“Estou simplesmente impressionado com o que Mario Draghi conseguiu nos últimos oito anos. Ele será provavelmente recordado por três palavras, que, por elas próprias, e sem ser necessária qualquer ação, salvaram a Europa da tragédia”, afirmou Olivier Blanchard, ao discursar no jantar de abertura do Fórum do Banco Central Europeu (BCE), que começou hoje em Sintra.
O economista francês do Peterson Institute for International Economics referia-se à expressão de Mario Draghi em 2012 – “Whatever it takes” [o que for preciso]. Em julho daquele ano, o presidente do BCE referiu que faria o que fosse necessário para salvar o euro, palavras que acalmaram os mercados financeiros e ajudaram a superar a crise do euro.
Na opinião do antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Mario Draghi combinou “pragmatismo e criatividade, por um lado, e um excecional sentido político ou geopolítico, por outro”.
“Suspeito que será colocado no mesmo panteão dos pais da Europa, não por criá-la, mas por salvá-la, o que é igualmente importante”, antecipou.
Passando do “homem para a instituição”, Olivier Blanchard referiu que, “através da influência de Mario Draghi e dos seus antecessores, o BCE conseguiu uma incrível transformação”.
E no entender do antigo economista-chefe do FMI, o formato inicial do banco central “não parecia promissor”. “Pelo menos para a maioria de nós do outro lado do oceano”, frisou, acrescentando que “a estranha estratégia assente em dois pilares, a meta assimétrica para a inflação, a proibição para comprar títulos de dívida soberana, a falta de regulamentação e supervisão bancária ao nível do euro, tudo parecia uma receita para o fracasso”.
Mas “o BCE transformou-se, desde a injeção de liquidez, à compra de uma grande quantia de ativos, às taxas de juro negativas, mantendo em simultâneo e, de facto, reforçando a sua credibilidade”, salientou Olivier Blanchard, frisando que “existem poucas dúvidas de que merece a maior parte do crédito pela recuperação da crise”.
Contudo, o antigo economista-chefe do FMI afirmou também que “a política monetária não pode fazer tudo” e apontou que “a arquitetura de política macro do euro sofre de duas fraquezas importantes, que moldaram amplamente a história dos últimos 20 anos e provavelmente moldarão os próximos anos”.
Olivier Blanchard apontou que a primeira das duas fraquezas “é antiga e bem documentada”, a saber, a falta de ajustamento dos preços relativos. E a segunda, mais recente, é o enquadramento da política orçamental, “à luz das taxas de juros muito baixas que prevalecem e devem prevalecer no futuro distante”.
O último Fórum do BCE com Mario Draghi na liderança começou hoje, em Sintra, e decorre até quarta-feira, sob o mote dos 20 anos da zona euro.
A sexta edição do Fórum do BCE terá como tema os “20 anos da União Económica e Monetária Europeia” e abordará também o futuro da zona euro.
O evento reúne governadores dos bancos centrais, académicos, decisores políticos e especialistas do mercado financeiro para trocar perspetivas sobre as principais questões de política monetária.
O mandato de Draghi termina em 31 de outubro e os nomes mais referidos para lhe suceder incluem o governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau, o membro da Comissão Executiva do BCE, Benoît Coeuré, o governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, e o seu antecessor Erkki Liikanen, e o presidente do Bundesbank (o banco central alemão), Jens Weidmann.
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