“A disrupção da economia portuguesa causada pela atual crise sanitária global tem sido severa”, lê-se na nota divulgada hoje pela agência de ‘rating’, salientando que o ritmo de recuperação está dependente da interação entre a evolução da pandemia, as políticas de mitigação aplicadas em Portugal e nos restantes países e eventuais alterações na procura.
Apesar da incerteza elevada e da queda do Produto Interno Bruto (PIB) registada no segundo trimestre (-16,3%), a DBRS justifica a manutenção da perspetiva ‘estável’ com a evolução positiva dos principais indicadores económicos observados antes da pandemia de covid-19.
“A economia portuguesa diversificou-se, através de exportações de maior qualidade, e aumentou o investimento do setor privado”, refere a casa de notação, para acentuar que os anos de excedentes orçamentais primários e redução do rácio da dívida pública “deram ao Governo espaço para fornecer os estímulos orçamentais temporários para amortecer o impacto da crise pandémica na economia”.
A DBRS assinala também como positiva a “existência” de consenso a nível dos partidos políticos para que as contas públicas retomem o caminho do reequilíbrio assim que as condições melhorem.
A justificar a manutenção da notação está ainda o fortalecimento dos fundamentos de crédito dos principais bancos portugueses observado antes do choque criado pela doença causada pelo novo coronavírus.
Na avaliação hoje publicada a DBRS refere que a economia portuguesa registará em 2020 “uma recessão profunda”, devido ao impacto da pandemia na procura interna e mundial, ainda que o desconfinamento e as medidas excecionais e temporárias tenham contribuído para uma retoma parcial da atividade económica.
A agência espera que o perfil de recuperação da procura interna se mantenha na reta final de 2020 e no próximo ano.
A agência de ‘rating’ assinala, porém, que o “principal risco para a economia portuguesa” advém de uma potencial alteração estrutural da procura externa.
“Nos últimos anos, o peso das exportações na economia aumentou”, acompanhado de um reforço da diversificação de produtos e de destinos, mas “é improvável que a diversificação proteja totalmente as exportações de um choque de procura duradouro e amplo, especialmente do turismo”.
A DBRS aponta ainda que o choque económico causado pela pandemia e as medidas de mitigação dos seus impactos tomadas pelo Governo vão “deteriorar de forma significativa” o saldo orçamental “revertendo anos” de esforço no caminho do equilíbrio orçamental.
A redução do défice em 2021 vai depender dos estímulos orçamentais e da sua duração, bem como do pacote de apoios criado a nível europeu. Ainda que afirme ser “fundamental” a consolidação orçamental no médio prazo, a agência considera que, neste momento, os estímulos orçamentais são necessários.
Relativamente à dívida pública, a agência canadiana assinala que a pandemia vai reverter este ano a tendência de descida registada nos últimos cinco anos, e que o elevado rácio da dívida no PIB deixa as finanças públicas vulneráveis perante uma recessão e a choques nas taxas de juro.
“Apesar do aumento do rácio da dívida no PIB, o peso [do serviço] da dívida está relativamente estável devido a taxas de juro mais baixas”, refere acrescentando que “Portugal aproveitou as condições de mercado favoráveis nos últimos anos para melhorar o perfil da dívida e reduzir os custos com juros”.
No que diz respeito ao sistema financeiro, a DBRS assinala a melhoria dos indicadores registada no pré-covid, mas refere que esta “pode ser revertida se a crise da covid-19 afetar de forma significativa a solvência das famílias e das empresas”.
Em março, a canadiana DBRS tinha mantido o ‘rating’ da dívida pública portuguesa, com perspetiva estável, ainda que nessa altura tenha considerado que a natureza “pequena e aberta” da economia portuguesa a colocava vulnerável. Esta natureza é igualmente referida na avaliação hoje conhecida.
O ‘rating’ é uma classificação atribuída pelas agências de notação financeira que avalia o risco de crédito (capacidade de pagar a dívida) de um emissor, que pode ser um país ou uma empresa. A perspetiva ‘estável’ indica que não deverá haver uma mudança da notação em breve.
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