"Onde está a austeridade? Austeridade é um bocado um mito. Sim, há muita gente que está a sofrer, particularmente os jovens estão a carregar muito o fardo, mas isso reflete o problema das reformas insuficientes nas pensões", disse Poul Thomsen hoje à Lusa, em Lisboa.
Em declarações ao Fórum Financeiro Outlook 2021, o economista dinamarquês destacou o caso da França, onde “a dívida passou de 20% do PIB em 1980 para, antes da crise do coronavírus, 100% do PIB. Nunca baixou, nunca. Subiu sempre".
“Não estou a dizer que as pessoas não sentem austeridade. Muita gente vai sentir austeridade pela falta de reformas estruturais, mas do ponto de vista macroeconómico, com a dívida a subir, não [há austeridade]”, comentou.
O ex-diretor do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI), que esteve na equipa da 'Troika' durante o Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) - que também incluiu Comissão Europeia e Banco Central Europeu - disse ainda que é contra a reforma das regras orçamentais na União Europeia.
“Acho que há muita desinformação. O problema que a Europa tem, e aqui não estou a pensar em Portugal em particular - na verdade, menos em Portugal - é que os países com dívidas elevadas, como Itália, França, Espanha, Grécia - e vamos excluir Portugal por um tempo - não estão a fazer nada para reduzir a dívida, por causa de profundos problemas estruturais”.
Nesse sentido, Poul Thomsen destacou que “não faz sentido mudar as regras orçamentais sem que haja reformas estruturais para recuperar o controle da dívida”.
“Mudar as regras orçamentais, a meu ver, é apenas um exemplo de mudar algo para que tudo continue igual”, considerou.
Para o economista, as pensões também devem ser abordadas no debate em termos de ajustes macroeconómicos.
“Eu acho que a questão das pensões é a questão-chave enfrentada por quase todos esses países com dívidas altas. Também alguns dos países com dívidas mais baixas, mas é menos uma ameaça à estabilidade macroeconómica”, considerou.
Poul Thomsen discorda de muitas das críticas à Troika
“Na verdade, não concordo com muitas críticas. Havia alguns argumentos de que o multiplicador orçamental era irreal. Não tenho a certeza disso. Houve algumas críticas de que não prevíamos todos os problemas do sistema bancário e também não concordo com isso", disse Poul Thomsen à Lusa.
O ex-membro da 'Troika', que implementou o Programa de Assistência Económica e Financeira, considerou que o programa português “teve sucesso”, e que na altura a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI trabalharam com a informação de que dispunham.
“Na altura, baseámos a nossa decisão nas informações de que dispúnhamos. Portanto, penso que, se olharmos para o programa, penso mesmo que fez com que Portugal lidasse com alguns dos seus problemas estruturais. Não todos, nunca é assim, mas foi um programa que restaurou a confiança na capacidade de Portugal para lidar com o seu problema”, disse à Lusa.
O economista dinamarquês destacou a importância do consenso político por parte dos principais partidos políticos da época, ao contrário do que acontecia na Grécia.
"Acho que o ponto crítico foi que havia um consenso político na época. Eu estive a negociar e a dirigir o trabalho na Grécia por um ano, onde o programa colapsou - é uma palavra forte, mas falhou - por falta de unidade política", disse Thomsen.
O ex-diretor do Departamento Europeu do FMI disse que quando a 'Troika' veio a Portugal “deixou claro que o programa precisava ser apoiado não só pelo governo socialista que estava no poder, mas também pela oposição social-democrata".
"O Governo sabia que estávamos a falar com a oposição também", reforçou.
“Estou convencido de que o sucesso do programa não se resumiu aos detalhes do programa. Claro que acertámos nalgumas coisas errámos noutras”, frisou.
Depois de “Portugal ter saído do abismo, o debate político normal retomou, e penso que isto fala muito bem do corpo político português, ao entender que existe um interesse nacional que se sobrepõe à luta partidária”.
“Acho que foi um programa de sucesso. Afinal Portugal saiu da crise com um crescimento mais forte e durante os 10 anos anteriores à crise [do coronavírus] embarcou numa redução gradual da sua dívida, por isso acho que isso é bom”, disse.
Poul Thomsen diz que a Troika "claramente" não tinha "legitimidade política"
"A Troika, e eu fiz parte da Troika: claramente não tínhamos legitimidade política. Nenhuma. Não há nada nos tratados que diz que se tem de ouvir a Troika", disse hoje no Fórum Financeiro Outlook 2021, que decorre na Culturgest, em Lisboa.
O antigo membro da estrutura do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) considera que em termos de governação se voltou ao "status quo ante" (o estado em que as coisas estavam).
"A nível europeu, o que vimos realmente na governação foi que a Comissão Europeia, o Eurogrupo, regressaram ao 'status quo ante' de essencialmente internalizar políticas domésticas", afirmou.
O economista dinamarquês afirmou que "não houve integração política desde então que permitisse uma interferência, se quiserem, do género da Troika, de uma forma politicamente legítima", disse ao auditório.
"Não é surpreendente que tenhamos regressado ao 'status quo ante'", reforçou.
Antes da sua intervenção, o também professor universitário já tinha dito à Lusa que considerava que programa de ajustamento português “teve sucesso”.
O economista dinamarquês destacou à Lusa a importância do consenso político por parte dos principais partidos políticos da época, ao contrário do que acontecia na Grécia.
"Acho que o ponto crítico foi que havia um consenso político na época. Eu estive a negociar e a dirigir o trabalho na Grécia por um ano, onde o programa colapsou - é uma palavra forte, mas falhou - por falta de unidade política", disse Thomsen.
O ex-diretor do Departamento Europeu do FMI disse que quando a 'Troika' veio a Portugal “deixou claro que o programa precisava ser apoiado não só pelo governo socialista que estava no poder, mas também pela oposição social-democrata".
Depois de “Portugal ter saído do abismo, o debate político normal retomou, e penso que isto fala muito bem do corpo político português, ao entender que existe um interesse nacional que se sobrepõe à luta partidária”, considerou.
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