O Brasil sucede à Rússia na presidência dos BRICS, termo criado por um analista da Goldman Sachs sobre economias emergentes, e fundado em 2006 por Brasil, Rússia, Índia e China, juntando-se a África do Sul, em 2011, e, este ano, o Egito, o Irão, os Emirados Árabes Unidos e a Etiópia. O bloco representa mais de 40% da população global e mais de 35% do PIB mundial.
Em 2025 está prevista, mas não confirmada, a entrada de países como Turquia, Indonésia, Nigéria, Argélia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Cazaquistão, Vietname, Tailândia, Malásia, Uzbequistão e Uganda como estados membros associados, consolidando o bloco como voz relevante do Sul Global.
Agora, depois deste alargamento e da previsão da entrada de novos parceiros, o objetivo da presidência brasileira passa por ‘arrumar a casa’, disse em entrevista à Lusa o embaixador Eduardo Saboia, negociador-chefe dos BRICS em 2025.
Ao todo, o Brasil vai acolher 18 reuniões ministeriais que culminarão na cimeira de líderes que está prevista acontecer em julho, detalhou à Lusa a diplomacia brasileira.
Tal como aconteceu na presidência do G20, o Brasil vai procurar, agora no âmbito do BRICS, impulsionar a reforma da governança global para aumentar a representatividade do Sul Global em instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial de Saúde (OMS), num objetivo que passa por corrigir assimetrias geopolíticas, através da distribuição mais representativa dos poderes, garantindo que países emergentes tenham mais voz nas instituições internacionais.
As alterações climáticas também serão uma das mais relevantes prioridades brasileiras, até porque em novembro a cidade amazónica de Belém acolhe a Cimeira do Clima de 2025, dez anos após o Acordo de Paris, numa altura em que os impactos da crise climática são cada vez mais visíveis.
Sobre a utilização de moedas locais para transações entre os países dos BRICS, o embaixador Eduardo Saboia disse que o objetivo é “reduzir custos de transação para incentivar ou promover o comércio e o fluxo de investimentos”.
Quando esta ideia foi levantada em 2024, o próximo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os chamados países BRICS serão punidos com uma tarifa de 100% se tomarem medidas para minar o domínio do dólar no sistema financeiro mundial.
Sem mencionar a ameaça de Trump, Saboia frisou que “os países do BRICS são grandes detentores de reservas em dólar”
“Então, seria uma estupidez tentar trabalhar no sentido de confrontar isso”, sublinhou, considerando, contudo, que “a diversificação de reservas é uma coisa que acontece no mundo e essa discussão é legítima”.
“O uso de moedas locais, você reduzir os custos de transação, isso é uma coisa da eficiência económica, da lógica, até diria do capitalismo. Você ter concorrência, você ter eficiência”, reforçou o diplomata brasileiro.
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