“A 13 de outubro, o Governo da Zâmbia emitiu um comunicado segundo o qual disse que seria incapaz de fazer pagamentos relativamente às obrigações financeiras externas devido a pressões de liquidez que foram criadas pela pandemia”, dizem os analistas da S&P na nota que acompanha a decisão de colocar o ‘rating’ do país em ‘Default Seletivo’.
“A S&P desceu hoje o ‘rating’ do crédito soberano em moeda externa de longo e curto prazo para SD (Selective Default, no original em inglês) e, ao mesmo tempo, manteve o nível de CCC- para os ratings relativos às emissões de dívida em moeda local”, anunciam os analistas da agência de notação financeira.
Com a decisão de colocar a Zâmbia em ‘default’, este país africano que faz fronteira com Angola e Moçambique torna-se o primeiro a entrar em incumprimento devido ao aumento da despesa pública para combater a pandemia de covid-19 e, simultaneamente, à descida do preço das matérias-primas e da procura mundial.
Na semana passada, o Governo falhou o pagamento de uma prestação de 42,5 milhões de dólares, cerca de 35 milhões de euros, relativa à emissão de mil milhões de dólares (843 milhões de euros) que vence em 2024, já depois de ter pedido aos credores privados para suspender os pagamentos durante seis meses, ou seja, uma reestruturação da dívida privada.
“A declaração de 13 de outubro [na qual afirmava que não iria pagar a prestação] segue-se a um anúncio anterior de solicitação de consentimento, na qual pedia efetivamente aos detentores de títulos de dívida que concordassem num congelamento dos pagamentos de dívida durante seis meses”, escrevem os analistas, afirmando: “Vemos este pedido aos detentores de títulos de dívida como uma oferta problemática ao abrigo da nossa metodologia”, que implica uma descida no ‘rating’ para ‘default’.
A S&P antevê que a Zâmbia vá continuar em ‘default’ durante os próximos seis meses, período em que vai tentar completar uma reestruturação mais ampla, mas alerta que independentemente do resultado dessas negociações, “a qualidade de crédito geral é constrangida por fatores estruturais, incluindo pouca riqueza, grandes défices orçamentais e um elevado peso da dívida”.
A S&P estima que a economia da Zâmbia tenha um crescimento negativo de 4% este ano, recuperando para uma expansão de 2% em 2021, e que o rácio da dívida pública face ao PIB suba de 85,9%, em 2019, para 106,1% este ano.
África passou hoje os 40 mil mortos (40.222) devido à covid-19, tendo registado nas últimas 24 horas mais 9.800 infeções, para um total de 1.664.212 casos, segundo os últimos dados relativos à pandemia no continente.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nas últimas 24 horas o número de recuperados nos 55 Estados-membros da organização foi de 9.672, para um total de 1.372.778 desde o início da pandemia.
O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 40,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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