“Os bancos passaram a encarar as contas-ordenado como a nova galinha poedeira, capaz de lhes render um fluxo ininterrupto de ovos de ouro”, lê-se na edição de março da revista Dinheiro & Direitos, que admite que a recomendação que dava anteriormente aos seus associados de domiciliarem o ordenado como forma de pouparem em custos bancários deixou em muitos casos de fazer sentido.
O artigo refere mesmo os casos do Deutsche Bank, Novo Banco e Santander Totta, que “acabaram com as contas-ordenado” e, em substituição, propõem “contas-pack”, que implicam um conjunto de serviços que muitas vezes não compensa ao cliente.
Mesmo nos bancos em que subsistem contas-ordenado, acrescenta a Dinheiro & Direitos, os bancos criam “cada vez mais obstáculos para aceitarem a isenção”, como um nível de ordenado mais elevado.
Havia ainda serviços gratuitos que as contas-ordenados ofereciam tradicionalmente, como não cobrar comissões pelas transferências feitas pela Internet, que em alguns casos também terminaram.
O artigo da revista Dinheiro & Direitos faz uma análise do mercado das contas à ordem oferecidas pelos principais bancos que operam em Portugal.
No primeiro cenário – para um saldo médio inferior a 1.000 euros, sem domiciliação de ordenado, mas com cartões de débito e crédito e uma transferência por mês – foi concluído que os maiores bancos são em geral mais caros.
“Banco BPI, Novo Banco, CGD [Caixa Geral de Depósitos], Santander Totta e Millennium bcp praticam uma média de 149,95 euros [de custos] anuais para as condições do nosso primeiro cenário (…). São mais 18,57 euros, ou seja, mais 14% do que a concorrência”, refere o artigo.
Já no segundo cenário analisado – as mesmas condições do primeiro cenário, mas com ordenado domiciliado – refere o estudo que “os custos médios nestes cinco bancos agravaram–se uns exuberantes 47% desde o último estudo quando o meio de movimentação [da conta] é a net”.
Ou seja, face ao aumento da movimentação das contas bancárias pela Internet, os bancos estão agora a taxar este serviço, que durante anos tinha isenções ou custos diminutos, até como forma de o fomentar.
Para evitar estes aumentos de custos nas contas à ordem, que são considerados “arbitrários”, diz o estudo que os melhores bancos são mais pequenos e que estão no mercado mais recentemente, destacando o Banco CTT, o Bankinter (comprou atividade do Barclays em Portugal), o Banco BIG e o Activo Bank.
Por fim, a Dinheiro & Direitos critica a passividade do Banco de Portugal na regulação do mercado, acusando-o de estar “pouco ou nada preocupado com os interesses dos consumidores”, e considera que deve haver limites aos custos dos produtos bancários e a que a cobrança de comissões só aconteça por serviços efetivamente prestados.
“Há um ano que existem propostas legislativas em discussão no parlamento. Até quando?”, questiona a associação de defesa dos consumidores Deco.
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