Uma prova no mar, que segue, de forma mecânica, dois sentidos opostos e na qual há um desafio à gravidade e aproveitamento da propulsão e da força das ondas. Por outras palavras, um piloto montado num Jet Ski arranca manobras contra as ondas, salta por cima destas e desliza à frente da ondulação. Fá-lo tal como um surfista em cima de uma prancha de surf. Mas com uma diferença: vai para a água de capacete.

De forma sumária e simples, esta é a descrição que melhor encaixa sobre o que é o campeonato do Mundo de Moto Surf, a decorrer na praia e ondas da Areia Branca, na Lourinhã, durante este fim de semana, 28 e 29 de setembro.

“O termo mais simples é Jet Ski nas ondas. A performance é contra e a favor da onda e a pontuação resulta de dois itens. Pelo surf nas ondas e pelas várias manobras feitas, backflip, saltos, aerials, contra a onda que serve de rampa”, explicou Luís Centeno Fragoso. “Quanto maior ondulação, melhor”, antecipa.

“Esta é 14.ª prova organizada (em Portugal) em 20 anos, sendo a terceira vez consecutiva na Areia Branca (2019, 2022 e 2024)”, adiantou o responsável pela etapa portuguesa do Moto Surf World Series 2024 e que esteve na génese da primeira visita a Portugal do Campeonato do Mundo de Freeride, modalidade de acrobacias nas ondas em Jet Ski e Motas de Água, na praia de Supertubos, Peniche, em 2004.

Conhecida como Freeride, a etapa inaugural na Areia Branca acolhe, “pela primeira vez, pilotos portugueses”, acrescentou Centeno Fragoso, da direção da International FreeRide WaterCraft Association.

Outro dos pontos atrativos é que recebe “o mexicano Abraham Hochstrasser, o campeão do mundo cujo Jet Ski está no Farol da Nazaré (Forte de S. Miguel Arcanjo). Foi o primeiro e único piloto a surfar as ondas grandes”, realçou.

Por último, entre os 30 pilotos, Claire Hartung, alemã de 18 anos, “entra para a história da modalidade por ser a primeira mulher a participar no Campeonato do Mundo de Jet Ski nas ondas”, acrescenta em comunicado a organização da prova, a Jet Sports Boating Association, em parceria com a Federação Portuguesa de Motonáutica.

Tal como o surf, os pilotos competem na água entre si numa bateria, no caso com a duração de oito minutos.

Após a etapa portuguesa, o Campeonato do Mundo de Moto Surf 2024 segue para Montalivet, em França, e termina em Noja, em Espanha, aponta.

Os portugueses em prova pela primeira vez

O background de quem participa no Moto Surf World Series sopra vindo quase sempre do mesmo lado. “A maior parte correu em Jet Ski e gostam de ondas”, esclarece Luís Centeno Fragoso.

Dois dos três portugueses em prova entram em competição em virtude da primeira opção. E ambos apresentam uma modalidade de dobra.

Nuno Gomes, 26 anos, cavalga outra onda ao mesmo tempo que pula e dança entre as vagas produzidas pelo mar. “Sou cavaleiro de Dressage, em Sintra (Almargem do Bispo)”, informa. Essa é a sua “atividade desportiva principal”.

Acelerar no mar é hobbie, apenas. “Fiz Jet Ski desde pequeno, ao lado do meu pai que me influenciou. E atirei-me para as ondas por causa do meu pai que, em 2012, fez a prova de mota água (Freeride)”, assinala.

Sem intenções de prosseguir pelas restantes etapas europeias, aponta a mira para a Lourinhã. “Irei competir só para me divertir”, resumiu.

Nelson Santos saltou da terra para o mar e, aos 40 anos, estreia-se na competição. “Não tenho qualquer experiência na prova”, recorda. “Não existe campeonato, não competimos, só treinamos, a modalidade passa despercebida em Portugal. E também nunca fiz surf”, informou.

Rodar o punho e puxar o ponteiro dos quilómetros, contudo, não é matéria estranha para este morador nas Caldas da Rainha. “Fiz motocrosse, sem participar em provas, mas muita hora em pistas e saltos”, conta, evocando as memórias do recuado passado motard antes de transitar para o que fez na última década e faz no presente.

“A terra é mais rija do que a água, como se costuma dizer”, e deu o salto para o Jet Ski. “Quando era novidade, em 2012, o Freeride, comecei a ir para as ondas e percebi que o Jet tinha muitas limitações. Tenho um para ondas que vem do Jet Ski Stand Up, feito para o circuito de boias. Mas fiz a transformação (do jet) para fazer mais manobras e saltos, comprei um casco que facilita trabalho”, detalha. Uma alteração feita em boa hora. “Fez como que evoluísse, estava estagnado”, admite.

“Conseguimos esta prova há vários anos e um dia haveria alguém que se chegasse à frente e representasse o país. Nunca tivemos um português, o que se tornou estranho”, realça.

Destaca ainda as diferenças do que viu anteriormente e do que se espera para a etapa da Areia Branca, referindo-se, em especial, ao sistema de eliminatórias precoces outrora existente. “Ninguém vai só andar cinco minutos e carregar a mota. Agora dá para usufruir mais. Teremos as eliminatórias para apurar os pilotos que seguem para os oitavos, quartos, meias e final”, explica. “Eu quero passar as eliminatórias, pelo menos”, confessa Nelson Santos.