A Volvo Ocean Race (VOR), regata à volta do mundo, passou, pela terceira vez, por Lisboa. A celebrar 44 anos, é uma prova repleta de histórias, de sucessos e insucessos, com drama e alegria, de uma obsessão de vencer por parte de velejadores.
Desde a criação da prova, em 1973, então com o nome de Whitbread Race e com a 13ª edição em curso, há poucos barcos e alguns marinheiros que têm os nomes gravados na história desta competição náutica que é única. Um relato de vida e de obra que merece ser contada a todos, quer estejamos em terra ou no mar.
A embarcação batizada de Flyer e o skipper van Rietschoten constam do mural da Volvo Ocean Race. E por duas razões: o velejador holandês e a embarcação venceram a segunda edição (1977-1978) da então antecessora da VOR. Juntos, timoneiro e barco, viriam a repetir o feito, em 1981-1982, na 3ª vez que a frota e velejadores se fizeram ao mar.
Van Rietschoten entrou, desta forma, para história das lendas marítimas, inscrevendo o nome na galeria da mais dura prova de equipas, sendo o único skipper a vencer duas vezes seguida. Assim como o Flyer, o barco que “guiou” em duas edições.
O Flyer viajou de Alicante, cidade de onde partiram as sete equipas participantes na edição 2017-2018 da Volvo Ocean Race, até Lisboa, a paragem seguinte da prova.
Chegou um dia antes das sete equipas participantes. Ontem a frota partiu da capital portuguesa em direção à cidade do Cabo. O Flyer ficou por cá. Para contar a sua história.
Um barco como personagem principal de uma história escrita desde 1973
Hoje somente o barco pode viajar ao passado. O skipper, Conny van Rietschoten, esse, morreu em 2013, deixando um legado que desde a sua épica vitória é passado de boca em boca a cada edição da VOR.
Todas as histórias começam como “Era uma vez...”. Esta acrescenta dois nomes, uma vontade férrea e tem como personagem principal um barco. “Foi ideia minha”, começa por explicar, a bordo do Flyer, em plena Doca de Pedrouços, em Lisboa, Gerard Schootstra, skipper que juntamente com um amigo, Diedreick Nolten (concessionário de camiões Volvo), levaram por diante o desejo de ter a embarcação nas mãos. De volta ao sítio de onde partiu.
“Esteve 30 anos nos Estados Unidos da América e estava ao serviço de uma escola de vela em Newport Beach, na Califórnia”, recua no tempo Gerard Schootstra, que foi outrora skipper de uma das embarcações rivais do barco holandês, o Kings Legend. “Velejava com um nome diferente: Alaska Eagle”, recorda.
Uma chamada do outro lado do Atlântico foi suficiente para mudar o curso da história. “Pusemo-nos em campo”, relata. “Se a possibilidade estava lá, deveríamos fazer o melhor para o recuperar. E foi isso que foi feito”, resume Gerard Schootstra enquanto fazia os preparativos para receber uns convidados a bordo, sequiosos de espreitarem a restauro feito no interior numa manhã em que a Doca de Pedrouços se engalanou para se despedir das equipas participantes na Volvo Ocean Race.
Avisado o skipper que colocou o barco para sempre na memória de quem quer se aventurar mar fora, pela mão da Fundação “Revival of The Flyer” — o barco imortalizado por Conny van Rietschoten’s foi comprado em “novembro de 2013”.
O objetivo foi “recuperá-lo para o seu estado original”, frisou. A justificação é simples: este barco foi feito especialmente para a regata “com o propósito de a ganhar”, recorda. “Foi o primeiro a ser preparado para tal, nunca tinha sido feito”, adiantou ainda.
Para o skipper, “o importante é preservar o barco e entregar à próxima geração”, sublinhou. “Segundo, há que continuar a história do Flyer. Mantê-la viva”, continuou. Um legado de um barco que vai muito para além do primeiro skipper, afirmando-se como um ícone dos mares, um símbolo da Holanda e um dos barcos da história da Volvo Ocean Race. A tal regata que cria lendas desde 1973.
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