“Na Airbus diminuímos a produção em cerca de 40% face aos planos pré-covid e há muitas incertezas quanto ao futuro”, admitiu o vice-presidente para a Europa do Sul e Israel da companhia, Cesar Sanchez Lopez, durante o evento “AED Days”, que de hoje até quinta-feira reúne ‘online’ diversos especialistas nacionais e internacionais das indústrias de aeronáutica, espaço e defesa.

Segundo recordou, os números mais recentes da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) sobre o tráfego aéreo global “indicam que a recuperação é extremamente frágil, com o número de passageiros e a capacidade do sistema 80% e 70% abaixo, respetivamente, dos níveis do ano passado, o que é uma crise muito séria”.

Ainda assim, Cesar Sanchez Lopez afirmou-se convicto da capacidade de resiliência do setor da aviação, que apontou como “um motor da economia global”, responsável em 2019 pelo transporte de mais de 3,6 mil milhões de passageiros, por quase 63 milhões de empregos e por uma contribuição para Produto Interno Bruto global de 2,7 triliões de dólares.

“No longo prazo consideramos que esta indústria é sólida, porque nos últimos 15 anos tem registado um crescimento médio anual do tráfego de passageiros de 4,4%. Claro que com a covid-19 tudo teve de ser revisto, mas a aviação tem sido muito resiliente às crises nos últimos anos – desde a crise do petróleo à crise do Golfo, crise asiática, 11 de setembro, SARS (síndrome respiratória aguda grave) e crise financeira de 2008 – e manteve sempre a tendência de crescimento”, sustentou.

Embora admitindo que “a crise associada à pandemia é, de longe, a maior de todas” e que “é demasiado cedo para antecipar o impacto que terá”, o responsável da Airbus afirmou-se “confiante” de que “o tráfego aéreo vai recuperar e, a longo prazo, vai continuar a crescer”.

Da análise que faz ao mercado global e tendo em conta o ‘feedback’ direto que tem dos seus clientes em todo o mundo, a Airbus prevê que “a crise deverá estender-se bastante além de 2021 e que o tráfego aéreo não irá recuperar para níveis pré-covid antes de 2023, no melhor cenário, ou mesmo só em 2025″.

“Ainda estamos muito longe dos níveis de 2019 e esperamos um longo período de recuperação”, afirmou Sanchez Lopez, que, apesar de considerar “encorajador ver alguns aviões de novo a voar”, admite que “a taxa média de ocupação continua a ser uma preocupação”.

E, se por um lado “as viagens aéreas domésticas estão a começar a recuperar lentamente (na China, por exemplo, o tráfego doméstico está quase em níveis pré-pandemia), o facto é que as viagens internacionais vão continuar em baixo ainda por um longo período e não vão regressar a níveis pré-covid por muitos anos”.

Relativamente a Portugal, que apontou como “um importante parceiro da Airbus” quer pela “muito longa relação” que mantém com a companhia, quer pelos “indicadores muito positivos” que apresenta no setor da aviação e defesa, Cesar Sanchez Lopez manifestou o interesse em aprofundar e desenvolver o relacionamento de “há décadas”.

“Temos uma relação já longa no ramo dos helicópteros, quer com o Governo e a Força Aérea Portuguesa, quer com operadores privados, e somos o parceiro de referência para a aviação comercial em Portugal, com a TAP a ser uma companhia quase 100% Airbus”, disse.

Salientando que, atualmente, “cerca de 50% dos fornecedores portugueses nos setores da aeronáutica e defesa estão já na cadeia de valor da Airbus”, Sanchez Lopez disse que a “cadeia ativa de fornecedores” da Airbus em Portugal representou cerca de 65 milhões de euros em 2019 e 200 milhões de euros entre 2013 e 2018, sendo a companhia responsável por “mais de 1.000″ empregos no país.

“Há muito que a Airbus apoia as empresas portuguesas do ‘cluster’ aeronáutico em muitos projetos europeus na área da inovação e está disponível para continuar a contribuir para o desenvolvimento do ecossistema português através de parcerias com as empresas, universidades e instituições portuguesas”, assegurou, garantindo que a Airbus está “a identificar novas áreas de cooperação em Portugal”.

Na semana passada ficou a saber-se que a TAP chegou a acordo com a Airbus para adiar até 2027 a entrega de 15 aviões, que estava inicialmente prevista até 2025, o que lhe permitirá poupar cerca de 856 milhões de euros de investimento entre 2020 e 2022.

“Foi renegociada com a Airbus o diferimento das datas de entrega de 13 aeronaves A320neo de 2012-2022 para 2025-2027 e do diferimento da data de entrega dos [dois] A330neo de 2022 para 2024″, lê-se no relatório dos resultados do primeiro semestre deste ano da companhia, enviado na segunda-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A transportadora aérea portuguesa justificou esta medida com a necessidade de controlar e reduzir custos, que inclui a suspensão ou adiamento de investimentos não críticos e a renegociação de contratos, face aos efeitos da pandemia de covid-19 na sua atividade.