“O Conselho Superior de Desportos (presidido pelo secretário de estado) é o único responsável de que a Espanha possa ficar sem Mundial por violar as normativas da FIFA”, acusou, em conferência de imprensa, na qual negou estar por detrás da ameaça disciplinar.
O dirigente, que liderou a federação durante 29 anos, advertiu para a “situação grave” criada pelo governo espanhol, através do CSD, que o afastou da presidência da federação, o que, em sua opinião, pode custar à Espanha, adversária de Portugal na fase de grupos, a presença no Mundial, por violar o artigo que pune a ingerência dos governos em assuntos internos das federações.
“A FIFA não está a pedir a um estado soberano para desrespeitar as suas leis, como se argumenta, mas apenas que cumpra com os seus estatutos e regulamentos. Deveríamos perguntar-nos porque estas situações não ocorrem em outros países, como Alemanha, França, Itália ou Inglaterra. Os poderes públicos desses estados respeitam escrupulosamente a autonomia das federações”, vincou.
A RFEF passa por um processo conturbado, depois de o presidente suspenso, Angel Maria Villar, ter-se envolvido num escândalo de corrupção, o que motivou o seu afastamento de funções, durante um ano, decretado pelo CDS, além de ter sido detido em julho e de enfrentar processos judiciais.
Recentemente, o Conselho Superior dos Desportos de Espanha, dependente do governo, manifestou-se favorável a novas eleições no organismo entretanto liderado por Juan Luis Larrea, o que levou a FIFA a intervir e a anunciar, sexta-feira, uma visita – conjunta com a UEFA – a Madrid para se inteirar da situação.
“A FIFA não interveio porque Ángel Villar não renunciou ou não atuará se ele renunciar”, disse Villar, que se reafirmou como presidente da RFEF e disse que Juan Luis Larrea é "um diretor interinamente a desempenhar as funções de presidente”.
O Conselho de Estado deve decidir em breve sobre um requerimento do Tribunal Administrativo do Desporto espanhol, a pedido do CSD, a pedir novas eleições por possíveis irregularidades na última reeleição de Villar, este ano.
“(José Ramón) Lete (secretário de estado e presidente do CSD) deveria considerar a situação na qual deixou o futebol espanhol, que não pode continuar assim. É uma situação muito grave”, insistiu.
Entre as ingerências, foi referida a vontade de Lete em “anular as eleições da assembleia geral, ao solicitar a revisão da decisão do Tribunal Administrativo do Desporto (TAD) e fazendo-o sem que a lei o permita, usando o conteúdo de escutas, esquecendo que se trata de material probatório”.
Villar garante que se perder os processos que enfrenta vai recorrer aos “tribunais internacionais”, uma vez que afiança nada ter feito de mal.
O ex-dirigente diz que todo o processo surgiu por denúncia do anterior secretario de estado do desporto, Miguel Cardenal, em 2015, às autoridades anticorrupção, corroborada um ano depois pelo antigo secretário da RFEF, despedido por Villar: “Fez outra delação em período eleitoral e com interesse em desprestigiar-me para ser candidato à presidência”.
Villar também mencionou o presidente da Liga de futebol, Javier Tebas, como um dos promotores das denúncias – “durante estes anos, quis linchar-me e apresentou seis denúncias (...) injuriosas a caluniosas” – e revelou que “houve uns senhores que se reuniram previamente para apresentar a denúncia”.
“Utilizaram fiscais, a guarda civil e os tribunais. Fizeram um golpe de estado na RFEF”, incriminou.
O presidente do governo, Mariano Rajoy, também não foi poupado, depois de ter garantido há dias que estava seguro de que a Espanha não só iria ao Mundial, como o iria vencer.
“Se voltar à presidência da RFEF, e estou certo disso, vou indicar o presidente do governo para ser adjunto do selecionador Julen Lopetegui. No outro dia, fez declarações maravilhosas. Sei que o presidente do governo é muito capaz, mas surpreende-me que saiba tudo”, ironizou.
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