“A pandemia teve impactos distintos nas diferentes espécies de aquacultura. No caso dos bivalves (ameijoa-boa, ostra e mexilhão) e algas o impacto é bastante severo, pois, como se trata de produtos que são maioritariamente exportados para a Europa, as quebras foram muito elevadas, atingindo em alguns casos 90%”, indicou o secretário-geral da Associação Portuguesa de Aquacultores, em resposta à Lusa.

Segundo Fernando Gonçalves, já no caso dos peixes o impacto divide-se em duas fases — durante e após a primeira vaga da pandemia de covid-19.

Durante a primeira vaga, espécies como o pregado e o linguado tiveram quebras superiores a 40%, que foram recuperadas durante o verão, enquanto no caso da dourada, robalo e truta as quebras, desde março, “não foram tão significativas” em termos de volume.

Porém, no que concerne ao valor, registou-se uma descida dos preços “por pressão do pescado importado”, o que, segundo a associação, poderá estar relacionado com o encerramento da restauração e hotelaria.

No total, considerando as quebras de vendas e preços, as empresas da aquacultura totalizaram uma descida de faturação, nalguns casos, superior a 40%.

“Os apoios disponibilizados tiveram pouco impacto”, notou Fernando Gonçalves, explicando que o ‘lay-off’ não pode ser aplicado no setor, uma vez que os animais precisam de manutenção e cuidados diários.

Neste sentido, o que teve maior impacto no setor “foi o disponibilizado pelo Mar2020″, destinado a apoiar quebras de faturação das empresas.

Para os próximos meses a associação perspetiva que a venda de peixe se mantenha “estável”, enquanto as de algas e bivalves “poderão continuar a ser residuais”.

De acordo com os dados disponibilizados pelo Ministério do Mar, reportados a 2018, contabilizam-se 605 empresas de apanha de algas e outros produtos do mar, mais 197 do que em 2010, e 639 trabalhadores, uma subida de 208.

No período em causa, estas empresas apresentaram 2,9 milhões de euros de valor acrescentado bruto (VAB), uma subida de 1,9 milhões de euros em comparação com 2010.

No mesmo ano, a apanha de produtos em águas interiores tinha 40 empresas, representando 149 mil euros de VAB, uma progressão de 127 mil euros relativamente a 2010.

Já na aquicultura verificaram-se 454 (mais cinco) empresas e 933 (mais 216) colaboradores, com 18 milhões de euros de VAB, mais 5,7 milhões de euros.

No âmbito do Fundo Azul, que tem por objetivo o desenvolvimento da economia do mar e a investigação, o setor das algas já viu aprovados oito projetos com 2,3 milhões de euros de financiamento.

Por sua vez, o Programa de Crescimento Azul (EEA Grants 2014-2021), que pretende aumentar a criação de valor e o crescimento da economia azul, já aprovou cinco projetos deste setor com um valor de financiamento de 2,2 milhões de euros.

Através do Portugal 2020, registaram-se, até ao final do ano passado, 74 operações financiadas, correspondente a um investimento total de 59 milhões de euros e 35 milhões de euros de fundos aprovados (FEDER — Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e o FEAMP — Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas).

Em Portugal, as algas são vendidas, sobretudo, desidratadas para a alimentação, mas também são utilizadas para conservas ou misturadas com sal.

Estes produtos são ainda utilizados na cosmética, produção de agar e na indústria farmacêutica.