“O pacote de sanções não esteve em cima da mesa porque já não é um problema político, é um problema técnico. Sabemos que a Hungria, mas também outros países - a Eslováquia, República Checa e a Bulgária - têm algumas dificuldades, porque têm um grau de dependência muito elevado e têm de encontrar formas alternativas de se abastecerem de petróleo e de gás, [mas] não é uma oposição de fundo em relação à necessidade de sancionarmos a Rússia, incluindo nestes domínios”, declarou o chefe da diplomacia portuguesa.
Falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas no final de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, João Gomes Cravinho explicou que “o trabalho que está a ocorrer é essencialmente um trabalho da Comissão Europeia, que procura identificar atualmente mecanismos que ajudem a que a Hungria, em particular, e depois os outros países também tenham o acesso que precisam ao investimento”.
Questionado sobre quando é que os 27 poderão chegar a acordo sobre aquele que é o sexto pacote de sanções à Rússia, apresentado pela Comissão Europeia no início de maio, o responsável estimou que isso aconteça “dentro de um par de semanas”.
Isto “para não fugirmos, digamos, ao tempo útil para a aplicação de sanções”, acrescentou.
Ainda assim, João Gomes Cravinho frisou que “a mensagem política é muito clara”.
“Vamos aplicar sanções, incluindo nestes domínios. Estamos agora a identificar os mecanismos apropriados para que as assimetrias, o impacto assimétrico das sanções, não seja um obstáculo”, sublinhou.
Garantindo que a UE “não está refém” de um só Estado-membro, João Gomes Cravinho disse ser necessário “compreender aquilo que são dificuldades reais” já que “a Hungria está 100% dependente da Rússia para o seu petróleo”.
“Ora, obviamente que não há condições para cortar o fornecimento da Rússia de um momento para o outro, [pelo que] o que é preciso é ajudarmos a Hungria a encontrar outros caminhos e é esse o trabalho que está a ser feito”, adiantou.
Em causa está o sexto e novo pacote de sanções contra a Rússia devido à invasão da Ucrânia, no final de fevereiro passado, após a Comissão Europeia ter abrangido, no anterior conjunto de medidas restritivas, a proibição da importação de carvão.
O pacote mais recente, apresentado por Bruxelas há duas semanas, prevê uma eliminação total e gradual da importação de todo o petróleo russo para assim reduzir a dependência energética europeia face à Rússia, estipulando também uma derrogação de um ano suplementar para Hungria e Eslováquia.
A Hungria já veio rejeitar a proposta de um embargo progressivo da UE ao petróleo russo nos termos propostos pela Comissão Europeia, alegando que põe em causa a segurança energética do país.
A guerra na Ucrânia expôs a excessiva dependência energética da UE face à Rússia, que é responsável por cerca de 45% das importações de gás europeias. A Rússia também fornece 25% do petróleo e 45% do carvão importado pela UE.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
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