“A proporção de empresas que perdem dinheiro [com a guerra da Ucrânia] duplica em relação aos tempos normais. […] A proporção aumenta em mais de oito pontos percentuais em 12 países e em até 28 pontos percentuais na Grécia”, sendo que, “na Áustria, Alemanha, Grécia, Itália, Roménia, Espanha e Portugal, os preços da energia têm um impacto maior, enquanto na Lituânia, Hungria, República Checa, Estónia e Letónia, as exportações são importantes”, indica o Banco Europeu de Investimento (BEI) num relatório hoje divulgado.
No documento sobre “Quão má é a guerra da Ucrânia para a recuperação europeia?”, o BEI estima que a guerra da Ucrânia tenha impacto nos “preços da energia e nas perturbações nas exportações, que diferem de país para país”, o que no caso de Portugal implica uma subida em 9,30 pontos percentuais na percentagem de empresas portuguesas que declaram perdas pelos elevados preços energéticos.
Este organismo europeu aponta que, devido à guerra da Ucrânia causada pela invasão russa, “as faturas de energia das empresas duplicaram durante pelo menos um ano, as empresas absorveram esses custos mais elevados reduzindo os seus lucros, em vez de aumentarem os preços dos seus próprios produtos, e ainda as exportações para a Ucrânia, Rússia e Bielorrússia estão completamente suspensas”.
De acordo com o BEI, Portugal não é tão afetado pelo estrangulamento das cadeias de abastecimento como pelos preços energéticos em geral, porque é o segundo país da União Europeia (UE) com menos mercadorias exportadas para a Ucrânia, Rússia e Bielorrússia (só valeram 0,11% do Produto Interno Bruto português em 2019) e o quarto Estado-membro que menos importa energia fora da União Europeia proveniente da Ucrânia, Rússia e Bielorrússia (estas importações equivalem a 10,9% do cabaz energético nacional).
Por seu lado, os cálculos do BEI para o conjunto da UE indicam que “a percentagem de empresas da UE que perdem dinheiro sobe da média normal de 8% para 15% no ano após o início da invasão”, de acordo com o relatório.
Ao mesmo tempo, “a percentagem de empresas que correm o risco de incumprimento da sua dívida também sobe de 10% para 17% no mesmo período”.
“As empresas de setores como o dos transportes, produtos químicos e farmacêuticos, e alimentos e agricultura são as que mais sofrem”, enquanto as “empresas localizadas em países próximos da Ucrânia, como a Polónia, Letónia e Lituânia também são duramente atingidas, tal como as empresas da Grécia, Croácia e Espanha”, especifica o BEI.
Contextualizando que “as perturbações comerciais e a inflação na Ucrânia pesam sobre as empresas e as famílias”, o BEI admite ainda uma subida no risco de pobreza.
Quanto a Portugal, as contas da instituição europeia indicam que os preços mais elevados para bens essenciais, devido à guerra da Ucrânia, aumentam o risco de pobreza em 1,2 pontos percentuais, face a percentagem que era de 19,97% em 2020.
“Para evitar que as pessoas vulneráveis caiam na pobreza, os governos europeus precisarão mais uma vez de intervir e fornecer uma rede de segurança”, aconselha o BEI.
Avaliado foi ainda o impacto da guerra nos bancos europeus, concluindo o BEI que “a exposição direta à Rússia e à Ucrânia é relativamente baixa”.
Dados da Autoridade Bancária Europeia destacados pelo BEI demonstram que, no final de 2021, a exposição dos bancos europeus à Rússia (com empréstimos, adiantamentos e títulos de dívida) era de 76 mil milhões de euros, enquanto que a exposição à Ucrânia era de 11 mil milhões de euros.
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