Após usar um hijabe, o véu tradicional muçulmano que cobre a cabeça e os ombros, nas primeiras eliminatórias do campeonato, Rekabi, de 33 anos, competiu de cabelo solto na final, que decorreu no domingo, na capital sul-coreana, Seul, tendo conquistado a medalha de bronze.

O gesto da atleta foi visto como uma demonstração de apoio às mulheres iranianas que protestam há um mês contra a obrigatoriedade do uso do hijabe após a morte de Mahsa Amini, a jovem curda de 23 anos que morreu três dias após ter sido detida pela polícia da moralidade em Teerão por ter infringido o estrito código sobre o uso de vestuário feminino previsto nas leis da República islâmica, em particular o uso do véu.

O paradeiro de Rekabi é, neste momento, incerto. Sabe-se que a atleta deixou Seul num voo com destino a Teerão na manhã de hoje, conforme confirmou a Embaixada do Irão na Coreia do Sul, na rede social Twitter.

No entanto, o serviço da BBC em farsi disse que as autoridades iranianas tinham confiscado o telemóvel e o passaporte de Rekabi, citando fontes não identificadas — além disso, amigos próximos da atleta disseram também à emissora não conseguir contactá-la.

Também citando fontes não identificadas, o portal noticioso IranWire, fundado pelo jornalista iraniano-canadiano Maziar Bahari, disse que a atleta foi levada para a embaixada em Seul para garantir que o voo ocorreria com o máximo de secretismo —para evitar protestos públicos — e que à chegada seria transferida de imediato para a prisão de Evin, onde são encarcerados presos políticos.

Perante o amontoar de preocupações quanto ao seu paradeiro, Rekabi terá publicado um curto comunicado no Instagram, onde pede desculpa "por todos os problemas causados". Na nota, lê-se a justificação para a ausência do véu, negando um propósito político e apontando que o "mau timing" em que foi chamada a competir fez com que o seu hijab se tornasse "não intencionalmente problemático" para fazer a subida.

"Estou neste momento a caminho do Irão com a minha equipa, seguindo o calendário previamente definido", termina a nota. No entanto, não é possível verificar se foi Rekabi a escrevê-la, se alguém com acesso ao seu telemóvel. Rana Rahimpour, jornalista da BBC e especialista em assuntos iranianos, adiantou na sua conta de Twitter que existem fortes indícios para ter preocupações quanto à segurança de Rekabi.

A Embaixada do Irão em Seul tem negado estas informações, que considera serem “notícias falsas e desinformações” sobre a partida de Rekabi, tendo publicado uma imagem da atleta usando um véu, numa competição anterior, em Moscovo.

Segundo o grupo iraniano Iran Human Rights, sediado em Oslo, 122 pessoas foram mortas durante a repressão das manifestações.

Na passada sexta-feira, a Amnistia Internacional lamentou a morte de pelo menos 23 crianças “mortas pelas forças de segurança iranianas”.

[Notícia atualizada às 11:40]