“As dúvidas instaladas a respeito de temas aprovados pelos associados e acompanhados de perto pelas entidades de tutela e supervisão da associação mutualista e do banco Montepio configuram um ataque à estabilidade deste grupo mutualista, além de uma estratégia de disputa de poder que tem sede e momento próprios para ter lugar”, refere o Conselho de Administração da entidade em comunicado.

Segundo sustenta, trata-se de uma iniciativa “empreendida por um reduzido número de associados determinados a lutar por eleições antecipadas e pela gestão da entidade tutelar do grupo Montepio, sem respeito pelos órgãos sociais eleitos e pela democracia interna, instalando a desconfiança e lesando fortemente a atividade, a reputação da instituição e os interesses dos seus 600 mil associados”.

Na terça-feira, um grupo de associados da mutualista Montepio que nas últimas eleições concorreram em listas de oposição à atual direção apresentaram, em conferência de imprensa, um manifesto onde apelam para que o Governo intervenha de forma urgente no grupo, sob pena de se tornar impossível "salvar o Montepio".

Considerando que "é grave a situação do Montepio, mas não é irreversível", os associados sustentaram que “não está ao alcance da atual administração” invertê-la e colocar a associação e o banco num "rumo sustentável”, pelo que consideram ser urgente “um plano para salvar o Montepio em colaboração com o Governo da República”.

Para a administração da mutualista, esta ação, “executada em termos públicos e com forte impacto na confiança e reputação da marca Montepio, assenta em questões que não foram apresentadas em sede própria da associação, nomeadamente na última assembleia-geral de associados, e contraria o alinhamento da comunidade associativa que, em data recente, aprovou, de forma muito expressiva, as contas individuais (maioria de 89%) e consolidadas (maioria de 97%) da associação mutualista”.

“O momento apresenta dificuldades que são sistémicas. As entidades do grupo Montepio não são imunes, mas prosseguem numa gestão determinada e orientada à superação dos desafios, sem necessidade de quaisquer apoios públicos, como sempre aconteceu ao longo de 180 anos de história e atividade. Mesmo em momentos não muito distantes, quando foram prestados apoios a entidades financeiras, esta instituição da Economia Social soube sempre resolver os seus problemas”, contrapõe.

O Conselho de Administração da Associação Mutualista Montepio considera ainda “estranho que as referências expressas em algumas declarações dos signatários quanto à constituição de um veículo para gestão de ativos improdutivos apontem para uma solução que, contrariamente ao afirmado, não consubstancia proposta gerada pelos próprios, mas antes um projeto em construção no seio do grupo Montepio, pelos respetivos órgãos de gestão, e que foi partilhado na última reunião de Conselho Geral desta instituição”.

Assegurando que afirmações feitas pelos associados em causa “não têm qualquer correspondência com a atuação e situação do grupo Montepio”, o Conselho de Administração da mutualista reitera o seu “repúdio” face à iniciativa.
Entre os associados que subscrevem o manifesto apresentado na terça-feira estão nomes como o de João Costa Pinto (ex-administrador do Banco de Portugal e atual membro do Conselho Geral da mutualista), Eugénio Rosa (ex-membro do Conselho Geral da mutualista), Viriato Silva (membro do Conselho Geral da mutualista), Mário Valadas (professor universitário), Fernando Ribeiro Mendes (ex-administrador da mutualista e candidato a presidente nas últimas eleições) e João Proença (ex-líder da UGT).

A Associação Mutualista Montepio Geral - com mais de 600 mil associados - é o topo do grupo Montepio e tem como principal empresa o banco Montepio.

Virgílio Lima é o seu presidente desde dezembro de 2019, quando sucedeu a Tomás Correia (que foi presidente durante 11 anos). Desde então, vários associados têm pedido eleições antecipadas.

Em 2019, a mutualista teve lucros consolidados de seis milhões de euros. Já em termos individuais, registou prejuízos de 408,8 milhões de euros, devido ao reforço de imparidades sobretudo para o banco Montepio (por imposição da auditora PWC).

Ainda assim, a auditora colocou uma reserva por considerar que a mutualista não tem condições de recuperar os 800 milhões de euros em ativos por impostos diferidos registados nas contas (operação feita em 2017 e que foi bastante polémica).

Ainda na mutualista, continuam por estar em vigor os novos estatutos, que implicarão a criação de uma Assembleia de Representantes (uma espécie de parlamento).

Quanto ao banco Montepio, está atualmente em processo de reestruturação, o qual prevê a saída de entre 600 a 900 trabalhadores nos próximos anos.