De segunda-feira a terça-feira decorreu a Cimeira Social do Mercosul, que contou com a presença de autoridades e representantes da sociedade civil organizada e que, de acordo com a Agência Brasil, a maioria dos representantes da sociedade civil demonstrou-se desfavorável ao acordo com a União Europeia, considerado injusto e desigual.
“Em um acordo dessa dimensão, apenas um ano é insuficiente para rever o texto inicial apresentado pelos desgovernos anteriores. Um recomeço seria mais estratégico nessa desigualdade de relação de forças”, declarou, de acordo com a mesma agência, a representante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Raiara Pires.
Este mesmo ceticismo esteve patente durante a semana passada, nas declarações, tanto do Presidente francês, como do chefe de Estado brasileiro.
A acrescentar, o comissário do comércio da União Europeia, Valdis Dombrovskis, cancelou a viagem que faria ao Brasil nesta semana para finalizar o acordo comercial.
O Presidente brasileiro, Lula da Silva, que marcará presença na quinta-feira, na 63.ª Cimeira de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, admitiu, na semana passada, que UE e Mercosul podem acabar sem consenso, depois de ter afirmado ao longo do ano que ambicionava a assinatura do acordo ainda este ano.
A viagem da UE à região serviria para finalizar o acordo comercial do bloco comunitário com o Mercosul, mas face ao ceticismo de países como a Argentina e às críticas recentes de França as perspetivas de concluir o acordo neste ano diminuíram.
A UE e Mercosul têm mantido um contacto regular no sentido de conseguirem concluir as negociações nomeadamente em questões como os compromissos ambientais, após um primeiro aval em 2019, que não teve seguimento.
As discussões evoluíram nos últimos dois meses levando à expectativa de acordo na cimeira desta quarta-feira, no Rio de Janeiro, mas recentes acontecimentos políticos baixaram as ambições.
Javier Milei, candidato ultraliberal que venceu as eleições presidenciais da Argentina, tem vindo a defender posições polémicas como a retirada da Argentina do Mercosul, que classificou como uma “união aduaneira de má qualidade, que cria distorções comerciais e prejudica os membros”, criticando ainda o acordo comercial deste bloco com a UE, que vê como desfavorável.
Além das críticas da Argentina, também o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse no domingo estar “contra” o acordo por não estarem a ser tidas em conta questões de biodiversidade e clima.
O acordo UE-Mercosul abrange os 27 Estados-membros da UE mais Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o equivalente a 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.
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