O administrador financeiro do grupo Sonae, João Dolores, descartou as responsabilidades na subida dos preços dos bens alimentares. Na apresentação das contas anuais do Grupo, Dolores afirmou que "a inflação não está a ser criada pela distribuição. Repudiamos totalmente as acusações de que estamos a especular nos preços para prejudicar os consumidores", lê-se no jornal Público.
Nesta sessão, João Dolores recorreu-se do aumento de preços de vários factores de produção, desde a energia às sementes ou aos fertilizantes, explicando que o preço dos bens alimentares não tem descido por "hoje se estar a vender produtos cujos custos foram integrados há mais de um ano".
Para além de falar sobre a inflação, João Dolores também antecipou que o valor da taxa sobre lucros extraordinários que recairá sobre o grupo deverá ser "relativamente marginal" face ao total de impostos que atualmente paga.

"Face à [atual] pressão na nossa rentabilidade, a nossa expectativa é que o valor que venhamos a pagar seja marginal face à totalidade de impostos que pagamos ao Estado português hoje em dia. Ainda não temos esse cálculo realizado, porque só submetemos a declaração daqui a alguns meses e, portanto, ainda estamos a computar esse valor, mas na nossa perspetiva, à data de hoje, será um valor relativamente marginal face ao total de impostos que pagamos", afirmou o responsável financeiro à Lusa.

Assumindo-se contra o pagamento deste imposto, João Dolores explicou: “Não reconhecemos o conceito de lucros excedentários. Se lucros excedentários são lucros superiores numa empresa que investe no país, que cria emprego e que abre novas lojas, como é o nosso caso, sinceramente não nos parece correto estar a considerar estes lucros”, sustentou.

“Nos últimos quatro anos, abrimos no retalho alimentar mais de 200 lojas em Portugal, investimos mais de 800 milhões de euros e criámos mais de 5.000 empregos. Portanto, é natural que, investindo, os lucros também subam do ponto de vista absoluto e estar a penalizar quem investe no país parece-nos a todos um mau princípio”, acrescentou.

Relativamente a uma possível fixação de preços, a presidente executiva do Grupo Sonae, Cláudia Azevedo, não concorda com a ideia, lembrando que o mercado é "aberto e concorrencial". Cláudia Azevedo classifica a procura desenfreada por culpados como "estranha", referindo que "se tivesse de procurar algum culpado pela inflação seria, talvez, o presidente da Rússia, da China ou a seca".
Esta quinta-feira, a Sonae apresentou os seus resultados anuais. Na unidade de retalho alimentar Modelo Continente (MC), houve uma diminuição de 17,8% face a 2022. No volume de negócios, houve um crescimento face ao mesmo período em 2022, atingindo, em 2023, seis mil milhões de euros.