“Este Governo acaba de abandonar todas as pessoas que vivem do seu salário em Portugal porque recusa um facto fundamental: é que este ciclo de inflação não é uma conjuntura de poucos meses que vai passar já”, declarou Catarina Martins no debate do Programa do XXIII Governo Constitucional, que decorre hoje na Assembleia da República.

A líder do Bloco de Esquerda (BE) considerou que, se António Costa “tinha esperança” que a inflação fosse passageira quando apresentou o programa eleitoral do PS em janeiro, “já a deve ter perdido”.

“Agora, com uma guerra na Europa e com a instabilidade e a segurança a serem cada vez mais o pretexto para processos especulativos que fazem aumentar os preços, insistir que isto é só um parêntese é absurdo e irresponsável”, sublinhou.

Apelando a que se dê resposta às pessoas que todos meses têm que “contar os tostões” – “enquanto há quem ganhe milhões” -, Catarina Martins criticou os aumentos de salários e pensões previstos, que “ficam a 1%, cinco vezes abaixo da inflação que se faz sentir até ao final de março”.

“Uma proposta, num momento de crise, que não mexe nos salários, que tem rendas garantidas para as descidas de preços em setores como o energético, e que acaba a descapitalizar a Segurança Social em borlas TSU, em florestas de apoios que ninguém sabe muito bem como lá se chega, parece muito de esquerda, e lembra muito, muito, outros tempos a que não queremos voltar”, concluiu.

Na resposta, o primeiro-ministro referiu que “todas as instituições internacionais, e mesmo nacionais”, preveem que o fenómeno inflacionário “seja transitório e temporário ao longo deste ano”, convidando a líder do Bloco de Esquerda a “ver as previsões do Banco Central Europeu”, do Banco de Portugal ou do Programa de Estabilidade.

“Todos indicam um ponto: este ano é um ano em que a inflação não tem continuidade no ano seguinte e é, portanto, um problema eminentemente transitório. E tem causas bem conhecidas: iniciou com a rotura das cadeias da produção aquando da pandemia, foi depois agravado quer com o aumento dos preços da energia, quer com as novas roturas das cadeias de abastecimento, com o desencadeamento da guerra pela Rússia, com a invasão da Ucrânia”, indicou.

O primeiro-ministro apelou assim a que se ataque “o problema nas raízes”, considerando que esses problemas residem no “custo da energia” e no “custo de alguns fatores de produção que correm o risco de contaminar o conjunto de outros bens, designadamente dos bens alimentares”.

Costa elencou assim um conjunto de medidas adotadas pelo Governo para responder a esses fenómenos, designadamente a isenção do IVA para rações e fertilizantes, a redução do Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP) num montante equivalente ao que resultaria da receita do IVA ou alargamento da tarifa social de eletricidade ao gás de botija.

“Se o mundo é perfeito? Não, o mundo não é perfeito. O mundo ficará melhor quando a Rússia retirar da Ucrânia e for restabelecida a paz, o mundo será melhor quando se restabelecerem as cadeias de abastecimento, o mundo será melhor quando nós concretizarmos as interconexões com a Espanha e a Espanha com a França, o mundo será melhor quando, em 2026, já tivermos 80% da eletricidade, e não só 60% da eletricidade, com origem nas fontes renováveis”, frisou.

“Agora, nós trabalharmos para melhorar o mundo é uma coisa que nós fazemos no dia a dia e iremos continuar a fazer”, acrescentou.