges reconheceu que hoje esteve “um bocadinho mais nervoso”.
“O facto de ser uma final bateu-me. Mas até consegui fazer um bom jogo. E, mais do que isso, foi fazer o que nós fazemos bem e continuar a insistir naquilo que tem corrido bem nas nossas jogadas. Da maneira como jogamos, quase que os nervos nem têm espaço para lá estar. Mais uma vez, o jogo pareceu mais relaxado em termos de resultado, mas foi sempre a carregar e sempre a querer do princípio ao fim. O resultado engana sempre, mas acho que merecemos ganhar e jogámos melhor hoje”, concluiu.
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