“Se o privado não aceitar as condições do Estado português, nós teremos de intervencionar a empresa, nacionalizar a empresa, sim, ou quer que nós deixemos a empresa cair?”, respondeu o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, perante os deputados da comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, na Assembleia da República.
"A proposta que o Estado fez neste momento foi chumbada no Conselho de Administração" confirmou o ministro, pouco depois de o semanário 'Expresso' ter avançado que a administração da Atlantic Gateway, empresa detida por David Neeleman e Humberto Pedrosa e que controla 45% da TAP, inviabilizou a aprovação do empréstimo do Estado à companhia aérea. O que, segundo o semanário, levou à rutura com o Governo e voltou a colocar a colocar em força cenário da nacionalização da TAP.
Nessa reunião do Conselho de Administração, órgão liderado por Miguel Frasquilho, a proposta do Estado teve "os votos a favor dos administradores do Estado e as abstenções do privado, o que resultou no seu chumbo", adiantou o governante. Para ser aprovada, a proposta teria de ter maioria qualificada no Conselho de Administração, composto por 12 elementos – seis do Estado e seis do privado.
"Precisávamos de oito votos a favor para passar e ela foi chumbada, presumo que por isso apareceu um conjunto diverso de notícias", afirmou.
Caso essa proposta não seja aceite pelo sócio privado, Pedro Nuno Santos garantiu hoje que o Estado fará "uma intervenção mais assertiva na empresa".
"Não cederemos na negociação com o privado. Não lhe chamamos braço de ferro, chamamos defesa intransigente e firme do interesse nacional. Estamos preparados para tudo, o Governo não vai ceder nas suas condições e estamos preparados para intervencionar e salvar a empresa", declarou.
De acordo com o 'Observador' e o 'Público', que citam fontes próximas do processo, as negociações ainda prosseguem hoje e amanhã. Os acionistas da TAP estão reunidos esta terça-feira numa assembleia-geral para aprovar as contas do ano passado.
"A TAP é demasiado importante para o país para a deixarmos cair"
Na audição da Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, esta manhã, o ministro das Infraestruturas disse que a TAP é "demasiado importante" para o país para que se deixe "cair", depois de questionado sobre uma eventual falta de acordo entre acionistas e a opção pela nacionalização da companhia.
"A TAP é demasiado importante para o país para a deixarmos cair", disse o ministro, depois de questionado pelo deputado do PSD Cristóvão Norte sobre a notícia do Expresso.
Antes disso, o governante prescindiu da intervenção inicial na comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação.
"Quando nós estamos a falar sobre a TAP nós temos de perceber que não podemos ficar limitados ao resultado da TAP enquanto empresa, porque estamos a falar daquela que é uma das maiores transportadoras nacionais. [...] Quase 90% dos nossos turistas chegam por via aérea, metade chegam pela TAP. [...] É um instrumento de desenvolvimento nacional, de promoção de emprego", acrescentou.
O acionista da TAP David Neeleman garantiu na segunda-feira o “empenho dos privados” no futuro da companhia, agradecendo “muito” o empréstimo de emergência do Estado português e afirmando aceitar a entrada imediata deste na Comissão Executiva da empresa.
“Apesar de não ter sido essa a nossa proposta, agradecemos muito o apoio do Estado português através de um empréstimo de emergência à TAP e aceitamos obviamente as medidas de controlo da utilização desse empréstimo”, afirmou Neeleman numa declaração escrita enviada à agência Lusa.
Após “meses de silêncio", o empresário justificou esta tomada de posição com a necessidade de “rejeitar as declarações sobre o empenho dos privados no futuro da TAP”, garantindo que estes estão “disponíveis para aceitar a participação do Estado na Comissão Executiva imediatamente e mesmo antes de uma eventual capitalização do empréstimo”.
“Estamos também disponíveis para capitalizar os nossos créditos na companhia no momento da aprovação do plano de reestruturação que será negociado com a Comissão Europeia”, acrescentou.
A Comissão Europeia aprovou em 10 de junho um “auxílio de emergência português” à companhia aérea TAP, um apoio estatal de 1.200 milhões de euros para responder às “necessidades imediatas de liquidez” com condições predeterminadas para o seu reembolso.
Uma vez que a TAP já estava numa débil situação financeira antes da pandemia de covid-19, a empresa “não é elegível” para receber uma ajuda estatal ao abrigo das regras mais flexíveis de Bruxelas devido ao surto, que são destinadas a “empresas que de outra forma seriam viáveis”.
A TAP registou no primeiro trimestre do ano prejuízos de 395 milhões de euros, relacionados com os impactos da pandemia de covid-19, anunciou esta segunda-feira a companhia aérea portuguesa ao mercado.
O presidente executivo da TAP, Antonoaldo Neves, disse ser “óbvio” que a TAP não tem condições para pagar o empréstimo que vai receber de até 1.200 milhões de euros e que quer apresentar o plano de reestruturação em três meses.
[Notícia atualizada às 17h13]
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