“Foi-nos vendido um produto fraudulento. Conforme disse a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), foi criada uma provisão para salvaguardar essas poupanças, que passou para o Novo Banco, que até este momento – e já passaram três anos – não tem dado solução nenhuma”, afirmou aos jornalistas António Silva, um dos lesados presentes no protesto.
Segundo António Silva, os lesados exigem “a totalidade do dinheiro aplicado, porque a provisão foi constituída para devolver o dinheiro às pessoas, era essa a finalidade”, e vão continuar a lutar em defesa do que é seu.
Também presente nos Aliados, Luís Santos adiantou ter tido “uma surpresa” no dia 07, ao ver que, sem nunca ter assinado a proposta da Associação de Lesados do Papel Comercial (ALPC), que prevê que seja pago 75% do investimento a todos os investidores num prazo de cinco anos, “foi metido” na sua conta à ordem 30% do valor total que tinha no banco.
“A minha advogada disse para assinar essa proposta dos 75%, porque se não ia perder tudo. A prova de que não perdi tudo é que me meteram 30% do valor total”, disse Luís Santos, da Covilhã, que exige recuperar “os 100% que lá tinha”, bem como ser indemnizado por danos morais e receber pelas despesas que já teve com advogados.
Jorge Novo, outro elemento do grupo que se concentrou esta manhã no Porto, recomendou a todos os lesados não aceitarem e não assinarem a solução que lhes tem sido proposta, reivindicando “a provisão”.
“A solução foi feita por alguém, uns senhores que andam por aí e que se infiltraram, e que vão é tratar da vida deles. Os lesados somos nós, não aceitamos a solução, pretendemos a provisão que está no Novo Banco”, vincou, criticando ainda o facto de a ALPC não ter realizado uma assembleia-geral para consultar os associados.
Segundo disse, e sem apontar nomes, a solução proposta “não é vinculativa e essa dita solução foi desenhada por esses senhores infiltrados, porque ninguém [dos lesados] foi consultado”.
Nesta concentração foi também anunciado que os lesados vão lançar hoje mesmo uma petição para entregar no Parlamento Europeu, na qual pretendem “explicar o que se passou, o que foi dito e assumido”, designadamente o facto de ter sido criada uma provisão para reembolsar os clientes, instrumento que “não podia ter outro destino”, explicou António Silva.
O grupo, que se manifestou ruidosamente e colocou cerca de dez faixas na avenida dos Aliados com inscrições como “Novo Banco paga o que deves”, “E se fosse consigo?”, “Solução Pró Tachão” e “Banco de Portugal Irresponsável”, considera que pode estar em causa uma violação do Estado de Direito, porque a provisão destinava-se a “devolver as poupanças aos clientes de retalho”.
Esta foi a segunda manifestação realizada no Porto durante este mês pelos lesados do Banco Espírito Santo (BES), que prometeram hoje continuar a luta, inclusive protestando em frente à casa de Ricardo Salgado, ex-líder histórico do BES, do antigo Presidente da República Cavaco Silva, e do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
O BES, tal como era conhecido, acabou em 03 de agosto de 2014, quatro dias depois de apresentar um prejuízo semestral histórico de 3,6 mil milhões de euros.
O Banco de Portugal, através de uma medida de resolução, tomou conta da instituição fundada pela família Espírito Santo e anunciou a sua separação, ficando os ativos e passivos de qualidade num ‘banco bom’, denominado Novo Banco, e os passivos e ativos tóxicos no BES, o ‘banco mau’ (‘bad bank’), sem licença bancária.
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