“O principal impacto para a EDP [devido à seca] são as menores receitas. Vou ter de usar produtos que têm maior custo do que a água”, como o carvão e o gás natural, referiu António Mexia, que falava em Lisboa na Conferência Anual do BCSD 2017 sobre “Como crescer e criar emprego numa economia neutra em carbono? Pensar Portugal em 2030”.

O responsável notou que “a hidraulicidade este ano está […] 60% abaixo de um ano médio”, o que se deve a fatores de “maior volatilidade”, como as alterações climáticas.

Falando sobre os valores para os consumidores, António Mexia explicou que “o preço em Portugal é o preço espanhol”.

“As alterações da nossa capacidade [na produção de energia elétrica] não mudam o preço ibérico. Só se houver seca a nível ibérico, é que poderá haver uma subida do preço grossista”, acrescentou.

O responsável assinalou, contudo, que “ter água ou ter vento hoje contribui estruturalmente para a descida dos preços”, assim como as energias renováveis, razão pela qual a EDP tem vindo a apostar neste tipo de produção.

Dados revelados na quarta-feira pela associação ambiental Quercus indicam que a seca levou a uma descida de 58% da produção de energia através dos recursos hídricos, disparando o consumo de carvão (22%) e de gás (66%).

Assim, entre janeiro e outubro deste ano, a principal fonte de energia foi o gás natural (32%), seguido pelo carvão (25%), pela eólica (21%), hídrica (14%), biomassa (5%) e solar (2%), entre outras.

No mesmo período do ano passado, a maior fatia correspondia à energia hídrica (33%).

Por seu lado, o preço da energia no mercado grossista neste período também subiu de 35,7 euros para 51,1 euros.

Na sua intervenção inicial, António Mexia reconheceu que a seca é uma preocupação diária.

“A primeira coisa que faço de manhã é ver o boletim meteorológico e as previsões para os próximos dias, que valem o que valem”, para ver se vai chover, disse.

Mesmo que as previsões nem sempre sejam exatas, a busca por esta informação “não é inocente nem para saber se vai condicionar a vida ou não”.

Para o responsável, as empresas enfrentam, hoje em dia, desafios como a descarbonização e a digitalização.

“Os dois fenómenos são fundamentais para o desenvolvimento sustentável e os dois reconhecem aquilo que são hoje os modelos de negócio das empresas”, observou, falando num “modelo de transição”.

Relativamente à descarbonização, indicou que a EDP encarou esta questão “muito a sério há uma década”, altura em que apostou em fontes de energia alternativa, como as renováveis.

“Se esta companhia não tivesse apostado nas energias renováveis, hoje seríamos uma companhia totalmente irrelevante”, disse.

Também a área da digitalização está a ser tida em conta pela EDP, assegurou António Mexia, aludindo à recente assinatura, no Brasil, de um protocolo que prevê a “substituição de pessoas por robôs” em determinadas áreas.