A previsão foi feita por Pedro Pêga, diretor da AFIA, durante o 10.º Encontro da Indústria Automóvel, que decorre hoje em Ílhavo, no distrito de Aveiro.

Em termos de volume de negócios, o responsável referiu que o setor registou uma taxa média de crescimento de 8,1% até 2019, tendo havido uma “quebra acentuada” de 13% no volume das vendas em 2020, ano em que as receitas atingiram 10,4 mil milhões de euros.

Este valor representa menos de metade da quebra registada na Europa, que se situou nos 27%, o que leva Pedro Pêga a dizer “com alguma segurança” que a indústria de componentes para o automóvel em Portugal “ganhou alguma quota de mercado”.

“Para 2021 a estimativa é de um crescimento de 1,2%. Oxalá assim seja e que possamos estar a iniciar a recuperação”, disse o responsável.

As exportações correspondem a cerca de 83% da produção, o que representa 8,6 mil milhões de euros do volume de negócios.

O diretor da AFIA fez uma caracterização da indústria de componentes automóveis em Portugal, adiantando que atualmente o setor emprega 62 mil trabalhadores distribuídos por 350 empresas que detêm 375 fábricas, localizadas principalmente na zona norte (44%) e centro (36%).

No que se refere aos postos de trabalho, o dirigente disse que a pandemia implicou uma “ligeira redução” de quase mil trabalhadores, devido a “muitos sacrifícios” que várias fabricas encetaram no sentido de manter o pessoal qualificado e a alguns incentivos lançados pelo Governo.

No entanto, admite que este número deverá aumentar a partir do terceiro trimestre deste ano, com o desaparecimento do ‘lay-off’ simplificado, considerando que as empresas “vão ter de planear estratégias, vão ter que reajustar, especialmente porque o mercado não dá mostras de recuperação”.

Pedro Pêga referiu ainda que 98% dos automóveis produzidos na Europa têm componentes produzidos em Portugal, sendo que algumas marcas de veículo elétrico já estão presentes neste universo.

Na mesma ocasião, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, realçou a necessidade de avançar com uma “recomposição muito grande” de todas as estruturas de produção para responder a uma mudança estrutural “muito significativa” no setor, devido ao aparecimento de novos modelos de mobilidade.

“A transformação significativa do modo como produzimos e do modo como nos deslocamos vai ter um impacto provavelmente bastante significativo nesta indústria”, referiu o governante, assinalando que a mobilidade elétrica “vai exigir do ponto da produção de veículos menos mão-de-obra e menos componentes”.

Durante a sua intervenção por videoconferência, o governante referiu ainda um outro desafio, este “de curto prazo”, relacionado com os constrangimentos “muito severos” que se estão a verificar no acesso a componentes críticos e que têm levado a paragens de linhas de produção completas.

“A verdade é que a dimensão da produção se anda a ressentir muito significativamente deste impacto e, por isso, temos também procurado apoiar as empresas do setor em momentos de maior paragem de atividade, designadamente para permitir manter recursos humanos e a mão de obras qualificada”, disse.

O ministro defendeu que este momento difícil “exige uma renovada atenção à preservação do potencial produtivo”, manifestando-se convicto que nos próximos meses as cadeias de abastecimento se poderão recompor e a capacidade da oferta de componentes poderá vir a acompanhar o aumento da procura.